d’zrt encore no super bock arena

O momento em que as lágrimas mais escorreram pela minha cara foi o momento óbvio: Só Depende de Nós. Naqueles primeiros segundos, senti-me profundamente triste porque será sempre uma injustiça o Angélico não poder viver tudo isto. Depois, fiquei profundamente feliz. A chorar, mas feliz. Se nos visse agora, ia ficar tão orgulhoso. D’ZRT Encore foi isto, mas também foi muito mais do que isto.

Crescer a ver novelas

Quando os Morangos com Açúcar começaram, eu já via Malhação e New Wave. Lembro-me de poucas coisas da primeira temporada de Morangos, mas é uma temporada pela qual terei sempre muito carinho porque a minha bisavó via comigo a série, ao fim da tarde, e para ela o João Catarré ficou sempre a ser o Pipo (nome curioso para uma personagem de série adolescente, deixem-me já dizer). Acho, ainda assim, que a segunda temporada será sempre a mais marcante — foi a temporada que nos trouxe os D’ZRT.

Os D’ZRT foram a minha banda da pré-adolescência. Tinha dez anos quando saiu o primeiro álbum, onze quando saiu o segundo, estava entre os treze e os catorze quando acabaram, prestes a fazer quinze quando quase voltaram. Tive a sorte de a minha mãe sempre ter alimentado o meu gosto pela banda. Vimo-los ao vivo em 2005 e em 2006. Lá por casa há CDs, um livro, fotografias autografadas e um baralho de cartas da já extinta revista Super Pop. Pensámos que nunca mais iríamos voltar. Mas todos queríamos voltar.

D’ZRT Encore no Super Bock Arena

Assim que anunciaram que voltariam para um concerto (ou mais) de celebração, torci para que o Porto também os recebesse. Depois anunciaram as datas do Porto e lá fui eu comprar bilhetes. Dois. Desta vez ia ser eu a levar a minha mãe.

Parecia que faltava uma eternidade, mas lá veio maio e de repente já era dia 20 e as filas não andavam e o Porto não marcava golos e lá estávamos nós à espera, bem mais à frente do que contávamos. Percebi que ia ser um concerto muito especial quando, minutos antes de começar, os altifalantes tocaram Querer Voltar e todo o Super Bock Arena decidiu cantar, abafando a música. Foi um belo prelúdio para duas horas de concerto. Talvez tenha ficado de lágrimas nos olhos só com este momento entre fãs.

E que dizer destas duas horas? Era preciso estar lá. É absolutamente mágico ter uma sala de espetáculos cheia para ver uma banda que acabou há mais de uma década e que ouvíamos na pré-adolescência ou na adolescência. É absolutamente mágico ouvir centenas de pessoas cantar uma música de 2005 tão alto que a banda mal precisa de cantar. Será sempre mágico tentar assimilar o facto de que uma banda portuguesa vinda de uma série de adolescentes (ambos terminados há anos) consiga juntar milhares de pessoas tantos anos depois. Não sei se é a nostalgia, mas é bonito, é muito bonito.

Também é emotivo. Muito emotivo. É impossível encarar esta tour sem uma ponta de tristeza, mesmo que o objetivo seja celebrar. A verdade é que todos sentimos falta do Angélico ali. Mas talvez todos o tenhamos sentido ali também. E não me refiro ao momento [acho que já não é spoiler] em que há um holograma do Angélico ou ao vídeo que o antecede. Refiro-me àqueles pequenos momentos em que nas músicas devia entrar o rap ou àqueles momentos em que o Vintém, o Cifrão e o Edmundo paravam para olhar para o público e nós estávamos a viver o momento das nossas vidas.

setlist foi muito completa e o espetáculo teve um ritmo muito próprio, com muita energia, momentos mais calminhos (e emotivos) e ainda pausas porque o Cifrão é um homem do caraças e estava sempre atento ao pessoal do público que precisava de uma garrafinha de água. No fundo, foi uma festa completa: juntos sorrimos, cantámos, dançámos e até os momentos tristes partilhámos.

É de uma beleza inacreditável que todos nos tenhamos juntado para celebrar os D’ZRT e recordar uma época completamente diferente, quando esperávamos pelas sete da tarde para ver uma série, precisávamos de CDs para ouvir aquelas músicas e muitos nem podiam ir aos concertos porque eram longe ou porque os nossos pais não podiam pagar bilhetes e viagens. Não veria um reboot de Morangos com Açúcar, porque, por muito fixe que tenha sido acompanhar cinco temporadas, já não é algo que faça o meu género. Mas nunca perderia a oportunidade de celebrar música desta forma, de celebrar os D’ZRT desta forma. Obrigada por nos terem dado a festa que sempre quisemos fazer.

4 Replies to “d’zrt encore no super bock arena”

  1. Arrepiei-me ao ler o teu texto porque fui transportada ao 29 de abril na Altice Arena… Que noite, que magia! É impossível de explicar. Se pudesse, ia outra vez.

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