A minha capa de finalista, com as minhas fitas amarelas, está guardada numa gaveta. Há dois anos, no início do meu último semestre de licenciatura, não imaginava como seria pegar naquela capa e ir colando as minhas fitas, que ia entregar fitas que não iam ser devolvidas, que ia chorar mais a escrever uma única fita do que a ler todas as fitas que recebi, que ia escrever fitas para algumas pessoas, que ia tirar fitas da capa e guardá-las bem longe porque não mereciam estar ali. As fitas que estavam na minha capa no dia da Bênção mudaram. Algumas chegaram atrasadas, mas chegaram. Outras, três, tirei-as. Sejam quais forem, não as tinha voltado a ler até há uns dias. Se sinto o mesmo a lê-las hoje? Não. Passou mais de um ano e meio desde a minha Bênção e mudou muita coisa. Tanta coisa que só ao reler estes pedaços amarelos percebi que tinham mudado.
ALGUMAS FITAS TÊM PRAZO DE VALIDADE
Entreguei poucas fitas, comparado com pessoas que tiveram de as colar dos dois lados da capa. E, ainda assim, entreguei fitas que vinham com mensagens que tinham claramente um prazo de validade curto. Não imaginava prazos de validade tão curtos, mas alguns foram-no. É curioso porque no fundo eu sabia que tinham um prazo de validade, só não imaginava que era tão curto.
80% DAS PESSOAS VÃO SAIR DA TUA VIDA
Bem, talvez não 80%… mas 90%. Claro que, quando mo disseram, eu fiquei com vontade de chorar todas as lágrimas que já não tinha. Mas ele tinha razão. As pessoas saíram e só deixaram mesmo as fitas, com promessas cujo prazo de validade expirou. Parece fatalista dizer isto, mas é óbvio que nem todas as pessoas vão ficar. E ainda bem. Ainda bem! Sim, eu sei que sofri muito no final do curso e que não queria que saíssem, mas guess what? Os motivos pelos quais foram saindo só mostraram que tinham mesmo de ir. Às vezes é melhor assim. Felizmente, também ficaram pessoas e essas valem muito mais do que as que saíram.
A FITA MAIS IMPORTANTE É A QUE ESCREVI A MIM MESMA
Ora, eu sei que nem toda a gente escreve uma fita para si próprio, mas eu escrevi. A pequena fita negra, a única que não é amarela, é a fita que tem as palavras que eu precisava de dizer a mim mesma no final daquele ciclo. E quando a li, sem me recordar do que dizia, não consegui deixar de sorrir. A Sofia de 2016 escreveu sobre a Sofia de 2013 e, sem saber, deu 0,0000000000000000000000000001 de esperança à Sofia de 2018. Não vos digo o que lá está, porque não faz sentido dizer-vos, mas acreditem que é a que tem a mensagem mais importante.
SE SOUBESSE O QUE SEI HOJE… DAVA FITA ÀS MESMAS PESSOAS
Parece estranho? Não é! Entreguei fita às pessoas a quem fazia sentido entregar e a quem, de certa forma, teve algum papel na minha vida durante aqueles três anos. Mesmo que haja fitas que não foram devolvidas, mesmo que haja quem não tenha querido escrever uma fita, mesmo que tenha tirado fitas da capa, mesmo que tenham ultrapassado o prazo de validade, mesmo que as palavras não tenham sido totalmente sinceras… foi uma forma de fechar uma etapa e fazia sentido.
Enquanto relia as minhas fitas quase conseguia ver-me a cortar e colar as fotografias da Dama e da minha bisavó nas respectivas fitas. Quase via as lágrimas que tinha deitado a ler algumas palavras. Quase ri com a ironia de algumas palavras. Quase. Mas não chorei a ler nada. Só sorri. Porque aquelas semanas finais foram a maior montanha russa da minha vida e hoje não passam de uma memória de uma versão de mim que já não existe na totalidade. Mas se pudesse ia buscar algo dessa altura: a esperança no futuro. Faz-me mais falta agora.
Eu sei que nas minhas fitas tenho memórias e pessoas que não as (fitas) mereciam agora. Sei que escrevi a quem não merecia e que me escreveram pessoas que não merecem. E agora, ao reler, sei que já na altura já não mereciam, nem tinham interesse. Mas sabes Sofia, eu não as tirei. Porque fazem parte do que fui. Fazem parte do que sonhei e acreditei nas pessoas e quero ainda acreditar. E eu já sabia que essas pessoas não iam ficar na minha vida. Principalmente depois de mudar de vida! As pessoas gostam de ser boas por tempo limitado e por coisas e motivos limitados. Não amam as pessoas, amam as coisas das pessoas, as marcas das pessoas, as profissões das pessoas. Hoje falo com duas pessoas da minha faculdade e muito esporadicamente. Mas eu fui tão feliz naqueles tempos que não tenho coragem de os apagar. Por mais que já não me sejam nada. Eu fui muito naquela altura. E lá, naquele passado distante, eu fui tanto e tudo! E essas pessoas também o foram para mim. Tudo. Mesmo que agora não sejam nada…
Percebo completamente e concordo. Não o disse no texto, mas as três fitas que tirei estão guardadas junto a objectos vindos das pessoas que as escreveram. Sim, fazem parte do que fui, mas foram pessoas que me fizeram algo que magoou ao ponto de não as querer ter junto das outras fitas – porque por muito que as outras pessoas tenham saído, saíram como é normal na vida. Estas pessoas não saíram normalmente, saíram porque me magoaram de uma forma que nunca conseguirei compreender e não acho que merecem continuar ali. Talvez não faça sentido para mais ninguém, mas para mim faz!
Na minha Universidade não há a tradição das fitas, mas tenho exatamente os mesmos sentimentos a ver fotos antigas dos meus primeiros anos. Muita coisa mudou e muita tem mudado desde que terminou. Acredito que as pessoas aparecem por um motivo nas nossas vidas e quando saem é porwue tem de ser, é uma lição que temos de aprender
Por onde anda a Sofia?–Instagram