Vi o Manchester by the Sea na manhã a seguir aos Oscars. Ainda não tinha sequer visto a cerimónia completa, não sabia quem tinha vencido, nadinha. Só depois de ver o filme fiquei a par de tudo. E foi quando comecei a ver alguns comentários sobre o Óscar de Melhor Actor ter ido para o Casey Affleck. Ora, que me lembre, só conheço o Casey Affleck do Good Will Hunting*. Não sei nada da vida dele. Sinceramente, acho que, antes desta temporada de filmes, se visse a cara dele não o reconhecia. Por isso, li alguns comentários que não compreendi. Qual é o problema de ele ter ganho o Óscar?, pensei eu. Não tinha visto os Golden Globes, por isso estava totalmente de fora da história.
Deixem-me explicar: eu tinha acabado de ver o Manchester by the Sea. E gostei do filme. No final, fiquei com a impressão de que aquele é exactamente o tipo de filme que via o Matt Damon fazer (e eu adoro o Matt!). No entanto o Matt só o produziu e o papel principal, de Lee Chandler, foi para o Casey Affleck. Dos filmes com nomeações na categoria de Melhor Actor só vi o La La Land e acho que o Casey Affleck foi melhor actor do que o Ryan Gosling, dentro do género de cada um dos filmes. Ora, eu gostei do Manchester by the Sea e gostei da prestação do Casey Aflleck. Só fiquei realmente com ideia de que aquela personagem tinha muito na cabeça, muito com que se preocupar, muito com que sofrer.
É um filme depressivo, admito, daqueles que nos deixam incomodados do princípio ao fim. E sinceramente só quem nunca teve de lidar com uma depressão a sério pode relativizar o filme ou achar que é exagerado. O filme é realmente bom e a prestação do Casey Affleck não fica aquém. Não acho que tenhamos sempre de ter finais felizes (eu gostei do twist no final do La La Land, processem-me!) porque a vida não é assim. Repito: isto foi (e é) a minha opinião sobre o filme. Mantém-se, sim. Não deixa de ser um filme incrível só porque é estrelado por um alegado filho da **** que, por sinal, fez um papel do caraças no filme.
Ora, sem perceber o porquê de haver problemas em ele receber o Óscar, fui informar-me. E fiquei em choque. Puro choque. Ao que parece, em 2010, o Casey Affleck foi acusado de tentativa de violação e assédio sexual por duas colegas, algo que terá acontecido durante as gravações de um filme. O processo acabou por se resolver fora dos tribunais. Realmente, um ser humano desprezível pode ser um profissional exemplar.
Se merece ou não o prémio não sei: não vi os outros filmes. Trata-se de premiar prestações em filmes, não prestações na vida real. E alguns comentários mostram-me que há gente que não pensa assim, mas depois ninguém diz nada quando sai um novo filme do Woody Allen, quando Mel Gibson está nomeado para um Óscar (estava!), quando o Chris Brown apresenta um trabalho novo. Eu vi pessoas criticarem o prémio dado ao Casey Affleck por ele ter, alegadamente, tentado abusar de duas colegas. Curiosamente lembro-me dessas pessoas terem celebrado a vinda do Chris Brown a Portugal, porque é um músico excelente, diziam. Dualidade de critérios?
Calma!
Não estou a dizer que devemos premiar gente desta. Não estou mesmo! Mas acho que há que saber reconhecer que
bons profissionais podem ser pessoas de merda e que
boas pessoas podem ser profissionais de merda. A verdade é esta. E nada perdoa a alegada atitude do Casey Affleck. É uma atitude nojenta, horrível e desrespeitosa: seja praticada por quem quer que seja. O Casey Affleck continua a negar as alegações. O caso resolveu-se fora de tribunais com um acordo milionário. Se ele é boa pessoa? Pode não ser. Se foi bom actor? Sim, foi. O que eu quero dizer com isto é que dizerem que ele não merece o Óscar pela pessoa que é não é justo. Não foi um Óscar de Melhor Pessoa; foi um Óscar de Melhor Actor. Eu continuo a gostar da prestação dele no
Manchester. Só acho que é um ser humano desprezível por aquilo que terá tentado fazer.
