DESCULPEM, MAS TENHO DE FALAR DE FUTEBOL

Iniesta // Barcelona
Foto: Getty Images
Eu sei que, para a maioria das pessoas que me lê, futebol não é o tema mais emocionante. E não é, de todo, o tema que mais se relaciona com o caminho editorial que tenho vindo a seguir. Mas vocês sabem, principalmente se me seguem em redes sociais, que eu adoro futebol. Sou portista, é um dado adquirido, e, mesmo na época em que via pouco futebol porque estava chateada com as exibições do meu clube, nunca deixei de adorar o FC Porto e futebol.
Na semana passada, por causa do momento triste e aterrador que se viveu na Academia do Sporting, li alguns comentários, sobre adeptos e sobre futebol, que me chatearam. Porque quando se fala em futebol generaliza-se muito: os adeptos do clube X são todos arruaceiros; toda a gente que faz parte de claques é violenta; toda a gente que reclama com algo durante um jogo de futebol é porque quer andar à pancada; etc., etc. Vocês percebem onde eu quero chegar.
Bem, primeiro: vamos lá ter calma com as generalizações. Segundo: tem havido muitos casos de violência no futebol (nacional e talvez não só) e é muito triste que, por culpa de adeptos acéfalos, os outros adeptos tenham de levar por tabela. Terceiro: por cada adepto acéfalo, violento, criminoso, há um adepto que ama realmente o clube e o desporto, que sofre e celebra e a quem esses adeptos acéfalos partem o coração por mancharem o nome do clube. 
Eu enervo-me muito a ver futebol. Reclamo com jogadores, com o treinador (curiosamente, esta época reclamei muito pouco com o treinador porque gosto mesmo dele) e reclamo muito com o árbitro. Até posso dizer palavrões. Mas nada disso faz de mim mal-educada. Eu nem acho que dizer ou não palavrões faça de alguém melhor ou pior pessoa. Também não é por me chatear quando a minha equipa joga mal ou quando perde que acho que devo partir para a violência. Até porque acho ridículo que o façam.
Não acho normal adeptos que lutam com outros adeptos (às vezes até do mesmo clube!), que ameaçam jogadores, equipas técnicas, árbitros, quem for, que invadem locais de treino e atacam outras pessoas. No futebol, assim como em tudo na vida, há gente boa e gente má. Gente muito boa e gente muito má. Há inocentes e criminosos. É assim em tudo. Felizmente, para mim e para quem gosta realmente de futebol, também há momentos bonitos, momentos que nos arrepiam, que nos emocionam, que nos fazem amar mais e mais este desporto. Este fim-de-semana houve três momentos que me deixaram assim: arrepiada, emocionada. E esses três momentos foram as despedidas do Gigi Buffon (da Juventus), do Fernando Torres (do Atlético de Madrid) e do Andrés Iniesta (do Barcelona).

