- Quando: 21 de março a 26 de abril de 2023
Quando estava no secundário, a biblioteca da minha escola secundária tinha a revista Visão. Sempre que chegava uma edição nova lá ia eu ler a última página: a crónica semanal do Ricardo Aráujo Pereira. Fora esse contexto muito específico, não costumo comprar os jornais ou revistas em que ele escreve, pelo que, normalmente (salvo algumas exceções), só leio as crónicas do RAP muitos anos depois, quando finalmente sai outro livro de crónicas.
A grande questão em relação a livros de crónicas é que, por vezes, quando se escrevem crónicas sobre temas atuais estas acabam por ficar datadas. Felizmente, em Portugal a História está sempre a repetir-se e a minha memória política não é muito má. Ainda assim, acho que este é o grande problema das crónicas do RAP: muitas delas ficam presas à época em que são publicadas.
E todos compreenderam que, embora tivesse vindo para nos salvar da morte, em relação aos impostos Ele nada podia fazer, pois a omnipotência tem limites e um deles é o fisco.
Claro que dizer que o problema de algo é ser datado significa simplesmente que não há problema nenhum. Por isso é que Reaccionário com dois cês se lê tão facilmente. Muitas crónicas evidenciam a sua data, mas outras continuam tão certeiras em 2023 como eram em 2017, quando o livro foi publicado, e o grande ponto de atração da escrita do RAP está sempre presente: a ironia e o humor não nos falham.
Algo curioso: o livro termina com algumas crónicas publicadas a propósito da comemoração dos 40 anos do 25 de abril. Li essas crónicas no dia a seguir ao 49.º aniversário do 25 de abril. Achei bonito. Quis partilhar.
Título original: Reaccionário com dois cês
Autor: Ricardo Araújo Pereira
Ano: 2017
Comprar*: Wook
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Salvo erro, acho que senti menos essa questão de ficarem datadas no Idiotas Úteis e Inúteis. Ainda assim, vou querer ir ao livro que referes, porque, lá está, a escrita do RAP continua a ter o grande ponto de atração 🙂
Não percebi o que quer dizer com “estas acabam por ficar datadas”.
Todos as crónicas têm datas, as datas em que elas sairam. Tal como o livro tem uma data, a data em que foi editado.
Logo, todo o livro é datado. Datado significa que tem uma data.
Qualquer documento, se tiver uma data de registo, é datado. Se não tiver, não é.
As crónicas não vêm com a data em que foram escritas nem publicadas originalmente. Mas ficam datadas no sentido em que são sobre temas que eram atuais quando foram originalmente publicadas e depois deixaram de o ser. Portanto, são crónicas ligadas a alturas muito específicas que, sem saber exatamente qual a sua altura de publicação, exigem algum esforço de memória para tentar lembrar os contornos das situações a que se referem.
Já percebi. É uma tradução macarrónica de “dated”. Em português seria “obsoleto”, por exemplo. Nunca “datado”. Aportuguesamento não é tradução. É como quem diz “por defeito” quando quer dizer “by default”, quando, na realidade, a tradução é “por pré-definição” ou, em alguns casos, “por omissão”.