devoção [patti smith]

Estava aqui a pensar em como falar sobre Devoção e sinto que a minha maior dificuldade está em definir o que é este livro. Talvez possamos dizer que é um livro de crónicas, mas em que algumas crónicas assumem o formato de conto? Mas também não é bem um livro de crónicas, é um livro sobre escrita, sobre histórias. Estás a perceber que está difícil defini-lo, certo? No entanto há algo que poucos conseguem fazer e Patti Smith faz parte desse grupo: pode ser difícil explicá-lo, mas é um livro que resulta.

Devoção fala sobre obsessão e sobre arte num conto sobre uma patinadora, mas depois Patti viaja: para o sul de França, para visitar a casa de Albert Camus; para Ashford, onde encontra a sepultura de Simone Weill; para Paris, onde caminha pelas ruas descritas por Patrick Modiano. E no meio disto continua a escrever — principalmente a escrever sobre escrever. Acho que esse é o grande cerne do livro: a escrita.

Porque escrevemos?, pergunta em uníssono o grande coro de quem escreve.
Porque não nos podemos limitar a viver.

Há uma grande reflexão sobre a arte e, acima de tudo, o porquê de escrevermos. Por que raio nos dedicamos a esta arte? O que a torna tão fundamental? Enquanto alguém que escreve, senti estas reflexões muito próximas e senti-me acolhida nesta Devoção.