Durante anos encontrei Cartas a um Jovem Poeta em várias listas de livros que quem escreve devia ler. Durante anos dizia que havia de o ler, mas ainda não. Não sou poeta. Não quero ser poeta. Um dia leio. Sim, já percebi que toda a gente adora estas cartas trocadas com o Rilke. Não, ainda não vou ler. Enfim, fui empurrando este livro para a lista dos títulos que conheço e digo que vou ler um dia, mas talvez não leia. Sabes como é, certo? Aquilo que aconteceu foi que numa aula de Literatura Portuguesa e Artes Visuais, algures em novembro de 2021, analisámos um poema que se dirigia a Rainer Maria Rilke. Primeiro, na minha bruta falta de memória misturada com ignorância, fiquei ali uns minutos a tentar associar o nome à minha lista de títulos que conheço e digo que vou ler um dia, mas talvez não leia. Depois lá percebi em que livro estava a pensar. O problema é que, desde aí, talvez como castigo, passei a cruzar-me com o nome Rilke naquilo a que, para mim, parecia todo o lado. Até que, no início do outono do ano passado, vi que Cartas a Um Jovem Poeta estava incluído no Kobo Plus e decidi que, pronto, se calhar, lá ia acabar a ler o livro. Já te falei da minha ressaca de ano novo em Balada para Sophie, mas não te falei do segundo livro que devorei nessa ressaca. Foi este: Cartas a um Jovem Poeta.
Cartas a Um Jovem Poeta: o que farias se pudesses trocar cartas com o teu ídolo?
Não é difícil adivinhar de que fala este livro, tendo em conta que o título é bastante auto-explicativo. Aquilo que acontece aqui é que um jovem poeta — Franz Kappus — começa uma troca de cartas com o seu ídolo e mestre — Rainer Maria Rilke. Este livro junta as cartas que Kappus recebeu de Rilke, entre 1902 e 1908. As cartas de Rilke têm alguns conselhos e perspetivas sobre poesia, mas vão além da poesia e, quase em forma de meditação, Rilke conversa com Kappus sobre criatividade, sobre críticas, sobre solidão. A sinopse da edição que li, da Cultura Editora, diz que este livro é um manual de vida. Não sei se lhe chamaria manual de vida, mas, se Rilke estiver certo e a arte for mesmo uma outra forma de vida, então acho que este é um bom livro, com perspetivas inspiradoras e curiosas sobre a arte.
Acho que invejo um bocadinho Franz Kappus. Embora não tivesse qualquer desejo de trocar cartas com Rilke — não sei o que lhe diria — adoraria poder trocar correspondência com os meus autores preferidos e receber, em primeira mão, conselhos vindos deles. Acho que, mesmo que muitas vezes pareça que tem de haver uma guerra de gerações, é uma experiência muito rica poder conhecer e discutir de forma saudável as perspetivas dos nossos pares — porque se todos fazemos o mesmo tipo de arte então somos pares.
Este livro tem apenas 45 páginas (percebes agora como o li numa tarde?), mas acredito que Cartas a Um Jovem Poeta consegue dar mais que pensar do que o tempo de leitura destas páginas e acho que isso é uma das capacidades mais bonitas que um livro pode ter.
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Letters to a Young Writer, de Colum McCann
Título original: Briefe an einen jungen Dichter
Título em português: Cartas a Um Jovem Poeta
Autor: Rainer Maria Rilke
Ano: 1929 (edição lida em PT: 2020)
Comprar*: Kobo Plus
*este link não é de afiliado.
Já me cruzei algumas vezes com este livro, mas confesso que nunca me senti assim muito tentada a ler. Se calhar, vou dar-lhe uma hipótese 😮
Dá uma oportunidade! Pode ser que te surpreenda! 😊