Com as notas de todas as cadeiras do segundo semestre lançadas, o primeiro ano do Mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes está oficialmente concluído. Este semestre foi muito diferente do primeiro. Se no primeiro semestre me senti assoberbada e num esforço complicado para me organizar e reaprender a estudar, este semestre andei durante a maior parte do tempo num estado de despreocupação e tranquilidade que, por um lado, foram bons, mas, por outro, acho que culminaram num fim de semestre bastante mais complicado.
Tal como expliquei no final do primeiro semestre, estou no ramo de Estudos Comparatistas e Relações Interculturais do Mestrado em Estudos Literários, Culturais e Interartes (MELCI). No segundo semestre, há uma única cadeira obrigatória e depois temos de escolher quatro de cinco opcionais. À semelhança do semestre passado, vou, dentro de cada cadeira, apresentar um bocadinho do que foi cada uma.
Cadeira Obrigatória
Teoria da Literatura: Modos e Modelos
Começamos com o meu pesadelo do semestre: uma cadeira puramente teórica, com muitos nomes que reconhecia da licenciatura e ainda me causavam suores frios (estou a falar de ti, Julia Kristeva) e que ficou marcada pelo facto de termos passado dois meses sem aulas para depois as repormos todos os sábados de Maio. Isso marcou muito a impressão da cadeira e o sentimento de que podia ter sido muito mais fácil de outra forma.
Lemos muitos textos teóricos e, no final, a avaliação acabou por ser feita em exame (também por causa do calendário alterado). Adorei ler Terry Eagleton (li o After Theory) e agora quero ler mais livros dele e percebi que coisas demasiado teóricas não são a minha cena…
Cadeiras Opcionais
Estudos Feministas e Estudos Queer
Como o próprio nome diz, é uma cadeira dedicada aos Estudos Feministas e aos Estudos Queer, além de termos lido e analisado Novas Cartas Portuguesas. Era uma cadeira para a qual estava muito entusiasmada, porque muitas vezes me sinto má feminista, mas sinto que fui perdendo o entusiasmo, não sei bem explicar porquê. Ainda assim, aumentei muito a minha lista de leitura graças a esta cadeira.
A avaliação foi feita com um ensaio (e apresentação do mesmo) e foi aquele que mais gostei de escrever este semestre, embora não tenha sido o que recebeu melhor nota. Escrevi sobre as novas vozes do feminismo, com mini-estudos de caso sobre a Emma Watson e a Taylor Swift e a importância de ter figuras públicas a posicionarem-se em relação às suas opiniões. Adorei escrever este trabalho e tive pena de não ter ainda mais páginas para ocupar porque tinha sido muito feliz a escrever 50 páginas sobre a Emma e a Taylor.
Tópicos em Comparatismo
No seguimento de Literatura Comparada, do primeiro semestre, esta cadeira foca-se, na realidade, em tópicos de comparatismo muito semelhantes: migrações e exílio. Embora sejam temas muito importantes e interessantes, também acredito que meses a estudar um único tema se torne um bocadinho cansativo. Para mim, pelo menos, tornou-se. Tivemos quatro leituras obrigatórias: a peça de teatro O Equívoco, de Albert Camus, e os livros Myra, de Maria Velho da Costa, O Museu da Rendição Incondicional, de Dubravka Ugresic, e Maremoto, da Djaimilia Pereira de Almeida.
A avaliação foi feita com um ensaio, em que escolhi abordar o fenómeno do in-between nas crises de refugiados pegando no documentário Human Flow e no livro Passaporte para o Céu, do jornalista Paulo Moura. Foi um trabalho mais ou menos. Desesperei muito a escrevê-lo.
Estética Literária
Escolhi esta cadeira um bocadinho ao acaso, sem expectativas, apenas porque tinha mesmo de escolher quatro cadeiras e esta pareceu interessante o suficiente. Muito do que falámos lembrou as aulas de Filosofia, mas falámos de muito além de Estética e acho que isso foi a minha parte preferida.
O ensaio que escrevi foi sobre a presença da comédia num livro chamado Diário de um Zé-Ninguém, dos irmãos G & W Grossmith.
Literatura Portuguesa e Hibridismo dos Géneros
Comecei o semestre com a força toda, super entusiasmada, li muitos dos livros analisados em aula, mas cometi um erro: tinha expectativas demasiado elevadas e, por isso, acabei um bocadinho desiludida porque o programa era muito extenso e acabámos por abordar alguns tópicos de forma mais superficial.
Para esta cadeira, escrevi sobre o hibridismo que existe em Vai, Brasil, da Alexandra Lucas Coelho.
Tenho noção de que o facto de ter decidido viver mais durante este semestre influenciou alguma da desmotivação que fui sentido ao longo das semanas, mas também sei que este ano me deu várias ferramentas, embora nem todas óbvias, que já considero úteis e importantes para a minha escrita. O próximo ano é totalmente dedicado à tese… algo em que, em breve, terei de pensar. Vamos ver como corre.
De todas as cadeiras, acho que a que me iria deixar mais entusiasmada era a de Estudos Feministas e Estudos Queer
Vais arrasar na tese, vais ver <3
olá, Sofia! tenho uma pergunta em relação ao ano curricular do teu mestrado. O que achaste da bibliografia que recebeste nas várias cadeiras em termos de paridade de escritoras e escritores? Queria perceber se já há mais livros escritores por mulheres a figurar na academia, ou se continuamos com o velho “””cânone””” ocidental. Obrigada 🙂
Olá! Bem, acho que tens de tudo. Tive cadeiras em que realmente a bibliografia parecia mais “fechada” e maioritariamente ocidentais e de autores masculinos. No entanto, notei que vão surgindo cada vez mais nomes femininos (principalmente em literatura portuguesa), o que me deixa feliz — em Literatura Portuguesa e Hibridismo dos Géneros, por exemplo, havia muitas obras de mulheres. Falou-se várias vezes sobre abrir horizontes e tentar ir além da literatura focada na Europa-Estados Unidos, mas em contexto de aula não foi propriamente explorado. Ainda assim, não senti que os professores fossem “contra” tentares desenvolver trabalhos nesse sentido, só que, claro, as escolhas bibliográficas que fazem são muito focadas no tipo de formação que cada professor tem e acaba por haver sempre essa “limitação”.
Obrigada, Sofia!
Ora essa! Qualquer questão é só dizeres! 😊