maremoto [djaimilia pereira de almeida]

Tenho o Luanda, Lisboa, Paraíso parado na estante há demasiados meses. No entanto, quis o destino — ou o mestrado, neste caso, — que fosse Maremoto a minha estreia da obra da Djaimilia. Maremoto foi alvo de análise na cadeira de Tópicos em Comparatismo, provavelmente há coisa de um ano, no entanto, na altura, acabei por não ler o livro e apenas o folheei. Peguei nele no fim de março, enquanto tentava recuperar de uma fase complicada para a leitura. Antes de falar sobre o livro, tenho só uma pergunta: por que motivo não andamos a falar mais sobre a Djaimilia? Já debati isto com uma amiga e ambas temos a sensação de que, fora as notícias sobre os prémios que recebeu, raramente (ou nunca) nos cruzamos com ela. É pena.

Maremoto: com quantos Boa Mortes me cruzei?

Maremoto é a carta que Boa Morte escreve à filha que não conhece. Ele é arrumador de carros na Rua António Maria Cardoso e tem uma amiga que vive na paragem do elétrico 28 da Rua do Loreto. Maremoto é a história de duas pessoas marginalizadas em Lisboa, pela cor de pele, sim, mas não só, mas não é só a história de duas pessoas marginalizadas em Lisboa. É uma história sobre solidão, sobre amar uma pátria e não lhe pertencer completamente.

Volta não volta, penso que falo sozinho, me apetece mandar tudo à fava, esquecer minha carta. Só então entendo que, enquanto te procuro, Aurora, estou acompanhado.

Gostei muito da escrita e da forma como a história é narrada. Tamanha beleza na escrita só podia vir de uma história triste, que me faz olhar para mim mesma e questionar com quantos Boa Mortes me cruzei na vida, até naquelas mesmas ruas de Lisboa, e para quantos não terei olhado. Voltarei à Djaimilia em breve, sem qualquer dúvida.

Título original: Maremoto
Autora: Djaimilia Pereira de Almeida
Ano: 2021

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