Devia ter uns dez anos, não sei bem, e dizia à minha bisavó que um dia ia ser doutora. Não, não queria ser médica. Queria ter um doutoramento. Porquê? Não faço ideia. Não conhecia ninguém com doutoramento, não sabia para que servia um doutoramento e nem sequer sabia como se fazia um doutoramento.
Corta para a adolescência, quando eu já sabia que queria estudar Jornalismo. O doutoramento já não estava no horizonte e um mestrado era uma hipótese, mas quando e se fizesse sentido. À medida que ia sabendo mais sobre o meio académico ia percebendo que um doutoramento não é em nada como fazer uma licenciatura e não é algo que faça sentido assim em tantos percursos profissionais dos que eu imaginava para mim.
Como fiz a licenciatura em ensino politécnico, tive uma licenciatura muito mais prática do que em muitos outros casos, o que, para mim, é uma vantagem. Quando optei por um mestrado teórico, em que a prática consiste em escrever teoria, tive de ultrapassar uma espécie de choque teórico-prático, porque mal estava habituada a aulas teóricas e nem sabia escrever ensaios académicos.
Foi precisamente a escrever ensaios académicos que dei por mim a pensar, novamente, em doutoramentos. Fariam sentido? Serviriam para mim? Deviam fazer parte das minhas opções?
Quando achei que, se calhar, até queria seguir para doutoramento
Durante o primeiro semestre gostei tanto do trabalho de pesquisa e escrita teórica das minhas cadeiras que, por momentos, não me pareceu descabido fazer disto vida. Às vezes, quando a escrita da tese está a correr bem, penso nisso, em como até gostava de escrever artigos académicos sobre coisas que me apaixonam para o resto da vida.
Cheguei a ver opções de doutoramento da Faculdade de Letras, mas, depois, surgia sempre o outro lado da barricada. Quem faz investigação académica não faz só investigação e para que mais me serviria um doutoramento? Para investir tempo, dinheiro e saúde mental? Okay. Mas e depois, profissionalmente?
Gosto muito de estudar e não me chateia pesquisar teoria e escrever sobre coisas que me interessam, mas… eu não quero ser professora universitária e sinto que preciso de um equilíbrio entre prático e teórico que não exige um doutoramento.
Honestamente, hoje, o doutoramento não é algo que contemple. Hoje, não faz sentido para mim. Daqui a um ano não sei, mas sei que, para a pessoa que sou hoje, um doutoramento não é necessário.
Os percursos profissionais pós-mestrado numa área mais teórica
Então, para que serve um mestrado teórico? Sim, podia servir para seguir para doutoramento e até pós-doutoramento e dedicar a vida a investigação e até a dar aulas. Mas também não tem, obrigatoriamente, de levar aí.
As aplicações práticas de um mestrado — mesmo teórico — podem ser muitas e todas elas dependerão dos motivos que levam a escolher aquele mestrado. Como já referi várias vezes, eu quis fazer este mestrado por ser uma área que me apaixona verdadeiramente. Claro que a paixão e a realização pessoal não chegam sempre e, no meu caso, há muito neste mestrado que faz sentido em tantas vertentes da minha vida, principalmente na escrita. Não, não é um curso que torna alguém melhor ou pior na escrita, mas, para mim, as ferramentas de escrita que a licenciatura em Jornalismo me deu funcionam ainda melhor com as ferramentas literárias que estudei e com as quais fui confrontada durante o mestrado.
Se podia seguir para doutoramento e tornar algo de que gosto numa constante? Podia, sim, mas o ser humano é tão plural que continua a haver um sem-número de percursos profissionais que sinto que fazem mais sentido para mim neste momento.