Tal como vos contei há uns dias, finalmente vi The Fosters por ordem e com atenção. Para quem não conhece, deixem-me dizer-vos novamente de que se trata: é a história da família Foster, formada por Stef e Lena e os filhos: Brandon, que é filho biológico de Stef, os gémeos adoptados Jesus e Mariana e os irmãos Callie e Jude, que ficam à guarda da família, inicialmente por pouco tempo, mas depois de forma mais permanente, com o objectivo de serem adoptados. Além deles, há ainda Mike, ex-marido de Stef e pai do Brandon, que é também uma presença importante na família.
A série é composta por cinco temporadas e terminou no início do Verão. Ao longo das temporadas surgem vários temas importantes e relevantes para a sociedade actual, o que me fez gostar ainda mais da forma como foi escrita. Devem saber que há muitos temas que, nos últimos anos, têm ganho relevância nos Estados Unidos e no mundo e é importante falar deles e falar bem deles, com boas mensagens. Só a premissa de The Fosters já toca alguns pontos sensíveis: a adopção e a igualdade de direitos para homossexuais. Mas toda a série se torna muito mais do que isso.
Ao longo de grande parte dos episódios há várias referências e explicações sobre o sistema social de adopção dos Estados Unidos e as suas falhas. Não faço ideia de como funciona em Portugal, mas é interessante ver a forma como a série mostra o que está mal ali. Depois, claro, há o facto de as duas personagens principais serem lésbicas. Não só há algumas questões com que são confrontadas, principalmente em relação ao que os outros pensam delas, mas há ainda um foco importante na igualdade de direitos e na legalização do casamento entre pessoas do mesmo género, que coincidiu com a altura em que foi legalizado nos EUA. Melhor momento para mencionar o assunto era impossível. A representação LGBTQ+ não se fica pela Stef e pela Lena. Na verdade, o Jude é gay e ele tem de lidar com isso enquanto lida com o facto de ter mudado de escola, de ser diferente, de ter de se defender perante outras crianças e até com um amigo dele que é gay mas tem receio de o dizer por causa do pai. Há ainda duas personagens transexuais, que surgem em momentos diferentes da série. A última a surgir tem um papel ainda mais importante porque, pela relação que vai ter com uma das personagens principais, levanta várias questões que muitas pessoas ainda não compreendem. Fiquei ainda mais contente por saber que ambas as personagens são, de facto, transexuais.
A situação política nos EUA é um tema recorrente em toda a série, mas nas duas últimas temporadas ganha um foco diferente e os episódios 4×01 e 5×12 foram, para mim, dos mais fortes e importantes da série. No primeiro, porque se fala do uso de armas e de algo que, infelizmente, acontece mais vezes do que o que devia nos EUA: alguém levar uma arma para uma escola. Passei praticamente o episódio todo a chorar. No segundo, porque o foco é a imigração e toda a situação que ainda se vive nos EUA, de separação de famílias e da política de imigração do actual governo americano. Há um momento do episódio em que a Callie usa a oportunidade de falar numa conferência de uma mulher defensora da política do governo e lhe pergunta “o que é um americano?”. Dá que pensar, sabem? Dá muito que pensar. A coragem da série em abordar o tema numa altura crucial é de louvar. Ainda dentro de um tema semelhante, há alguns momentos da série onde se fala também de racismo. Alguns são pormenores que talvez não digam muito mas que fazem toda a diferença (por exemplo, quando o Mike deixa o AJ no carro e ele sai e os polícias assumem de imediato que ele é responsável pelo crime pelo qual foram chamados ali).
Como se ainda faltassem temas fracturantes, a educação e o sistema de educação pública e privada nos EUA também estão presentes. Na altura em que querem fechar a escola pública e convertê-la em privada os alunos fazem uma vigília em que lembram que a educação é um direito de todos. Tive muita vontade de bater palmas. Também se fala de feminismo e do poder feminino. A Mariana e a Emma têm vários momentos em que se vêem frente a frente com alguma discriminação por serem raparigas. E há até um diálogo importante entre o Jesus e a Lena sobre assédio sexual. Aliás, a sexualidade é um tema recorrente (a Mariana até reclama a forma como a tratam em relação ao sexo e a forma como tratam os irmãos, a quem disponibilizam preservativos). O aborto, o natural e o voluntário, também é um tema de vários episódios. Sempre a falar de temas importantes, a sério!
A religião também é algo com que algumas personagens são confrontadas, principalmente por aquilo que a religião católica tem a dizer sobre homossexualidade. No entanto, quando uma personagem fica à beira da morte também é na religião que outra personagem se refugia. Achei interessante haver as duas partes.
Por fim, outros temas actuais e relevantes: o abuso de substâncias e a saúde mental. Há duas personagens que se debatem contra o vício de duas substâncias diferentes e isso influencia também a forma como outras personagens lidam com elas. E a saúde mental está presente em muitos momentos, não só em personagens femininas mas também masculinas. A Lena sofre de depressão logo após lhe acontecer uma coisa má, a Ana sofre de depressão numa altura da série, o Gabe sofre de depressão, o Jesus sofre de stress pós-traumático após acontecer algo com ele (o Jesus é a melhor personagem da 4.ª temporada. Tenho dito.) e a Stef protagoniza um dos melhores episódios da série, o 5×15, também com problemas de saúde mental. Nos casos da Stef e do Jesus tenho a dizer-vos que foram prestações exemplares, fortes e emocionantes. Mas, mais do que isso, achei que foram prestações que precisam de existir para, mais uma vez, falar de temas que ainda são tabu (como no caso da Stef).
A forma como estes e outros temas foram abordados fez-me apaixonar de imediato pela série. Tenho pena de que não haja mais temporadas porque sinto que precisávamos de mais informações sobre a evolução do estado psicológico da Stef e sobre o estado físico e psicológico do Jesus. Depois do final da 5.ª temporada houve ainda 3 episódios especiais, mas acho que preferi o fim da temporada normal. A boa notícia é que vai haver spin-off em Janeiro, com Good Trouble, protagonizado pela Maia Mitchell e a Cierra Ramirez, a Callie e a Mariana, e com participação das personagens regulares de The Fosters. Não sei se vai ter a mesma abordagem social e política ou se será mais leve mas espero que continuem a abordar temas tão importantes. A representatividade da série é realmente uma das melhores partes e ver cenas tão bem feitas e pensadas é muito bom.
Pelo que já tive oportunidade de ver, é uma série muitíssimo bem construída e com um enorme peso. Porque, lá está, abordar temas de extrema importância, contribuindo para desmistificar certas questões e quebrar barreiras.
Quero mesmo vê-la por ordem e com a devida atenção!
Adorei a série, aborda temas bem fortes e consguem captar de imediato a nossa atenção