quando vivemos deslocados do lugar de onde somos, de onde crescemos ou de onde temos a nossa família vamos aprendendo que há sempre momentos que perdemos. às vezes sacrificamos datas especiais. outras vezes sacrificamos coisas mundanas. no fundo, aprendemos algo óbvio: não podemos estar em dois lugares ao mesmo tempo. é óbvio, mas doloroso.
há vários dias em que queria estar lá e não posso. há vários dias em que tenho saudades de casa, da Lady, da minha mãe. por vezes dou por mim a fazer canja de ovo ou massa com feijão para atenuar saudades. já perdi aniversários, já tive pena de não poder acompanhar a minha mãe a consultas, já passei por cães e fiquei triste por não poder estar a brincar com a Lady (ok, isto acontece sempre que passo por cães).
mas, de todos os dias em que fui aprendendo que custa, mas não consigo estar em dois lugares, o dia em que neve é o dia em que mais me custa não estar lá. a ver a Lady correr e parar para lamber neve. a apreciar como tudo fica tão incrivelmente belo pintado de branco. e então aqui estou eu, na Maia, a ver chuva pela janela e a lamentar que o dia em que neva não seja o dia em que e estou lá.