Às vezes penso nisto e não me parece real. Às vezes não parece real ter existido este livro. Às vezes não parece real ter passado tanto tempo desde que publiquei este livro. Podia deixar passar a data, até porque o livro saiu de mercado no ano passado, mas, quer queira quer não, esta é uma data marcante no meu percurso. Tal como aquele maio de 2007 é importante porque me encaminhou para a escrita literária, o 20 de julho de 2013 é um marco fundamental para muito do que aconteceu nos últimos dez anos e eu quero falar sobre isso.
Publiquei o meu primeiro livro há dez anos!
Caríssimos, o Teremos Sempre Londres faz 10 anos! Foi há uma vida, portanto. No entanto não podia deixar a data passar e, para poder dar algum contexto, quero voltar ao ponto de partida (quando éramos um só…).
Escrevi o primeiro rascunho do Teremos Sempre Londres no verão de 2010, quando tinha 15 anos, e chamei-lhe O Primeiro Dia. Não sei bem qual foi o motivo para o título da música do Sérgio Godinho me parecer apropriado, mas acredito que o final que tinha pensado dava uma certa sensação às personagens de estarem no primeiro dia do resto da vida delas ou algo do género.
Durante dois anos e meio não lhe mexi, mas no inverno de 2012/2013, depois de uns meses em que a vida não tinha corrido como eu queria, peguei nele e comecei a trabalhá-lo. Enviei-o para várias editoras tradicionais, mas não tive sorte. E depois decidi seguir o exemplo de publicação de alguém que conheço e tentei a Chiado Editora.
Foi assim que publiquei os meus dois primeiros livros e é por aí que quero começar a falar das coisas que faria diferente.
Não publicaria com a Chiado. Mesmo que significasse não publicar de todo.
Para quem ainda não estiver familiarizado, a Chiado é uma editora vanity. Ou seja todos os autores pagam para publicar, salvo alguma exceção de investimento da editora, algo raro neste tipo de chancelas. O meu contrato, de 2013, lembro, definia que eu tinha de comprar 150 exemplares a 8€. O valor de cada exemplar é o PVP do livro menos o IVA. Paguei este investimento com dinheiro de bolsas de mérito. Vendi todos os exemplares na apresentação do livro (ao preço de venda) e tive lucro (superior ao esperado). Com o retorno do investimento e o lucro paguei a edição do meu segundo livro, novamente a ter de comprar 150 exemplares mas a 10€. Recuperei o investimento, com uma margem de lucro. Para aquela altura fez sentido, mas logo a seguir deixou de fazer.
Embora algumas editoras já tenham mudado isto, na altura o trabalho da Chiado neste tipo de publicação era paginação, design e distribuição. Ou seja… deixava algo fundamental de fora: a revisão. Eu tinha 18 anos, ainda nem sequer começara a licenciatura, pelo que, obviamente, o livro tem gralhas, muitas gralhas. E eu arrependi-me logo disso quando cheguei à faculdade.
Neste momento, há muitas editoras vanity que incluem já a revisão, embora nem sempre seja um trabalho com muita qualidade.
Para mim a venda, o lucro e a distribuição não foram problema. Mas publicar num modelo destes dá-nos um certo rótulo e, a mim, além do rótulo deu-me uma tarefa que encarei com muita seriedade: eu queria escrever algo realmente bom, que provasse que eu merecia publicar, que que tinha qualidade, que eu merecia dizer que sou escritora.
Por causa disso, mas também pela forma como se começaram a publicar livros a torto e a direito só pelo negócio e nunca pela qualidade, e pela forma como muitas editoras trataram os seus autores, jurei que nunca mais me veriam pagar para publicar — mesmo que isso signifique nunca mais publicar. Mesmo que a editora a pedir-me dinheiro não fosse uma vanity. Porque sim… já não são só editoras vanity a pedir dinheiro aos seus autores. Elas dizem-se tradicionais, dizem que investem muito nos autores portugueses, mas depois pedem-lhes dinheiro. Fujam.
