ONDE É QUE TE VIAS HÁ 5 ANOS?

Onde te vias há 5 anos?
Há cinco anos, neste dia, com carro estacionado ao pé da Escola Secundária José Gomes Ferreira, em Benfica, subi as Escadas do Inferno em direcção à Escola Superior de Comunicação Social pela primeira vez. Chegar lá não custou só os pulmões, pouco habituados a subidas demoníacas. Custou um ano. Muitas lágrimas. Muitos medos. Muitas incertezas. No entanto, há cinco anos, tudo isso de dissipou e voltaram os sonhos, a esperança. Nestes cinco anos devem ter-me perguntado dezenas de vezes onde é que me via dentro de cinco anos. Odeio essa pergunta, já agora. Principalmente porque não tenho coragem de verbalizar alguns dos sonhos que gostava de ver cumpridos.
No segundo semestre do segundo ano perguntaram isso na primeira aula de Jornalismo Digital. Não me lembro da resposta que dei, mas deve ter sido uma barbaridade qualquer que não se concretizou. Um ano depois, no último semestre do curso, numa aula de Sociologia Política, o professor perguntou algo do género. Disse-lhe que esperava já ter feito uma pós-graduação ou algo do género em Marketing Digital. Aconteceu um ano depois e, durante algum tempo, fez-me acreditar que não era assim tão complicado imaginar o que seria de mim em cinco anos. Mas é.
Há cinco anos, quando finalmente fiz a matrícula e me tornei estudante de Jornalismo, como queria, na ESCS, como queria, tenho a certeza de que não achava que cinco anos depois esta fosse a minha vida. Era suposto já ter escrito mais livros. Já ter conhecido mais do estrangeiro além de Ciudad Rodrigo. Já perceber um bocadinho melhor os rapazes (nunca vai acontecer). Já me ter mudado para aquela cidade. Já ter começado a aprender outra língua. Já devia ter um contracto de trabalho. Já devia ter dinheiro. Já devia ter começado a colmatar os gastos dos estudos. Já devia ter mais esperança no futuro. Já devia ter outros sonhos, outros objectivos.

Neste momento, sinceramente, não sei onde é que me vejo daqui a cinco anos. E não é por não ter coragem de falar do que gostava de que tivesse já acontecido. É porque estou como o Ted, no episódio de How I Met Your Mother em que revêem a trilogia original de Star Wars. Nessa altura ele acha que algo de errado com ele e que dentro de três anos vai estar ainda pior. Perdeu a esperança. Acho que é um bocadinho isso. Se calhar as coisas até vão estar melhores. Mas não é o que acho neste momento.
Aquilo que acho é que às vezes perdemos o rumo, enganamo-nos no caminho. Nem sempre sabemos o que esperar. E não é tão grave quanto parece. A nossa vida não tem de estar decidida aos 20 e poucos. Não ponham essa pressão em vocês. Não estou onde me via há cinco anos. Provavelmente, daqui a cinco anos não vou estar num lugar em que me imaginava. Só espero que seja mais do que isto.

7 Replies to “ONDE É QUE TE VIAS HÁ 5 ANOS?”

  1. «Nem sempre sabemos o que esperar. E não é tão grave quanto parece», acho que é muito importante termos isto em consideração. Claro que é fundamental ter objetivos e lutar por eles, mas sem nos colocarmos pressões desnecessárias.

  2. Recuso-me sempre a responder a essas perguntas – e, felizmente, não é por achar que há algo de errado com a minha vida. É mesmo porque é quase impossível acertar, e a frustração que vem daí é imensa. Não faças isso a ti mesma. Não sabes como será, nem ninguém sabe. Não desistas de perseguir os teus objectivos mas mantém em mente que a vida é uma sucessão de acontecimentos que tu não tens como prever e nunca sabes quando vai dar uma curva inesperada. Não te martirizes, miúda, a sério! Não há um guião para seguir.

  3. Antes de mais, deixa-me elogiar as tuas publicações, particularmente as tuas reflexões: estão cada vez melhores. Tens relevado as verdades de uma forma tão crua e direita.
    Bem, quanto ao conteúdo deste post. Também nunca gostei dessa pergunta. Não faz sentido, se pensarmos bem. A vida troca-nos muitas vezes as voltas, e obriga-nos a refazer os nossos planos. Essa pergunta é, frequentemente, a causadora de expetativas que, mais tarde, resultam em desilusões.
    Há 5 anos atrás, ainda no Secundário, eu imaginava que o meu ano de finalista seria diferente: eu estaria noutra cidade sem ser a que nasci, a viver uma grande aventura. Já teria viajado para vários países. Já teria publicado um livro. Já teria um namorado espetacular com quem imaginava o meu futuro. 5 anos depois, nada disso aconteceu. Estou a estudar na cidade em que nasci, só fui para o Estrangeiro uma vez até agora, ainda não publiquei nenhum livro (but Im working on it) e nem sequer tive o meu primeiro namorado ainda. Poderia sentir-me frustrada com isto e houve uma altura em que estava, mas agora nem me sinto. Aconteceram outras tantas coisas espetaculares que não teriam acontecido se a minha vida tivesse seguido logo este caminho.
    Não percas a esperança, as coisas vão melhorar. Continua a lutar pelos teus sonhos, mas não te sintas pressionada nem lhes coloques prazos. Com a tua determinação, tu vais conseguir, vais ver :).
    Beijinhos
    Blog: Life of Cherry

  4. É importante termos objetivos, mas acho que não devemos colocar prazos, afinal a vida é uma roda vida e estamos constantemente sujeitos a voltas e reviravoltas, por isso, os prazos acabam por sair furados. Daí que responder a perguntas dessas seja complicado, podemos ter uma ideia, mas nunca saberemos se a ideia se concretiza ou se irá fazer parte dos nossos planos.
    O importante é mantermos o foco, nos nossos objetivos e ir lutando. Vivendo sem pressas, sem pressões, ao nosso ritmo e ao que a vida nos permite 🙂
    Excelente reflexão, beijinhos

  5. Não gosto dessa pergunta. Ninguém gosta, eu acho. Não é por não termos sonhos que não gostamos dela. É por ter demasiados. Mas dizes uma coisa muito importante neste texto: "às vezes enganamo-nos no caminho". Secalhar não é bem enganar. É experimentar vários caminhos. Temos de perceber que podemos ter vários rumos, sem que isso nos cause mal estar. Contra mim falo. Foi impotante ter lido isto, é um bom texto, Sofia. E, olha, é como dizes "não é tão grave como parece".
    beijinhos

  6. E o melhor remédio, a meu ver e conforme os últimos acontecimentos na minha vida, é aproveitarmos cada momento do presente, tentando descobrir o porquê de estarmos em determinado local, naquela exata hora. Por vezes, perder o rumo é necessário para reavaliarmos aquilo que somos, temos, queremos; para criarmos novos e revolucionários projetos na nossa vida; para simplesmente nos conectarmos…
    Parece utópico? Com certeza, porém, também faz parte viver essa e tantas outras experiências que nos pareçam menos más ou que, pelo menos, fogem das nossas expectativas do passado.
    É tão bom ter planos, quanto "deixar" a ansiedade um pouco de lado. Não é fácil, porém, também não é impossível! 😉

    LYNE, IMPERIUM

  7. Tudo vem a seu tempo. Às vezes, é preciso ter calma, parar um pouco para respirar e aceitar o que nos está a acontecer, para quando recuperarmos as forças podermos agir e tentar recompor as coisas!
    Um grande beijinho*

partilha a tua teoria...