No primeiro sábado do mês fui a Lamego a um concerto. No final, fui matar saudades de dois dos meus músicos preferidos e conversei um bocadinho com eles. Um deles perguntou-me como é que estava a minha vida. Contei-lhe uma parte daquilo que têm sido os dois últimos meses (o resto são pormenores que eles não têm de saber assim…) e expliquei a minha situação no trabalho. Já expliquei tantas vezes o que aconteceu para ter deixado de trabalhar e, ainda assim, parece que nunca estou preparada para o fazer. Tenho sempre algum receio da resposta das pessoas porque acho que nem todos compreendem e, ao não compreenderem, dizem-me coisas que magoam e que me fazem sentir realmente mal.
Mas voltando à conversa com os músicos. Talvez por serem músicos e, por isso, terem uma situação profissional diferente e uma forma nem sempre tão fechada de ver o mundo, gosto mesmo de conversar com eles. Expliquei-lhes tudo. Falei-lhes de sentimentos que não tinha realmente mencionado a mais do que uma ou duas pessoas e, no final, um deles, que eu nem tinha a certeza de estar a ouvir-me, realmente disse algo que muda tudo na vida de qualquer pessoa: se é para te sentires assim, não vale a pena. Talvez tenha soado de forma mais forte por vir de quem veio, de forma totalmente inesperada. E acho que esta é a diferença entre as pessoas. Se uns não compreendem, outros fazem-no de uma forma sobrenatural.
Digo que quero ser jornalista desde o 7.º ano. Não sabia nada da vida nem do jornalismo no 7.º ano. Nem no 10.º, nem sequer no 1.º ano de faculdade. Mas desde o 1.º ano de faculdade que sei que o jornalismo só não me chega. Nunca chegou e acredito que nunca o conseguirá fazer. Sempre soube que, depois da licenciatura, queria prosseguir estudos em áreas diferentes. E quero. Sei perfeitamente a pós-graduação que quero fazer e o mestrado também. Nenhum deles é semelhante ao curso de jornalismo e, entre si, são completamente diferentes. Somos seres tão complexos, com tantas paixões, o que nos leva a acreditar que só uma coisa nos pode fazer felizes para a vida? Tinha o sonho de estudar jornalismo e estudei. Mas sempre fiz questão de seguir os caminhos que me pareciam correctos.
Mesmo agora, quando dou por mim a pensar que posso ter perdido um ano que poderia estar a gastar a estudar ou a fazer outra coisa qualquer, sei que não é bem assim. Vejo pessoas criticar quem, depois do curso, não vai logo trabalhar ou não avança logo nos estudos. Eu acho que nem todos somos abençoados ao ponto de saber sempre o que é certo, de acertar sempre nos caminhos, de encontrarmos à primeira o nosso emprego ideal. É tão fácil criticar decisões, julgar algo que não se conhece. É demasiado fácil. Por que raio havemos de estar a atirar feijões ao ar, à espera de que um deles acerte em cheio no buraco em que queremos que acerte?
Só há uma pessoa que presenciou realmente o que aquelas 6 semanas de trabalho me fizeram. Eu sei que quero voltar a estudar mas não sei quando o poderei fazer. Sei que quero trabalhar mas, para vos ser sincera, não procuro anúncios há algum tempo. Sim, estou em casa, a dedicar-me a fazer coisas para mim, para o meu blog, para uma carreira que um dia espero ter. Uns dirão que estou sentada à espera de que aconteça algo, outros saberão que estou a tentar colocar os dois pés num chão que me foi tirado. Deixem-me aproveitar o fim deste ano horroroso que foi 2016, mesmo que eu saiba que não o vou fazer.
Não venho aqui queixar-me do caminho que escolhi nem de como estou encalhada agora. Não. Mas acho que estava na hora de alguém dizer que os caminhos dos outros só dizem respeito a eles mesmos. Que ninguém imagina as lutas internas de cada um. Que se alguém está perdido a melhor forma de ajudar não é acharem que o que vocês procuram é o ideal para os outros. Que se calhar a pessoa que acham que está a ser inútil, sentada o dia todo num sofá confortável, enquanto vocês trabalham 8h, não está a ser assim tão inútil e não espera que nada lhe caia aos pés. Que aos 22 anos o mundo ainda não tem de estar completamente definido para nós. Que, muito sinceramente, às vezes não é preciso dizer nada, que nem sempre nos vão compreender. Mas há sempre alguém que tem as palavras certas. E nós devíamos parar mais vezes para nos ouvirmos e para ouvirmos as palavras certas.
Não cedam a pressões; não vão meter-se no primeiro trabalho que vos aparece só para calarem alguém quando sabem que não é aquilo que querem; não fiquem num trabalho que vos dá vontade de faltar todos os dias, que vos faz sentir na merda, que vos tira a paciência, o chão, a vontade de fazer o que quer que seja, que vos faz perder o norte. Não se obriguem a seguir os outros, não se fechem na caixa imposta por alguém. Se é para serem infelizes, para baterem no fundo (e depois novamente no fundo), para chorarem todas as noites, para amaldiçoarem todas as manhãs, para odiarem o que fazem, para só terem vontade de mandar tudo à vossa volta para certos sítios, se é para fazerem algo que não vos deixa um brilho nos olhos, o maior sorriso desta vida e um agradecimento do tamanho do mundo… Se é para te sentires assim, não vale a pena. Grazie!
Se há algo que eu sempre defendi é que devemos seguir os nossos sonhos e aquilo que gostamos. Eu fui para Artes, contra todas as opiniões más que ouvi quanto a isso. Segui para Multimédia na universidade, contra todas as opiniões de que isso não dava emprego. Acabou, procurei trabalho, encontrei um estágio +/- na área e… foram os 9 meses mais horríveis da minha vida. Piorei da minha doença, stressei-me, chorei baba e ranho, queria todos os dias desistir daquilo, mas eu precisava do dinheiro e aguentei até ao fim. Estive 2 meses em casa e, acredita, eu percebo-te. Desde bocas de "não há meio de encontrares trabalho?" e de "não deves querer fazer nada" até bocas de "não sei que raio de curso é que tiraste que não serve para nada".
É óbvio que nestas alturas colocas em causa aquilo que és, aquilo que fizeste até hoje, aquilo que queres fazer ou não. Mas as pessoas são assim e não há nada que possam mudar: a vida dos outros vai ser sempre motivo de conversa e eles têm sempre opinião a dar, mesmo que não conheçam o outro verdadeiramente. E nisto os pais também entram. Não somos os mesmos com eles, nem com os nossos amigos, nem com o nosso amor, nem no nosso trabalho.
Realmente o que te disseram foi o que o meu médico da acupunctura me disse: se te faz mal, se não te sentes bem lá, vai embora. E eu fui. Felizmente agora arranjei um trabalho que me preenche, embora não seja totalmente na área, mas é um bom emprego, com uma boa equipa e onde faço coisas que gosto. Se é o que eu queria? Não, nunca, e fazem o favor de me esfregar isso na cara todos os dias… mas eu continuo a afincar o pé 😀
Pensa bem no que gostas, avalia os prós e contras para ti e vai com tudo. É o único conselho que te posso dar, Sofia ^^
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