Não sei qual foi a última vez em que me ouviste falar sobre o Dia da Mulher, mas é possível que já me tenhas ouvido reclamar sobre este dia. Porquê? Porque eu odeio este dia. Calma, vou explicar-me: eu acho muito importante assinalar esta data como representação de um longo caminho que se tem percorrido pela igualdade de direitos entre géneros, celebrando os direitos conquistados e lembrando todos os que ainda estão por conquistar. No entanto, isto também é algo que me irrita profundamente porque é aquele dia do ano em que parece que todas as mentes retrógradas saem à rua e acho que é o dia em que mais comentários desigualitários se ouvem — irónico, não é? E quando não saem à rua para comentários desigualitários fazem o contrário e andam por aí a oferecer flores a mulheres como se o dia significasse algo para eles. Mais do que isso, chateia-me compreender, ano após ano, que a necessidade de celebrar o Dia da Mulher é cada vez maior porque estes direitos que conquistámos estão constantemente sob ataque — aqui ou no outro lado do mundo, mas estão. Odeio ter uma data que obrigatoriamente me lembra do quanto precisamos ainda de trabalhar.
Apesar destes sentimentos negativos, tenho tentado encarar este dia como um dia de celebração, de luta e de inspiração. O caminho é longo, mas também já percorremos uma boa quilometragem. Há quatro anos que não assinalava a data no blog, mas este ano queria juntar a literatura ao Dia da Mulher. Tenho-me apercebido de que, na arte, me tenho rodeado cada vez mais de mulheres. E, se as mulheres tocam cada vez mais no meu Spotify, também é verdade que leio cada vez mais mulheres e que a escrita das mulheres me inspira de uma forma diferente. Acredito que preciso da arte de ambos os géneros, mas tenho encontrado pormenores na escrita das mulheres que sinto que me ajudam a elevar a minha escrita e até a minha forma de pensar e de querer ser.
TBR: 15 livros de mulheres
Como forma de celebrar o Dia da Mulher com um foco literário, pensei em algumas opções, mas achei que aquela que se encaixava melhor era uma opção de mini-rubrica que tenho pensado fazer aqui pelo blog: Na Minha TBR. Em vez de vir falar dos livros habituais, dos quais estou sempre a falar, achei que fazia mais sentido falar daqueles que mal posso esperar por ler — os livros que tenho na minha TBR. Selecionei quinze livros de mulheres que nunca li (uma pequena batota no primeiro e no último caso, em que já li excertos das obras, mas nunca um livro completo, e no quinto exemplo… porque pode ou não ser uma mulher). O meu ponto de ligação foi pensar em histórias escritas por mulheres que sinto que vão acrescentar algo à minha vida. Entre as escolhas estão mulheres de vários pontos do mundo, com várias experiências socioculturais e até com pontos de vista diferentes.
- Um Quarto Só Meu, Virginia Woolf
- Queenie, Candice Carty-Williams
- As Raparigas de Papel, Louise O’Neill
- Os Melhores Anos, Kiley Reid
- A Amiga Genial, Elena Ferrante
- O perfume das flores à noite, Leila Slimani
- All About Love: New Visions, bell hooks
- A Breve Vida das Flores, Valérie Perrin
- A Cor Púrpura, de Alice Walker
- Niketche: Uma História de Poligamia, Paulina Chiziane
- O Meu Nome é Lucy Barton, Elizabeth Strout
- Inquieta, Susana Amaro Velho
- Cleópatra e Frankenstein, Coco Mellors
- My Year of Rest and Relaxation, Ottessa Moshfegh
- Maremoto, Djaimilia Pereira de Almeida
Ler mulheres tem-me dado esperança, sabes? Não é fácil escrever quando se é mulher, mas quando leio tantas mulheres incríveis torna-se mais fácil. Cada vez que vejo um livro incrível escrito por uma mulher eu sei que ali, naquelas páginas, há muito mais do que horas de escrita: há menos horas de sono, há culpa, há medos, há dúvidas, há uma necessidade de superação, de mostrar que vale a pena, há se calhar um inacreditável uso das 24 horas do dia para trabalhar, cuidar da casa, cuidar da família e de mais uma série de coisas que ainda parecem ser responsabilidade exclusiva da mulher. Quando leio uma mulher estou muitas vezes a ler os meus medos, as minhas dúvidas, as minhas convicções. Não acredito em dias da mulher de promoções em lojas (embora as aceite na mesma), de oferta de flores ou de mimos. Acredito, isso sim, em dias da mulher de celebrar mulheres, de lutar pelas mulheres, de valorizar mulheres.
Ao escolher estes quinze livros, escolho também valorizar quinze histórias diferentes, quinze visões do mundo, mas sobretudo escolho ter quinze novas mulheres escritoras a entrarem pela minha estante dentro e a — espero eu — inspirarem-me a continuar a lutar. Por elas, por mim, por nós. Feliz Dia da Mulher.
Um dia que seria maravilhoso não celebrar, porque era sinal que teríamos alcançado a nossa luta, a mesma igualdade de oportunidades, o mesmo respeito, a mesma valorização. Enquanto o cenário não for esse, o Dia da Mulher continua crucial.
Excelente reflexão sobre mulheres inspiradoras, que usam as palavras como arma!
Desta lista, li e adorei A Breve Vida das Flores, Inquieta e A Cor Púrpura. E é claro que já adicionei outros títulos ao meu carrinho da Wook 😀
Tenho alguns desses livros para ler!
Espero que tenhas tido um dia feliz, como em todos os outros e não apenas no dia 8 de março. 🤍
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