Não sei se já escreveram um livro, mas, quando escrevemos um livro, é inevitável chegar à última página. Pelo menos quando não desistimos do livro e o escrevemos realmente até ao fim. Quando nos aproximamos dessa última página normalmente já sabemos o ponto a que estamos a chegar: o final. Chegar à última página de um livro dá-nos um misto de felicidade e tristeza, de vontade de celebrar e de vontade de não terminar aquela história, de não deixar aquelas personagens ficar por ali. Claro que, por mais que sejamos os Reis da Procrastinação, acabamos por colocar aquele último ponto final e darmos por nós com um livro pronto. Podemos ler o que escrevemos algumas vezes, fazer algumas alterações e tudo isso, mas nenhum momento se iguala ao de terminarmos o rascunho do nosso livro. Para mim, a melhor parte é mesmo a de terminar o livro e ficar com aquela sensação de dever cumprido e de orgulho por aquilo que criámos. É um bocadinho (muito pequeno) como quando terminamos um trabalho que nos ocupou muito tempo e nos tirou muitas horas de sono.
Em contrapartida, a sensação de desilusão quando percebemos que não estamos a conseguir avançar num livro e – pior! – quando o deixamos por terminar é das piores. É por isso que não pergunto a quem escreve quando é que vai publicar outro livro. Já o fiz e só depois de me perguntarem o mesmo dezenas e dezenas e dezenas de vezes percebi o quanto isso é sufocante para quem escreve. Nunca sabemos os motivos pelos quais essa pessoa não publicou mais livros: pode ser um bloqueio criativo, pode ser um bloqueio emocional, pode ser falta de interesse de editoras, pode ser tanta coisa. Só depois de muitas dezenas de então para quando outro livro? percebi o porquê de odiar este tipo de perguntas. São perguntas que fazem um escritor bloqueado sentir-se ainda pior, fazem-no sentir-se mais desiludido e muitas vezes dão direito a respostas mais ríspidas, que só querem mesmo dizer porra, dêem-me tempo!
Depois de muito me irritar comigo e com as perguntas dos outros, aprendi que as perguntas não vão parar e que a única resposta possível é mesmo logo se vê. É muito vaga, eu sei, mas é o melhor que consigo. Porque aquilo que as pessoas não sabem é que eu começo livros e não os termino. Eu tento escrever e acabo por os deixar a meio. Eu penso que tenho uma ideia boa e depois não consigo passar daí. Eu quero escrever, mas às vezes acho que já não sei escrever, acho que já não sei criar ficção, acho que nunca mais vou conseguir fazê-lo. E rio-me porque achava, há quatro anos, que por esta altura já teria um livro escrito. E brinco e digo que em 2030 devo publicar outro, mas escondo que duvido um bocadinho disso porque, sinceramente, às vezes acho mesmo que já não sei escrever. E noutras vezes acho que vou mesmo terminar aquele livro e que nunca escrevi nada tão bom.
E enquanto os livros começam e não acabam e as perguntas se multiplicam, sei o que preciso de fazer para que os livros comecem e acabem, como já aconteceu. Só não sei quando vou conseguir fazê-lo, quando vou sentir que é agora. E se há dias em que acho que já não sei escrever, há outros em que tenho a certeza de que é desta. Se querem escrever um livro e sentem que nunca o conseguem terminar: não desesperem. Se for mesmo para escreverem esse livro vão conseguir fazê-lo, demore o tempo que demorar. Confiem em mim. Se em 2018 vai haver novo livro? Logo se vê.
É isso mesmo, há dias melhores outros piores, mas de certeza que um dia chegas ao fim e quando esse dia chegar, avisa aqui a malta.
Muita sorte e força 🙂
Escrever sempre fez parte da minha vida, não me lembro de uma altura em que não desejasse colocar o último ponto final de que falaste, mas encontro os mesmos obstáculos que tu.
Ter confiança na nossa escrita é difícil. Por mais que nos digam que conseguimos, que temos "a veia", etc., etc., a nossa opinião sobre nós mesmos não é assim tão mutável. Se sabe bem ouvir os elogios? Sabe. Sabe ao gelado mais doce, mas é complicado largar o prefecionismo, largar o sentido crítico demasiado forte e simplesmente escrever.
Debato-me com isso neste exato momento.
É preciso fazer uma pausa, arejar as ideias. Às vezes sinto que não vale a pena pegar mais na caneta e no papel, a verdade é que há-de acontecer, neste projeto ou no outro, porque inseguranças à parte, o amor pela escrita há-de fazer-nos ver que o importante é acabar, depois disso logo se vê.
Xiá
https://thecoffeecupblog.blogspot.pt/
Nunca publiquei livros como tu, mas acredita que tanto como tu, recebo muitas perguntas do género. O que é bastante engraçado porque muitas das pessoas que a fazem, só leram meia dúzia de coisas que escrevo e, com base nisso, criam elas uma expectativa inesperada. Provavelmente a minha situação não seja tão hardcore quanto a tua, afinal, existem muitas mais expectativas em relação a ti, no entanto, acredito que todo esse alarido advenha de uma curiosidade, da vontade que as pessoas têm de possuírem mais histórias tuas na estante.
Tal como dizes, é bastante chato, afinal, existem mil e uma razões para não estarmos a produzir conteúdo, contudo, acredito que mais cedo ou mais tarde, tu, Senhora Dona Sofia Costa Lima, terás esse livro terminado e prestes a publicar! Acredito bastante em ti e no teu trabalho, e embora o tenha deixado de o fazer por saber que te chateia, aguardarei ansiosamente por mais um dos teus "filhos"! ♥
Beijinhos,
LYNE