Só faltou publicar, porque o texto de despedida foi escrito. No ano passado quase desisti do blog. Não, isto não é clickbait. Estive mesmo prestes a desistir do blog. Não houve um motivo, mas vários. Na semana em que celebrei nove anos de blogosfera e vos falei de nove momentos especiais, achei que fazia sentido finalmente falar-vos de outro momento, um momento mau. Já agora, antes de continuarem, queria pedir-vos que lessem o texto até ao fim antes de tirarem conclusões ou de, eventualmente, decidirem comentar.
Como começou…
Algures nesta altura, no ano passado, comecei a cansar-me da blogosfera. Não do meu blog, mas da blogosfera. Estava a manter um calendário editorial mais ou menos decente, publicava várias vezes por semana, trabalhava muito para ter um blog agradável. Mas comecei a cansar-me dos outros blogs. Não por achar que a blogosfera andava parada, porque já estava (e estou) mais do que habituada a isso, mas porque seguia tantos blogs e nenhum deles parecia deixar-me entusiasmada. Notei que uns perdiam qualidade, outros pareciam repetitivos. E, claro, havia aqueles que só publicavam coisas vazias de conteúdo ou de interesse.
Comecei por me cansar da blogosfera, mas rapidamente esse cansaço atingiu o meu blog. Cansei-me de trabalhar tanto por ele, de gastar tantas horas por dia nele, de sentir que não importava o que eu fazia no blog. E porquê? Porque comecei a comparar.
Estamos sempre a comparar-nos a outros
Esforçava-me para ter conteúdo quase diário, interessante, resultado de muito trabalho. E não tinha nem metade do retorno que via nos blogs que sentia estarem a piorar. Achava que o meu blog era melhor do que muitos com mais seguidores e visitas e, no entanto, quando me apercebi de que havia quem publicasse as coisas mais ridículas do mundo e tivesse mais interacção comecei a achar que, na realidade, o meu blog só podia ser uma bosta.
Pronto, tinha concluído que o meu blog era uma bosta. O que é que podia fazer? Nada. Decidi que ia deitar o calendário editorial para o lixo. E ponderei sobre o meu blog e os outros. Até escrevi sobre isso em Abril. No meio desta crise, só podia fazer realmente uma coisa: continuar a escrever. Escrevi menos, mas continuei a escrever sobre aquilo de que gostava, sem obrigações. No entanto, estava a prever o fim. Na verdade, quando fui ao Bloggers Camp ia sem inspiração, sem vontade de continuar o blog e com cada vez mais certezas em relação ao adeus. Voltei de lá um bocadinho mais motivada, é verdade. Pelo menos já não estava tão certa de que ia escrever uma publicação a dizer que tinha sido tudo muito bom, mas era o fim.
Em Junho não tive muito tempo para me dedicar ao blog, porque estava cheia de trabalhos. Depois veio Julho e além desses trabalhos tinha também férias marcadas e decidi que ia mesmo de férias. Voltei com coisas para escrever, sobre o Porto. Aliás, escrevi lá todos os dias, ao fim do dia. No entanto, no regresso, comecei a sentir falta de uma parte de mim. Talvez já sentisse falta dela há mais tempo, mas agora parecia mais notória: estava a perder a minha voz. Não a de falar, mas a voz com que escrevo.
E então tudo descambou.
Se não tinha a minha voz tinha perdido a minha essência e não tinha realmente nada a dar ao universo. Dramático, eu sei. Mas percebi que o problema não estava só em comparar-me aos outros bloggers. O problema estava em saber que nunca seria como os outros e em me ter perdido pelo caminho. E depois veio o pior, aquilo que me fez colocar toda a minha vida em perspectiva: o Chester morreu.
Nas duas semanas seguintes não conseguia adormecer facilmente e acordava várias vezes. Dava por mim acordada às duas e tal da manhã a pensar se alguém sentiria a minha falta se eu deixasse de escrever. Concluí que não, embora não saiba com base em quê. Depois voltei a colocar tudo em perspectiva. Pensava no Chester, estava sempre a pensar nele. Não queria saber do blog. Que se f*** o blog, sinceramente. Como é que ia recuperar de perder o meu ídolo? Como é que recuperei de perder a minha cadela? Bem, a escrever.
