Às vezes tenho vontade de desistir da escrita literária porque acho que não vale a pena. Penso sempre: se isto não é publicado e só existe para mim, de que é que vale escrever? Posso bem ficar com as histórias só na minha cabeça. É daí que vem a frase “autora best-seller de histórias que nunca saíram da minha cabeça“.
Às vezes pergunto-me se tenho o direito de querer mais para as minhas histórias, se tenho o direito de achar que tenho algo bom para publicar, ao nível de outras obras já publicadas. Pergunto-me se estou iludida. Pergunto-me se querer publicar com uma editora de jeito é capricho e se devia tentar uma edição de autor, já que edições partilhadas (em que o autor financia uma parte do custo da obra) estão fora de questão por vários motivos.
Às vezes acho que nunca mais vou publicar um livro e que devia aceitar esse facto. Porque, quer queiram admitir quer queiram fingir que não é verdade, algumas pessoas só conseguem publicar se tiverem largas centenas de seguidores no Instagram. Porque se calhar me subiu algo à cabeça e não tenho histórias assim tão boas. Porque o mercado literário português não é assim tão amigo de autores desconhecidos, mesmo que os conhecidos tenham sido, outrora, desconhecidos.
Outras vezes acho que todas estas histórias vão deixar de habitar apenas na minha cabeça. Acho que aquela história que terminei há dois anos e que já está na quarta versão um dia vai ser lida por várias pessoas. Acho que ainda há esperança para as histórias, para a literatura.
Outras vezes sei que nunca desistirei da escrita literária porque ela já existia em mim antes de imaginar que era possível publicar livros mesmo sendo de uma aldeizinha do Interior de Portugal. Sei que continuarei a criar histórias na minha cabeça porque é isso que realmente sei fazer.
Outra vez acredito mais na literatura do que em qualquer outra coisa no mundo. E, independentemente das vezes, volto a escrever. Volto ao que escrevi. Começo novas histórias. Espero dar-lhes vida. Acredito que ainda tenho muitas histórias para contar, seja lá a quem for que as conte. E volto ao que já estava terminado. E começo novos contos, novos livros, novas histórias. E não desisto.
Porque menos quando a literatura e a escrita nos dão porrada, nos fazem duvidar e nos deixam à beira da loucura, a escrita continua a ser a melhor forma de salvar a vida. A nossa. E não importam os outros, não importam as histórias inacabadas. Só importa a escrita.
Tenho andado com um pensamento dentro desta linha, com a diferença de que, da minha parte, não é não voltar a publicar um livro, mas de não publicar o primeiro :p
Há dias em que nos sentimos mesmo no limbo. Mas não desistas de ti. Não desista dos teus sonhos. Muito menos desistas da tua escrita, que tem muito valor. Cá estarei deste lado a torcer por novas histórias e pelo reconhecimento que mereces!