Se vos dissesse quantas vezes comecei a escrever esta publicação, provavelmente achariam que eu não estava muito bem. Afinal, escrevi umas boas quinze linhas e depois apaguei. Um, duas, três, quatro… sete vezes. Não escrevi quinze linhas em todas as vezes, mas escrevi sete textos e apaguei-os todos. Não sabia o que queria desta publicação, só sabia as fotografias que queria mostrar. Quando deixei de o tentar escrever, percebi exactamente o que queria desta publicação e como iria organizá-la para que fizesse sentido.
Prefiro fotografar os outros a ser fotografada. Excluindo pela minha mãe, só me sinto suficientemente à vontade para ser fotografada pelo meu melhor amigo. Curiosamente, foi ele quem me fotografou neste dia, na primeira tarde de Julho. Queríamos ir à Estufa Fria, mas escolhemos mal o dia. O presidente de um certo clube lisboeta que veste verde e branco casou nesse dia e a boda era na Estufa Fria. Quando chegámos, já estava fechada. Podia ter sido uma perda de tempo, mas o jardim em frente à Estufa é um dos lugares mais bonitos de Lisboa e, sinceramente, valeu a pena só por isso.
Mas dizia-vos que prefiro fotografar a ser fotografada. Acho que, de certa forma, tenho medo da forma como as pessoas me vêem. Porque, inevitavelmente, a forma como nos fotografam reflecte um bocadinho a forma como nos vêem. E isso acontece também na forma como fotografamos locais ou coisas. Neste jardim parecia impossível que parecesse feio. Talvez por isso, estas fotografias deixam-me feliz e acho-as realmente bonitas.
Apesar de não ir à Estufa Fria há muitos anos… tantos anos que nem me lembro, sinceramente, de lá ir, vim várias vezes parar a este jardim. Quando ali estou imagino sempre a Somewhere Only We Know a tocar como música de fundo e acredito que o mundo é perfeito e que qualquer coisa ou pessoa fica mil vezes mais bonita se estiver ali. Parece exagero, mas não é. Este é dos poucos lugares onde a palavra perfeição se aplica e ninguém pode ficar ofendido. Ora experimentem lá continuar a ler com a música como banda sonora.
Agora, enquanto colocaram a música, fiquei a pensar que não devia partilhar o local, sob pena de se tornar um lugar comum. Mas o que está feito está feito, não é? E, sinceramente, qual é a piada de descobrir locais bonitos se depois não partilhamos a beleza com os outros?
Para ser totalmente sincera, não quis partilhar estas fotografias por gostar tanto do jardim da Estufa Fria. O motivo é um bocadinho mais egoísta: queria partilhar as fotografias que me tiraram aqui, porque gosto tanto delas e sinto-me tão bonita nelas, que queria mostrar-vos isso, mesmo que já tenha passado meio ano.
Nos últimos tempos, tenho lido muitas coisas sobre amor-próprio, sobre sermos mais felizes connosco, e por isso, quando consigo colocar os (muitos) complexos que tenho de lado e me permito sentir bonita e gostar do que vejo, penso que vale a pena assinalar o momento. Não me sinto bonita todos os dias. Mas ninguém é bonito todos os dias. Hum… talvez o Matt Czuchry? Ou o Jensen Ackles? Bem, o Alex Turner também… Okay, okay! Estou a desviar-me do assunto de tal forma que vou ter de ler tudo outra vez! Ah, sim, ninguém é bonito todos os dias, mas isso não significa que todos os dias tenhamos de nos fazer sentir feios. E olhem que às vezes fazemos isso.
Tenho complexos com as coisas mais ridículas desta vida. Mas nenhuma dessas coisas é a cicatriz gigante que tenho na perna, resultado de uma queimadura de segundo grau quando tinha 5 anos. Também não tenho complexos com as duas cicatrizes no pulso, quando parti o vidro de uma porta e vários vidrinhos caíram no meu pulso. Se não me incomodam as cicatrizes, por que razão me incomodam outras coisas? Por que motivo nos vemos sempre deformados? Como se nos víssemos a um espelho que engorda ou que nos faz parecer um elfo* doméstico velho e cansado…
E eu só vos digo isto porque eu também o faço. Tantas, tantas, tantas vezes. Mas em vez de vos referir cada uma dessas vezes, decidi mostrar-vos as vezes em que me sinto bonita, em que sinto que quem me fotografou gosta de mim porque as fotografias são bonitas e fazem-me sorrir. E eu gosto destas fotografias.