Alinhei no Blog Everyday in August para tentar concentrar algo que parecia partido. Talvez resultasse, talvez não. Foi bom, correu bem. Passei Agosto a fazer o projecto final da minha pós-graduação e a escrever para o blog. Não estava mal. Acabei o projecto. Fiz uma pausa. Escrevi duas publicações que queria muito escrever: a do Estádio do Dragão e a da depressão. E escrevi uma terceira… o adeus. Era para a publicar nos primeiros dias de Outubro.
Agendei aquela publicação e depois fui ler coisas antigas, algumas com vários anos. Ouvi Linkin Park. Tentei dormir. E depois meditei. E percebi onde estava o cerne da minha crise. Percebi onde tinha começado, como tinha começado, porque tinha começado. E percebi como ia acabar.
A obsessão pela comparação
Isto começou porque decidi comparar-me a outras pessoas. Tal como na adolescência me comparava a outras raparigas, que tinham menos mamas ou menos peso ou mais popularidade ou…, estava a comparar-me a bloggers que tinham mais seguidores, mais leitores, menos capacidade de escrita. Comecei a achar que o meu blog devia ter determinados números: de seguidores, de visualizações por dia, por mês e por post, de admiradores, de leitores, de pessoas a dizer que era o favorito. E nessa obsessão pelos números e pela comparação com os outros, esqueci-me do porquê de ter criado um blog quando o fiz pela primeira vez: queria escrever sobre coisas de que gostava, coisas que me apaixonavam, coisas que me davam vontade de gastar o meu tempo a colocá-las em palavras… tal como neste texto.
Aquilo de que o meu blog precisava era de que eu continuasse a colocar todo o meu coração nele. E eventualmente ia recuperar a minha voz e conseguir trabalhá-la para ter o blog que queria e merecia. Demorei, mas o workshop da Rita deu uma ajudinha e desde aí não voltei a parar, não voltei a duvidar de mim nem da minha escrita. Afinal, não tinha perdido a minha voz por completo, só a deixei esconder-se atrás de inseguranças parvas e de medos que tive de aniquilar.
Se continuo a achar que o meu blog merece mais seguidores e mais visualizações? Claro. Se me preocupa que não os tenha? Não. O meu blog é o meu blog preferido. Tenho orgulho naquilo que tenho feito aqui, sei o trabalho que tenho feito e sei qual é o motivo para não estar no nível de outros blogs. E não quero mudar isso. Podem dizer-me muita coisa, chamar-me muitos nomes, o que quiserem, mas nunca poderão dizer que este blog não reflecte a pessoa que sou, que tento ser algo diferente aqui, que não sou autêntica ou sincera no que escrevo, que já não tenho um amor gigante por escrever e pelo blog. Estou aqui, não estou? Então podem ter a certeza de que só estou porque amo demasiado escrever… e não sei fazer outra coisa. E quando desistir não será por isso ter desaparecido.
Para concluir, deixem-me dizer que não acredito em quem diz que nunca comparou números blogosféricos. Mesmo que só o tenham feito num devaneio ou que tenham abandonado esse pensamento no segundo a seguir, já todos o fizemos. No entanto, não deixem que isso vos limite ou vos faça sentir presos e bloqueados. A blogosfera terá sempre lugar para quem quiser escrever com o coração e por paixão. E só isso é que nos deve mover. Claro que todos escrevemos para ser lidos, caso contrário ainda escrevíamos em blogs privados ou em diários. Mas devemos escrever aquilo que nos apaixona.
