O tempo é uma coisa engraçada. No outro dia não conseguia deixar de me rir enquanto pensava no que o tempo me fez, no que fez à minha vida. Não acho que o tempo cure tudo: há dores que vão sendo apaziguadas, mas que ficam sempre. No entanto, o tempo dá-nos perspectiva, mostra-nos que há coisas que passam realmente à medida que o tempo vai também passando.
O último mês da minha licenciatura foi um caos psicológico. Lidei muito mal com a perspectiva de futuro sem muitas pessoas. Não conseguia imaginar-me sem aquelas pessoas, não conseguia aceitar que ia mesmo ter de me despedir delas. Não era o problema de sair da ESCS porque, com ou sem luz, a ESCS está lá e eu posso lá ir quando me apetecer. O problema era mesmo sentir que ia perder muitas pessoas. Não lido bem com despedidas.
Na última semana de aulas, de madrugada, dei por mim a confessar a uma dessas pessoas (aquela de quem custava mais despedir-me) os efeitos de tudo aquilo por que estávamos a passar. Ele disse-me, com aquela descontracção que faz rir uma pessoa no meio de um ataque de ansiedade: 80% das pessoas da ESCS vão sair da tua vida. Que querido, não é? Eu a lidar mal com tudo e ele a dizer-me a verdade nua e crua! Na realidade, isto foi o que me fez não me despedir dele em nenhuma ocasião. Nunca lhe disse um adeus disfarçado de nunca mais nos voltamos a ver.
Depois de um Verão de muitas questões, quando soube que ia sair de Lisboa por uns tempos soube também que deixava em Lisboa pessoas que nunca mais voltariam à minha vida. Hoje sei quem são as pessoas que, por me terem novamente em Lisboa, têm interesse em me ver, em meter a conversa em dia, em beber um cafézinho comigo. Sabem quantas pessoas já demonstraram interesse em ir tomar café comigo? Nem imaginam o número reduzido! No entanto, sempre que precisaram de alguma coisa da minha parte eram as primeiras a ligar ou a mandar mensagens.
Não saíram 80% das pessoas; saíram mais. Posso dizer-vos que a morte da minha cadela e as semanas que se seguiram tiveram um impacto grande naquilo que vou dizer-vos agora (e que disse no Twitter há uns dias): em pouco tempo deixei de me importar com muita gente que costumava ser importante na minha vida. Mas elas também deixaram de se importar comigo, por isso acho que estamos quites.
O tempo é uma coisa engraçada. Aquilo que me fez chorar, aquela sensação de perda, agora dá-me vontade de rir. Se querem um conselho (mesmo que não queiram): aproveitem as coisas enquanto elas parecem garantidas. Sintam as coisas, vivam no momento. Mas lembrem-se: o que hoje parece uma ferida aberta, amanhã começa a cicatrizar… e quando damos conta é uma marca pequenina, tão pequenina que deixamos de reparar nela até que alguém nos pergunta como a fizemos. Aí, rimos e dizemos sabes, é uma história engraçada! O tempo é uma história engraçada. E as pessoas vão e vêm, já dizia ele.
Por acaso, sempre estive bastante consciente de quais eram as pessoas que eu ia levar "para a vida" e aquelas que, sim, foram incríveis, mas vão para sempre viver apenas em memórias de faculdade. Se calhar é porque, ao longo dos anos académicos, as pessoas com quem me liguei iam ficando para trás ou porque são de outros cursos (afinal de contas, eu fui a primeira, dos meus amigos de curso, a terminar a licenciatura e tanto o meu namorado como o meu padrinho são de cursos diferentes) e eu acabei por perceber quais eram aqueles que, independentemente da distância e da rotina, iam funcionar e quais é que se iam perder no caminho. São amigos extraordinários e já nos habituámos a ter de contornar as rotinas e os acasos da vida para estarmos juntos.
Há muita gente que ficou para trás e de quem ainda nutro carinho. Espero que estejam bem, felizes e realizados, mas sempre soube que era uma relação que só funcionava porque estávamos obrigatoriamente juntos todos os dias e faz parte, é normal. Até no meu estágio, com quem eu criei laços com todas as minhas colegas, só umas três é que mantém contacto comigo, mas é natural. Não criei expectativas, nesse sentido. As minhas previsões, felizmente, estavam certas 🙂
As despedidas são difíceis, horríveis até. Perder aquelas pessoas que estão sempre presentes (quase) todos os dias é doloroso. Mas o tempo ajuda, como disseste não cura. O tempo ensina a lidar e aceitar as coisas, a olhá-las de maneira diferente e conseguir sorrir e até encontrar novos caminhos. Podes ter perdido mais de 80%, mas de certeza que os que ficaram são os melhores que poderias ter 😉
Como eu concordo com as tuas palavras!! De todas as minhas amizades que fiz até agora, acho que posso afirmar com certeza que, nem 80% dessas amizades tenho hoje em dia e durante algum tempo sinceramente pensei que isso fosse horrível ou que o problema é meu mas agora percebo que só faz falta quem está e que quem não está é porque não é suposto estar! Tudo acontece por um razão e as pessoas aparecem na nossa vida por algum motivo, ou para nos dar uma lição ou para ficar connosco até ao fim!
Beijinhos!!
Black Rainbow / Instagram
Olha, mas que texto certeiro! Posso ainda não ter terminado a faculdade, mas já passei pelo secundário, pelo básico e pela primária, portanto, compreendo perfeitamente o teu ponto de vista. O mais engraçado é quando nos julgam muito frias, após tanto tempo sem nos ver, e do outro lado, quando os nossos amigos se riem dos comentários dos outros, apercebemo-nos quem é que veio para ficar. Eu, pelo menos, sei quem é que quero e vou preservar na vida, e mesmo nutrindo um carinho super especial pelos meus colegas da faculdade, e por muito que me custe saber que muitos hão de ficar por aí, é apenas uma realidade que tenho de aceitar!
LYNE