Tal como nos permitimos olhar para os lugares que visitamos e os conseguimos apreciar e considerar bonitos, às vezes temos de fazer o mesmo connosco. Temos de conseguir olhar para nós e ver as características que nos tornam um belo floquinho de neve, único, bonito, suave. Para hoje, acho que o objectivo vai ser este: olharmos para nós e gostarmos do que vemos. Só hoje. Só por um bocadinho. E depois repetimos várias vezes por semana. Só um bocadinho. Cinco minutos, como as aulas do Duolingo. Cinco minutos hoje, cinco amanhã, e depois, e depois. Todos os dias até ficarmos fluentes em amor-próprio. Challenge accepted?
*Se bem que há elfos bem bonitos e fofos. #RIPDobby
Adorei a lição do post e é algo que tenho feito todos os dias: olhar-me ao espelho e aceitar como sou. O local é muito bonito e conheço mmuito bem essa música e sempre que a oiço também a associo a um local, neste caso uma estrada que é uma nacional na Madeira (chamda encumeada)
Por onde anda a Sofia?–Instagram
Ohhh… que texto tão bonito e tão assertivo!
Conheço o jardim mas já não vou há algum tempo, 2 anos talvez. Costumo aproveitar quando vou à feira do livro para por lá passear 🙂
A beleza é sempre muito subjectiva e, quando realmente gostamos de algo ou de alguém, vemos a beleza onde mais ninguém consegue ver 🙂
Obrigada pelo post!
Beijinho
Carla
Primeiro o p.s., gostei imenso da referência aos elfos, mesmo bem feita!
Quanto ao post, foi delicioso ler tal reflexão, porque se nota mesmo o teu bem-estar nas fotos e ficaste tão bonita através dos olhos do teu amigo.
Quem me dera que só o olhar para estas fotos te fizesse sentir instantaneamente bem. Merecias esta paz de espírito que descreves.
Foi mesmo delicioso ler isto. As paisagens, o teu cabelo, a história… magníficos. ?
Não sei como estavam os textos que apagaste, mas este está maravilhoso! Uma verdadeira lição de amor próprio, com fotografias linda 🙂 ( e tu também estás linda). Não acho egoísta quereres partilhar as fotos só por estares bonita, acho que um blog também serve para isso, para documentar os nossos melhores momentos.
Também gosto mais de fotografar os outros do que ser fotografada, embora por motivos diferentes. Nunca sei muito bem o que fazer em frente a uma câmara, acho que não tenho jeito xD.
Beijinhos,
Cherry
Blog: Life of Cherry
Estou a chorar por dentro, Sofia Maria! *clap clap*
Mas que palavras poderosas! Pode parecer um exagero vindo da minha parte, mas a verdade é que sorri MUITO à medida em que me ia aproximando da última palavra do texto! Juro-te, nem sabes o quão feliz me sinto por te ver assim, a celebrar os dias em que te sentes bonitas, pois, apesar de na tua opinião não serem tantos assim, a verdade é que és mesmo muito bonita: tanto por dentro, como por fora, nas palavras que imprimes por aqui, nas fotografias que tiras e nas piadas que fazes. És um belo ser humano e eu quero que te recordes disso SEMPRE! Õ/
YOU GO, GIRL! ♥
LYNE, IMPERIUM
Olhem quem é ela, a minha Sofs bela e… nada amarela, mas tive de rimar, ahah!
Já te disse mil vezes que és uma giraça, mas não vale a pena repetir, até porque és bonita interior e exteriormente e vou começar a chorar se escrever tudo aquilo que vejo em ti e, acima de tudo, aquilo que sinto quando leio as tuas palavras.
Portaaaaaanto, vou limitar-me a dar-te uma palmada virtual no rabiosque (AHAH) e a relembrar-te de que nem todos os dias são feitos de amor-próprio, mas que tens de lutar para te ver tal como és: a Sofs escritora, humilde, talentosa, que tira fotografias incríveis, tem o dom da palavra e, claro, a pessoa com quem tenho conversas deveras… peculiares!
Beijinhos <3
Maria Moreira Rato
Estranha Forma de Ser Jornalista – http://estranhaformadeserjornalista.blogspot.pt/