Também não acredito em metade das pessoas que tentam ter uma postura inspiradora a todo o custo. Esqueçam isso de querer ser os mais inspiradores de sempre. Leiam o texto da Vânia, que diz tudo o que penso. Não tenham medo de escrever mais do que meia dúzia de linhas. Não queiram tentar transparecer a personalidade de outra pessoa. Por isso também não estou aqui para fingir o que não sou. Foi por isso que escrevi estas mil e tal palavras. Porque tenho um compromisso com este blog: o de nunca tentar ser o que não sou e o de ser sempre honesta. Por isso aqui estão elas: quase mil e quinhentas palavras honestas. Agora, se me dão licença, vou ali comer um chocolatinho porque ia ficando sem energia por escrever tanto em tão poucos minutos.
Wait what nããããão! Não voltes a cair nesse buraco, mulher. Apercebi-me de qualquer coisa lá no BC, mas não imaginei que estivesses assim tão desencantada. A verdade é que te entendo: a comparação é a nossa pior inimiga. Mas este é o TEU cantinho, o teu espaço, e só tu tens obrigatoriamente que gostar dele. E quem se quiser juntar a ti, óptimo! Se queres que te diga, é uma das coisas que me faz voltar: saber que não estás a fazer de conta e que te estou a ler, e não a uma personagem qualquer. São pensamentos puros e palavras honestas. E bom, vou continuar a visitar-te!
Jiji
Sem dúvida que às vezes visitamos espaços que publicam com uma frequência escassa e conteúdo que achamos "vazio" que têm muito mais reconhecimento e interação do que outros em que se nota o esforço do autor e que adoramos cada publicação.
Fico feliz por nunca teres desistido e fico grata por teres partilhado a tua história, com que tanta gente se irá identificar.
Beijinhos!
Ainda bem que não desististe! 🙂
NÃO! tu és uma óptima blogger. És criativa. És única. Sente-se a tua presença no blog, não é vazio, não é repetitivo. Não te compares a ninguém, cada blog é um blog. NÃO ACABES COM O BLOG!
Não venho sempre, mas sempre que posso e fico feliz por continuares por aqui ☺
Beijinho
Carla
Muito interessante. Eu já quase fechei o meu blog centenas de vezes. Ainda ontem á noite, a meio de uma insónia bestial, quase que o fiz. Quase que apaguei o blog, o facebook, o instagram, retirei os livros que tenho publicados na Amazon, quase que apaguei por completo a minha existência no mundo virtual. Por um lado a comparação terá estado sim, na base de muita dessa sensação de que não vale a pena a trabalheira que tenho – tenho um blog de culinária e escrita, é muita foto tirada, muita comida preparada, muito trabalho, muito tempo perdido para um blog que tem o que, duas a três visitas semanais? – mas acima de tudo porque foi uma semana em que me deitaram abaixo todas as minhas crenças e todas as minhas preferências, noções de estética, estilo pessoal de fotografia, de escrita. Em foruns de fotografia onde apresentei o meu ytrabalho em busca de conselhos acerca de cor e luz, só recebi foi pauladas acerca das minhas escolhas em termos de composição e estética, coisa que não tinha pedido pois estava satisfeita com essa área, agora já acho que é uma bosta; na Amazon e Goodreads recebi duas novas reviews de livros que escrevi e ao ler as reviews fiquei com a nitida sensação de que ou as pessoas não tinham de modo algum lido a coisa, ou de alguma forma eu tinha falhado por completo na escrita e os leitores não tinham conseguido entender a história, as personagens, o porquê de eu perder tanto tempo a descrever por exemplo as roupas que os personagens vestiam, enfim, uma série de pequenos pormenores que me deitaram completamente por terra. Neste preciso momento, ainda estou a pensar se vale a pena manter o blog, se vale a pena publicar mais livros, se vale a pena fotografar quando aquilo que faço não presta, o que escrevo é tão mau que nem se entende. E sim, começa com a comparação, e ninguém o devia fazer, mas fazemos e não dói menos por isso, principalmente quando até achamos que o que fazemos é bom mas toda a gente nos diz o contrário… felizmente o teu blog não é um chorrilho de chavões sem qualquer interesse ou qualidade, o teu blog tem por detrás uma pessoa, e isso sente-se.