No final da primavera de 2021, comprei os dois primeiros livros da Dolly Alderton, quase às cegas. Podia ter corrido muito mal, mas acabei a ganhar uma forte influência na escrita sobre vida e relações. Da primavera de 2021 para o verão de 2022 mudou muita coisa na minha vida e numa fase de vida diferente, a ver as coisas de forma diferente, com uma ou outra história de vida que parece saída deste livro, decidi que precisava de reler Tudo O Que Sei Sobre O Amor, o primeiro livro da Dolly. Nos últimos meses, tenho citado, parafraseado ou simplesmente referido a Dolly Alderton em dezenas de conversas. Chegou a altura de explicar porquê.
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Tudo o que sei sobre o amor… mais ou menos, vá
Tudo O Que Sei Sobre O Amor é o típico livro de memórias que nos faz questionar se estamos a ler ficção ou não ficção. Focado naquilo que a Dolly Alderton foi vivendo desde adolescente até chegar aos 30 anos, o tema destas memórias é o amor — ou a tentativa de encontrar e de compreender o amor. No final — um final provisório, claro — ela não encontra o amor que achava que tinha de encontrar. Em vez disso, encontra o amor que sempre esteve presente e que, no fundo, molda todas as histórias contadas no livro.
Não me revejo na maioria das aventuras da Dolly. Das bebedeiras em início de adolescência ao fumar constante e às dezenas de engates ocorridos das formas mais caóticas, o meu percurso difere muito do percurso da Dolly. Da primeira vez que li o livro mal me identificava com o que ela conta. No entanto senti logo uma ligação com aquelas páginas. Por um lado, é um livro engraçado, porque a própria Dolly tem muito sentido de humor. Mas, por outro lado, também é um livro que puxa a emoção e que parece um belo retrato daquilo que é a década dos 20 — dos constantes casos de tentativa-erro, das dores, das amizades, dos amores e da falta deles. Aquela é a experiência da Dolly e das amigas dela. É tão válida quanto a minha. No fundo, todas procuramos o mesmo, todas falhamos, todas nos sentimos perdidas. E todas nos sentimos menos sozinhas quando partilhamos as nossas histórias.
Ainda assim, depois da primeira leitura, a minha vida mudou e, em muitos momentos, senti-me parte do universo Alderton. As pessoas que conhecia, as histórias que vivia ou que ouvia… juro que o meu 2022 podia fazer parte do universo Alderton. E, de forma mais ou menos consciente, muito do que tenho escrito (publicado ou não) tem uma aura de Tudo O Que Sei Sobre O Amor. Também é por isso que estou a escrever sobre o livro — é como se estivesse a contextualizar o meu ano e o que tenho escrito.
Quando começas a perguntar a ti mesma se a vida realmente não é mais do que esperar pelo autocarro na Tottenham Court Road e encomendar na Amazon livros que nunca hás de ler, então, estás a ter uma crise existencial. Estás a aperceber-te da mundanidade da vida. Estás finalmente a perceber que poucas são as coisas que valem a pena. Estás a sair do reino da fantasia do “quando eu for grande” e a ajustar-te à realidade de que já chegaste lá: está a acontecer. E não é o que pensavas que podia ser. Tu não és quem pensavas poder vir a ser.
Uma ode à amizade
Tudo O Que Sei Sobre O Amor é uma ode à amizade, às dúvidas, questões e caminhos que passam por nós ao longo dos 20 ou até depois. Não precisei de me identificar com a Dolly adolescente a embebedar-se em festas de família nem com a Dolly adulta a embebedar-se aleatoriamente e a procurar sexo sem critério como um viciado a ressacar o vício. Também não precisei de me identificar totalmente com a Farly, quase a casar, ou com a India, ou com qualquer história de qualquer outra protagonista. Não me identifico totalmente, mas identifico-me com tantos bocadinhos, um bocadinho em cada história, tornando o livro um conjunto de pecinhas de puzzle que resultam nisto tudo que é a vida.
Não vou dizer-te que este livro é uma obra-prima de leitura obrigatória, porque acho que é preciso estar disponível para ler além das loucuras e para criar os paralelismos necessários para compreender tudo o que a Dolly sabe sobre o amor é, na realidade, um resultado de tudo o que ela vai vivendo, ouvindo, presenciando. Tal como tudo o que eu ou tu sabemos sobre o amor é um resultado do mesmo.
Ainda não vi a adaptação televisiva feita pela BBC 1, mas, surpreendentemente, as minhas expectativas são baixas. Duvido de que aquilo que senti com o livro passe da mesma forma na série. Tudo O Que Sei Sobre o Amor faz pensar sobre amizade, sobre relações, sobre auto-conhecimentos, sobre aprendizagem constante, sobre todas as coisas que nos chegam à vida e com as quais temos de lidar e nem sempre sabemos como. Gosto cada vez mais de ler sobre estes temas e de tentar até explorámos na minha escrita. Felizmente, a Dolly sabe escrevê-los da forma certa para me cativar. Por tudo o que fui lendo, a Dolly tornou-se uma espécie de influência literária para a minha escrita, por isso podes até ignorar os elogios rasgados que vou tecendo à autora, mas não ignores a oportunidade de ler este livro. Podes não te identificar com nenhuma história, mas de certeza que vais encontrar partes de ti e do teu mundo naquelas páginas.
Outros livros do autor
Em Portugal, podes ainda encontrar o romance Estás aí? (título original: Ghosts), com várias semelhanças a este livro. Além destes, a Dolly lançou recentemente um livro chamado Dear Dolly, que reune crónicas que ela escreve na rubrica Dear Dolly no Sunday Times.
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Not That Kind of Girl, da Lena Dunham, traduzido para português com o título Não Sou Esse Tipo de Miúda. Quero muito reler!
Título original: Everything I Know About Love
Título em português: Tudo O Que Sei Sobre o Amor
Autora: Dolly Alderton
Ano: 2018 (PT: 2019 – li a edição de 2021)
Comprar*: Wook – em português // Wook – em inglês
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Sinto que estou a precisar de ler este livro!
Já o tenho cá em casa mas tenho de confessar que depois de ter lido o estás aí?…. não me senti nada ligada às personagens