história de quem vai e de quem fica [tetralogia napolitana iii – elena ferrante]

Não acredito que três dos quatro livros da tetralogia napolitana da Elena Ferrante já foram! Eu sei que ainda tenho um por ler e que é maior, mas já estou a sentir-me abandonada. A cada livro tenho-me sentido mais e mais envolvida com a vida da Lila e da Lenù e não, não estou preparada para me despedir delas.

Em História de Quem Vai e de Quem Fica acompanhamos as personagens naquilo a que Elena Ferrante chama tempo intermédio, ali do início dos 20 aos 30 e poucos. A Lenù continua a ser a narradora e, por isso, durante alguns capítulos nem sabemos que é feito da Lila agora que foi viver com Enzo. É um livro em que, em vários momentos, a amizade de ambas se parece aproximar, mas, como sempre, há tantos outros momentos em que claramente se afastam.

Lenù publicou um livro que está a ganhar êxito e tem de começar a pensar no que escrever mais, mas também tem o casamento com que se preocupar. Já Lila continua a trabalhar na fábrica, cada vez mais em modo exploração, e percebe que mesmo fora do bairro o bairro continua a tê-la sob controlo.

Caminhei muito tempo pelas ruas desertas, muito mais seguras do que quando estavam cheias de gente. O céu tornou-se violáceo. Cheguei ao mar, uma folha amarelada sob o céu pálido, com raras nuvens de rebordos rosados. […] Quem sabe o sentimento que guardaria de Nápoles, de mim, se acordasse todas as manhãs, não no bairro, mas num daqueles prédios do litoral. O que procuro?

Gostei muito deste livro. Sinto que quanto mais envolvidos ficamos na história mais fácil fica devorar capítulo atrás de capítulo. Também é um livro que tem muitas mais questões sociais associadas. O fascismo vs. comunismo, a máfia, as revoluções estudantis de França e, claro, o feminismo. É muito interessante, por exemplo, ver a Lenù perder a voz de escrita dela por motivos muito machistas e recuperá-la precisamente através do feminismo.

Mais uma vez, há uma série de tramas relacionais interessantes. A relação da Lila com o Enzo é algo que gosto de ler pelo lado do trauma evidente que a Lila tem. Mas também não deixa de ser interessante perceber todo o contexto social e política de Itália no fim dos anos 60, início dos anos 70 através de duas vidas tão diferentes como as de Lila e Lenù. Haverá algo mais diferente do que a vida da operária fabril que tem de se esfolar a trabalhar para ganhar uma miséria e cuidar do filho e a vida da escritora que casa com alguém mais rico e engravida e de repente deixa de poder ser algo além de mãe e dona de casa? Talvez não.

Pelo final do livro, estou a antever um último volume em que vou ter de ler muito sobre o Nino, personagem que odeio com todas as forças, mas também estou muito curiosa para ver como evolui a vida da Lila agora que não só tem um trabalho importante mas também se voltou a prender nas teias da máfia.

Título original: Storia di chi fugge e di chi resta
Título em português: História de Quem Vai e de Quem Fica
Autora: Elena Ferrante
Ano: 2013 (PT: 2015)

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