Estou a anotar coisas aqui desde Março. Estou a anotar coisas aqui há tanto tempo que já nem me lembrava de que o objectivo era publicar e não passar séculos a anotar coisas. Tanta preocupação acabou por me impedir de terminar a publicação. E acontece algo semelhante enquanto estamos a trabalhar no nosso livro: começamos a preocupar-nos com tanta coisa que, inevitavelmente, paramos de escrever porque temos mais com que nos preocupar. Enquanto estamos em fase de escrita devemos concentrar-nos em escrever, o que já é um trabalho complicado. É óbvio que vão surgir dúvidas, medos, problemas, mas o melhor é ignorar, fazer anotações e continuar a escrever. Separei três coisas com as quais não se devem preocupar enquanto escrevem o vosso livro.
EDIÇÃO
Enquanto escrevem vai acontecer muitas vezes lembrarem-se de coisas que querem ou precisam de mudar, coisas que querem acrescentar ou retirar da história e até assuntos que precisam de encerrar para evitar plot holes. Vai acontecer muito. Até vai haver alturas em que vão achar que determinado capítulo ou determinada cena precisa de ser re-escrita. Se de cada vez que algo do género acontecer pararem de escrever e se dedicarem à edição então garanto-vos que o terminar o vosso livro vai demorar… ou não vai acontecer.
A minha sugestão é terem um documento, um caderno ou outra forma de organização à parte para apontarem todas as situações que precisam de ser revistas, alteradas ou corrigidas. Se tiverem um outline vai facilitar também para determinar se há alguma parte da história que não foi encerrada ou resolvida. Depois, determinem quando querem fazer a edição. Há quem opte por escrever durante a semana e rever e alterar o que escreveram no fim-de-semana. Também há quem o faça sempre que termina um capítulo. Não funciono com nenhum dos casos porque acho que quebra a rotina de escrita e do livro. A minha forma de funcionar é mesmo no fim de cada parte (um livro dividido por partes facilita) tentar alterar as coisas maiores, que têm impacto nas partes restantes. Mas prefiro, muito sinceramente, apontar tudo e fazer a edição só no final do livro.
A minha excepção, no entanto, reside em alterações rápidas ou em alterações que mudam todo o rumo da história. Se é uma alteração rápida (mudar poucas palavras, por exemplo), não demora muito e não ficamos retidos durante muito tempo. Se é uma alteração que altera todo o rumo da história então também prefiro fazê-la logo porque, de outra forma, acabo por ficar sempre a pensar se já referi algo ou como introduzir determinado assunto. Esta última parte aconteceu-me no ano passado. Tinha uma personagem que era suposto ser só secundária, sem grande história, mas decidi dar-lhe mais relevância e acabei por mudar logo tudo no momento em que percebi isso porque sei que fazer a mudança no final ia ser mais complicado.
PUBLICAÇÃO
Sim, todos (ou quase todos) queremos publicar o que escrevemos. No entanto é importante não ficarmos obcecados com a publicação enquanto escrevemos. Primeiro, porque ainda não terminámos logo há ainda a hipótese de o livro ficar por concluir. Segundo, porque essa pressão pode paralisar-nos e bloquear-nos. Acho que é muito mais fácil e saudável escrever primeiro e só depois começar a pensar na parte difícil que é a de publicar. Todas as dúvidas e incertezas relacionadas com a publicação, incluindo coisas como e se nenhuma editora quer publicar?, são prejudiciais para a escrita e não vale a pena, em cima de tudo o que já sentimos enquanto estamos a escrever, ainda acrescentarmos a pressão de todos os problemas que pode haver durante a publicação ou mesmo a hipótese de não publicação. Durante a escrita o que vos importa pensar é que o vosso livro é bom o suficiente para merecer ser terminado. Depois logo se vê.
REACÇÕES
Esta surge mais ou menos ao mesmo tempo dos pensamentos sobre a publicação ou, por vezes, quando escrevemos sobre um tema polémico e/ou sensível: mas e se as pessoas não gostam? Não, não, não, não! I don’t need that kind of negativity in my life! É óbvio que queremos que o nosso livro seja bom e que as pessoas gostem dele, mas não parem de escrever por estarem a pensar nas reacções dos leitores. É um erro. Escrevam para o vosso público, sim, mas não fiquem limitados por isso. Se acham que o vosso rascunho não está bom o suficiente tentem perceber o porquê de acharem isso e quais as falhas que tem. Apontem-nas. Apontem as vossas dúvidas e receios, mas deixem-nos ficar guardados. Se tiverem dificuldade em analisar o que escreveram e acharem que precisam de ajuda a saber se é relativamente bom, peçam ajuda a alguém que saibam que vai ser sincero. Mas não fiquem parados só por terem medo das reacções dos outros. Não façam isso à vossa história.
Estas são três das coisas mais comuns em que me obrigo a não pensar enquanto escrevo. Há mais, muitas mais, com as quais não nos devemos preocupar enquanto escrevemos, mas dessas falo noutra altura. Quais são as coisas nas quais acham que não devemos pensar enquanto estamos a escrever?
Pode não ser fácil, mas, no fundo, temos que limpar a nossa mente e focarmo-nos no processo de escrita por si só. Caso contrário, divagamos por assuntos que nos limitam. E esse não deve ser o desfecho.
Estes tópicos, para mim, são bastante pertinentes!