A minha primeira memória da Maria Sharapova é de Abril ou Maio de 2005. A Maria fez 18 anos em Abril e numa revista portuguesa vinham fotos da festa. Lembro-me disto porque adorei o vestido dela e, naquele dia, com dez anos, desejei poder fazer 18 anos numa festa assim e com um vestido igualmente bonito. Depois de todos estes anos ainda me lembro perfeitamente do vestido, sem precisar de o pesquisar. Hoje não me parece tão espectacular como há doze anos, mas nunca o esqueci.
Não a acompanhei de forma fiel ao longo de todos estes anos, mas lembro-me perfeitamente dos Grand Slams e dos Jogos Olímpicos. Sempre gostei dela… até ao dia em que ela diz que fez um teste de
dopping e que o resultado foi positivo. Senti-me um bocadinho
traída e confesso que demorei a perdoar. Eventualmente, passou-me. Já estava meio mundo a falar sobre ela, por isso não valia a pena fazer parte desse grupo, e as perspectivas não eram as melhores, pelo que comecei a imaginar o cenário em que ela terminava a carreira e
oh-meu-deus como seria o mundo do ténis sem Sharapova?
I’ve often asked myself: Why write a book? In part,
it’s to tell my story, and it’s also to understand it. (…)
It’s my life and I want to tell it.
Aos 30 anos, depois de ter estado parada durante 15 meses, a Masha decidiu que era altura de publicar o seu primeiro livro, um livro de memórias. Inicialmente, este livro deveria ter saído antes, há um ano, depois do US Open, que seria a última competição da carreira de Sharapova. Não tivesse havido uma suspensão e Sharapova poderia ser, agora, uma tenista reformada. Foi assim que nasceu o
Unstoppable: My Life so Far, escrito em parceria com Rich Cohen.
É a história dela. Desde que, aos quatro anos, pegou numa raquete demasiado grande e começou a bater bolas contra uma parede, em Sochi, na Rússia, até ao dia em que o pai decidiu ir com ela para os Estados Unidos, para que ela tivesse hipóteses de evoluir, mesmo sem saber falar inglês e com dificuldades de adaptação, e tudo aquilo que veio daí. Para mim, a parte mais interessante da história não está aqui. Claro que é fascinante pensar em como Sharapova e o pai, Yuri, sozinhos, foram parar à Florida, enquanto a mãe ficou na Rússia, tudo porque Yuri acreditava que a filha ia ser a melhor tenista do mundo. Mas o mais fascinante é conseguir perceber, ao longo de todo o livro, o quanto Masha é competitiva. Ela está sempre a dizê-lo, é certo, mas está completamente espelhado nestas páginas. Desde vestir as roupas velhas da Anna Kournikova (e detestar) até ao primeiro momento em que as irmãs Williams, em especial a Serena, claro, se tornaram as suas arqui-inimigas do ténis.
The more I heard about them, the more determined
I became not to be beaten down, or submit.
That’s when the rivarly [com as Williams] began for me.
A postura de Sharapova em court sempre foi algo de que gostei. Não pelos gritos, mas porque ela está ali concentrada e aquilo para ela é uma questão de trabalho, não há amigos. Compreender isto sobre ela é compreender muito da postura dela, algo sobre o qual ela fala várias vezes no livro: I just don’t buy that locker-room small talk. It feels forced. Fake. A certo ponto, no entanto, sinto que a forma como ela fala da Serena já não é só por ela achar impossível travar amizades no mundo do ténis. A competitividade da Maria atinge o auge quando o assunto é Serena e acredito que elas sejam mais parecidas uma com a outra do que possa parecer à primeira vista, o que certamente motiva a rivalidade.
I assume, when I stop playing, that everyone will be able to forgive me
and that I will be able to forgive everyone,
but as long as I am in the game, I need that intensity.
It’s never really personal. It’s never really about the other girl.
It’s fuel. I need it to win.
Achei o livro curto, talvez porque a Maria nunca aprofunda muito algumas coisas e porque resume realmente os torneios de que fala. É, por isso, uma leitura rápida, agradável, mesmo sem ser a leitura mais acessível em inglês. Senti que, para ser mais completo, as fotografias deveriam vir nos capítulos. Há várias ocasiões em que é dito algo do género acho que há uma fotografia e, nesses casos, era mesmo bom ter ali a fotografia. Tal como algumas das fotografias poderiam estar nas páginas respectivas. Por falar em fotografias: há uma selfie fofinha com o Dimitrov e é sempre agradável ver o Grigor, am I right?
E já que falamos no incrível maravilhoso espectacular Grigor Dimitrov, há, claro, uma parte sobre o Grigor, assim como uma parte (menos intensa) sobre o Sasha Vujacic, de quem esteve noiva, e há a confissão da crush de adolescência: o tenista espanhol Juan Carlos Ferrero. Yap, a Sharapova teve uma paixão por ele, daquelas crushes adolescentes que todos temos. E, neste caso, quem não teria uma crush pelo fofinho do Ferrero? Claro que as palavras mais sentimentais são mesmo sobre o Grigor.
Grigor has been called the next Roger Federer, the next this, the next that. (…)
He has so much potential. He has beautiful strokes.
The way he hits the ball, then slides, even on hard courts, is inspiring.
He can do amazing things with his body. It’s a gift and also a curse.
It’s gotten in his way, this need not only to win
but to look beautiful doing it. It has to be perfect or he doesn’t want it at all.
It has to be unbelievable or forget it. That’s why he’s yet to fulfill all that potential.
No fundo, acho que nem no livro a Sharapova deixou cair por completo aquela ideia de que é durona, tough. E é isso que sempre me fez admirá-la: aquela postura de quem agora caiu, mas amanhã pode levantar-se como se nada fosse. Claro que nem sempre é assim, mas acho que, em parte, podemos aprender algumas coisas com a Maria. Mesmo com toda a polémica sobre o caso de dopping negligente, a Sharapova venceu realmente 5 grand slams e foi medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 2012. É impossível esquecer isso ou fingir que ela não é uma campeã. Este não é um livro campeão, não é a melhor biografia do mundo, mas vale a pena. Principalmente para quem acompanha a carreira da Sharapova.
I act tough and cool in the world, because the world can hurt you,
then I call my mom and burst into tears.
Unstoppable: My Life So Far
Autor: Maria Sharapova
Ano: Setembro 2017
Edição: 1.ª edição (versão Kindle)
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Um livro que eu adoraria ler, sem dúvida alguma.
Beijinhos 🙂
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