Investia num bom revisor.
Idealmente, um autor trabalharia sempre com um editor. No entanto, muitas vezes estamos a trabalhar ainda sem ter uma casa editorial e, por isso, não temos ninguém para trabalhar o texto connosco. Eu gostava de ter tido alguém a trabalhar comigo o Teremos Sempre Londres. Acho que a premissa é boa, mas a execução ficou aquém porque, bem, eu já disse que o escrevi aos 15 anos, certo? Acho que se tivesse investido nisto teria um livro melhorado e sem gralhas. E ele bem merecia.
Para mim tornou-se cada vez mais importante uma escrita clara e correta, sem erros que mostram desconhecimento e sem frases que dão vontade de chorar de tão mal escritas que estão. Definitivamente, teria feito isto.
Não apressava o final.
O Teremos Sempre Londres é uma história de diferença de idades em que, a certo ponto, o elemento mais velho do casal tem problemas com a justiça à conta disso. Gostava de ter explicado e explorado melhor esta parte, porque penso que o livro ganhava muito e faria mais sentido dessa forma. Muitas vezes queremos contar histórias sem engonhar e esquecemo-nos de que isso não significa que não possamos gastar o nosso tempo nas partes da história que realmente importam. E esta parte era uma dessas.
Não duvidava de mim como duvidei a seguir.
Como o meu segundo livro teve um conceito diferente e incluía textos do meu blog anterior, houve algo que não notei logo: eu não estava a conseguir criar histórias. Até à publicação deste livro eu tinha escrito vários livros e contos. Depois começou a ser difícil. Eu começava e não acabava. Eu dizia que era porque tinha contrato com a Chiado mais uns tempos e não tinha pressa, mas a verdade é que não sentia que conseguia fazer um bom trabalho e eu meti na cabeça que só ia terminar algo quando fosse realmente bom, sem dar oportunidade às histórias de se tornarem boas. Não foi fácil dar a volta a isto, mas eventualmente dei.
E se fosse hoje?
Beeeeeem, eu sei qual é o final que tenho para a Carolina e o Miguel. O final que vai além do que é visto no Teremos Sempre Londres. Se fosse hoje, escrevia esse final. Mas antes do final… se fosse hoje, queria uma capa colorida e bonitinha. Desenvolvia a parte que sei que não está bem desenvolvida. Acrescentava o epílogo para poder dar o final que sei que faria todo o sentido. Talvez desse mais detalhes em alguns capítulos. Sem estas alterações não publicava.
No futuro, talvez gostasse de fazer uma nova edição, mas há sempre várias questões que teria de resolver: faria sentido mexer no texto além da edição? Mas sem mexer no texto faria sentido publicar? Ainda me identifico com o que escrevi? O livro tem realmente valor de publicação? Se o alterasse será que ainda fazia sentido chamar-lhe Teremos Sempre Londres?
A verdade é que não sei a resposta a estas questões, nem sei se essa edição algum dia irá existir, mas sem este livro eu não estava aqui hoje, a escrever como escrevo. Foi a ver tudo o que fiz mal que me forcei a melhorar e a tentar sempre superar-me. Provavelmente sem esse choque não tinha conseguido escrever histórias melhores.
Faz tudo parte de uma jornada de crescimento, que só é possível porque, como referiste, esse livro aconteceu, porque passaste por determinadas situações, porque decidiste seguir um caminho e não o outro. Olhar para isso de forma crítica, mas sem cobrança, é extraordinário, já que te permite compreender de onde vieste e para onde vais (ou, pelo menos, para onde queres ir). Sem essa bagagem, talvez não estivesses onde estás, talvez não tivesses o conhecimento e confiança que tens hoje. E só te podes orgulhar disso: porque arriscaste, porque deste o teu melhor naquele momento.
Se um dia avançares, sabes que tens aqui uma leitora 💙
Quando penso nos meus livros publicados também percebo que mudava tanta coisa se fosse hoje…