Não, não devemos favorecer abusadores. Mas não é a aceitar acordos sem ir a tribunal que isso vai mudar. É uma pena, que é, que gente com talento tenha, depois, comportamentos horríveis. E fico-me por aqui.
Since Affleck settled, the public will never know if he is truly guilty of harassing two female subordinates. Perhaps White and Gorka were just saying whatever they wanted about him, at the risk of their own careers and personal lives. If they were telling the truth about Affleck and his behavior, however, Affleck is not who he says he is. His behavior, as described in their complaints, is not the behavior of a humble actor uncomfortable with fame. It is the behavior of someone who uses his own power and privilege to take what he wants from women.
[…]
Affleck will likely have a long, storied career like Woody Allen’s, and industry publications will never force him to answer for his actions like they did Nate Parker. Parker’s Oscar hopes for The Birth of a Nation were quashed earlier this year when outlets began asking him about the fact that he was acquitted of campus rape in 1999. Affleck has all the privilege and protection that Parker did not, which is why, although their cases are not completely analogous, their Oscar journeys have played out so differently. Parker’s career is likely over, while Affleck’s is on the rise.
Sobre o Manchester by the Sea
Título Original: Manchester by the Sea
Elenco: Casey Affleck, Lucas Hedges, Michelle Williams,
Realizador: Kenneth Lonergan
Ano: 2016
Nota IMDB: 8/10
Nota ASW: 8/10
* Vejam lá que nem me lembrei dele na saga Ocean’s nem nos dois primeiros filmes de American Pie, os únicos que vi.
O uso dos termos alegado e alegadamente, assim como verbos no futuro composto devem-se a um princípio de Jornalismo simples: o actor não foi julgado e declara-se inocente pelo que sempre que nos referimos àquilo que terá feito não devemos referirmos como algo que aconteceu realmente para como algo que terá, alegadamente, acontecido. Manias de quem estudou para jornalista.
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Clap Clap Clap!!!
Sofia, concordo a 100% contigo, sem tirar nem pôr. E depois não pode haver dois pesos e duas medidas. Uma filha do Woody Allen também o acusou de a violar quando era criança, mas disso não se fala, porque é o Woody Allen. Descobri recentemente que uma das minhas escritoras favoritas (falecida há mais de 15 anos), abusava sexualmente da filha, mas disso também ninguém fala, talvez também por ser mulher. Parece que hoje em dia só se demonizam os homens. Não pode haver dois pesos e duas medidas, na minha opinião.
Eu acho refrescante que tenhas escrito o que escreveste, porque me parece que está toda a gente a ir pelo caminho que acha que é o politicamente correcto. Tornou-se um faux pas admitir que se consegue separar o talento artístico do carácter e da personalidade dos artistas.
O Casey Affleck pode ter feito o que fez, mas isso não tem nada a ver com a prestação dele enquanto actor. Uma coisa é o trabalho, outra a vida pessoal.
Então se eu for uma pessoa terrível, mas boa no meu trabalho, com um desempenho exemplar, não mereço um salário e prémios da empresa pelo meu trabalho? Há que separar as coisas. Só não sabem o que sou ou deixo de ser na minha vida privada porque não sou uma celebridade. 😛
Não percebo como é que este post pode ser considerado polémico… Só retrata a realidade, pura e simplesmente!
Concordo contigo em todos os aspetos: gostei do filme, gostei da prestação do ator e é verdade que devemos separar a vida pessoal da vida profissional. Se foi merecido, também não sei porque não vi todos os outros filmes 🙂
Let me Believe
concordo taaaaaal e qual contigo!! ainda nao vi o filme por isso n posso falar da actuaçao, mas paree m ser excelente, mas fiquei parva quando omecei a ver so cenas sobre isso..
pralem de serem so alegacoes, estao a premiar a prestaçao dele e nao como pessoa. eeee pralem de que ja houve casos beem piores, tipo o realizador roman polanski q violou uma miuda de 13 anos e no entanto "omg, grandes filmes, q ralizador blabla" lol really
e essa do chris brown tb..enfim. tristeza.
https://rrriotdontdiet.blogspot.pt/
Concordo com o que dizes, ele teve uma ótima prestação no filme, sendo ou não a pessoa que dizem fora do ecrã, mereceu.