- Quando: 25 de fevereiro a 11 de março de 2023
- Gatilhos: saúde mental
Parti para a leitura de Eliete com muitas expectativas — mais do que as recomendadas. Quando li as primeiras páginas temi que fosse sair defraudada. A escrita da Dulce Maria Cardoso é divinal, sim, mas também precisa de um investimento diferente por ser tão particular. No entanto… tanto Eliete como a escrita do livro vão crescendo em nós, até à última página.
A vida normal de Eliete
Este não é um livro de heróis e vilões, não é um livro de uma vida extraordinária. Não, não. Não é esse tipo de livro. Eliete é uma personagem normal, tem uma vida normal, faz coisas normais. Talvez seja demasiado normal, quase aborrecida. É precisamente isso que torna este livro tão excecional. Eliete podia ser uma mulher que conhecemos na nossa vida — real —, com dúvidas, medos e sonhos perdidos como todos nós.
Não é fácil escrever sobre banalidades, mas Dulce fá-lo tão bem. Além disso, como é uma história passada em 2016 há uma série de referências e preocupações que reconhecemos facilmente… incluindo um golo incrível do Éder.
Aquilo que mais me fez gostar de Eliete foi ir acompanhando tranquilamente a história até que Eliete decide mudar a vida e, aí, por muito que possamos julgar a personagem e as suas escolhas, há um momento em que se percebe que a história e a personagem cresceram tanto em nós que só queremos continuar a acompanhar — e aguardamos o segundo volume da história, Dulce!
Senti-me só, desumanamente só. Já não era por não conseguir sintonizar-me com os outros, nunca se pode saber o que os outros sentem, mas por estar sozinha em casa quando todos estavam a celebrar na rua, isso era um facto. Eu estava objetivamente sozinha e de nada adiantavam as tretas da autoajuda, podemos sentir-nos mais sozinhos rodeados por milhares de pessoas do que numa cela de prisão, bla bla bla, a solidão apenas existe na nossa cabeça, bla bla bla, é na solidão que nos encontramos, bla bla bla.
Título original: Eliete
Autora: Dulce Maria Cardoso
Ano: 2018 (li a edição de 2020)
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Adorei esta Eliete e continuo a desejar que saia a segunda parte *-*
Já era feliz se conseguisse escrever 1/10 daquilo que Dulce Maria Cardoso escreve