buffon // juventus
Foto: Juventus FC
O Buffon tem 40 anos, começou no Parma e desde 2001 que era guarda-redes da Juventus. No sábado despediu-se do clube italiano, em lágrimas. Ainda não se sabe onde vai jogar a seguir, mas é certo que, seja onde for, não será a mesma coisa. A ligação Buffon-Juventus teve muitas vitórias, muitas taças e um heptacampeonato. Foi substituído ao minuto 63 (como castigo divino, minutos depois a Juve sofreu um golo) e, com o estádio todo a aplaudi-lo, despediu-se de cada colega de equipa e ainda dos adversários. Se conseguirem imaginá-lo com outra camisola então parabéns! Eu não consigo. A única certeza é a de que, muito provavelmente, não voltará a jogar um Mundial (Itália está fora do Mundial 2018 e, em 2022, Buffon terá 44 anos).
O Iniesta tem 34 anos e nunca jogou noutro clube que não o Barcelona. Todo o percurso dele foi naquele clube. Ontem fez o último jogo lá. Quando foi substituído, ao minuto 82, deu a braçadeira de capitão ao Messi e os adeptos ficaram a cantar por ele até ao fim do jogo. A fotografia do início desta publicação foi tirada horas depois da homenagem que lhe fizeram e da festa de campeões de Espanha que se seguiu ao jogo. Era perto da uma da manhã e o Iniesta ainda estava a despedir-se, agora sozinho, do estádio mais especial da vida dele. O que se segue para ele? O Mundial! É um dos convocados da selecção espanhola. O resto? Logo se verá.
torres // atleti
Foto: Ángel Gutiérrez // Atlético de Madrid
Deixei o mais especial para mim para o fim. Até porque se os anteriores me deixaram arrepiada, este deixou-me a chorar… muito! O Torres é o meu futebolista preferido e toda a gente sabe que o sonho dele sempre foi jogar no Atlético. A ligação ao clube começou com o avô e ele vivia tanto o clube que, em pequeno, fazia questão de levar a camisola do Atleti para a escola sempre que perdiam, porque sentia que era quando precisavam de mais apoio. Foi lá que começou a jogar, nos sub-13. Em 2001, quando era jogador dos sub-19, foi chamado à equipa principal. Por ele, só teria jogado ali. Mas em 2007 foi transferido para o Liverpool (onde se deu muito bem, na verdade) e em 2011 para o Chelsea (onde se deu mais ou menos). Em 2014 foi emprestado ao Milan (um pequeno acidente de percurso que só durou 10 jogos) e depois regressou a casa, que é como quem diz ao Atleti. Acho que ele pensou que ia acabar a carreira ali. Pensámos todos, provavelmente.
Mas a verdade é que ontem se despediu do clube porque não tem tido muitas oportunidades de jogar mais do que meia dúzia de minutos (jogou dois minutos e meio na final da Liga Europa, o que parece um gozo pegado) e ainda quer jogar. A despedida fez-me chorar muito. Jogou o tempo todo, marcou os dois golos do Atleti (o estádio Metropolitano ia indo abaixo!) e o fofo do Gabi cedeu-lhe a braçadeira de capitão, num gesto maravilhoso e especial. Do Gabi não se esperava outra coisa, já que na semana passada, quando ganharam a Liga Europa, ele quis levantar a taça com o Torres, já que era um sonho dele poder levantar um troféu com o clube. O meu sonho era vê-lo jogar lá, ao vivo. Não tive o meu sonho, mas rebentei de orgulho por o ver conquistar o dele. Agora fala-se em China, Estados Unidos, até o Benítez (que o treinou no Liverpool e no Chelsea) já disse que adorava tê-lo no Newcastle (muito pouco provável). Vamos ver.
Sinceramente, o futebol é isto. É este sentimento de orgulho e de emoção. Deixem quem o sente vivê-lo da melhor forma.

2 Replies to “DESCULPEM, MAS TENHO DE FALAR DE FUTEBOL”

  1. Não sou muito fã de futebol e, sinceramente (só consigo sentir essa paixão que referes quando se trata de jogos da Seleção Nacional) acho que o problema é que muitas pessoas levam-no demasiado a sério. Não estou, com esta afirmação, a desvalorizar a paixão que muitos têm pelo futebol, estou apenas a dizer que o problema é que muitos não sabem viver essa paixão de forma saudável. Não podemos agir como se as injustiças,as derrotas, as faltas que ficaram por marcar,etc. sejam o fim do mundo. Mas mesmo que isso representasse o fim do mundo, ainda assim esta violência não se justificava,porque nada se resolve com violência.
    Depois, é como tu dizes. Só se falam dos incidentes na televisão e começam a generalizar, toda a gente começa a pensar que o futebol é sempre assim, e estas generalizações ofuscam grandes talentos, adeptos que realmente amam os seus clubes e jogos que podem ser emocionantes (e não, dizer palavrões não tem mal nenhum,eu considero ate que temos que parar de discriminar estas palavras e começar a trata-las como as outras, pela igualdade de todas as palavras xD).
    Beijinhos

    Blog: Life of Cherry

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