- Quando: 22 a 27 de dezembro de 2023
Na altura da Feira do Livro do Porto eu e a Andreia combinámos um pequeno desafio: íamos escolher um livro para a outra comprar. Eu desafiei-a a comprar o Pessoas Que Conhecemos nas Férias, da Emily Henry, visto que comédia romântica não é um género habitual para ela, e ela desafiou-me a comprar A Máquina de Fazer Espanhóis, do Valter Hugo Mãe. Nunca tinha lido a obra dele, por isso pareceu-me a forma perfeita para finalmente descobrir este autor.
A Máquina de Fazer Espanhóis tem como cenário um local sobre o qual não gosto muito de ler: um lar. A minha mãe trabalha num centro de dia e, por isso, habituei-me a crescer entre velhos. Sei que há muitos lugares que não fazem o trabalho como deviam, mas tenho tendência a torcer por lugares como os centros de dia e os lares porque sei o quanto são importantes para tantas pessoas. Também por isso custa-me que sejam espaços muitas vezes retratados como cemitérios dos vivos, como dizia uma velhota da minha aldeia. Sim, são espaços com uma certa tristeza, mas também são mais do que isso. Por não ter um gosto particular por ler sobre estes lugares estava curiosa em perceber como seria criado este lar.
A personagem principal, antónio silva, vai para um lar aos 84 anos, depois da morte da mulher, laura. Esta mudança é algo que o magoa e o revolta. Sente-se como um fardo despejado no lixo. No entanto, no lar, para sua surpresa, acaba por fazer amigos e até viver ali numa espécie de realidade limitada que também o faz pensar no passado, nos tempos da ditadura e em como ele sempre foi muito mais cooperativo do que revolucionário.
procurou um silêncio limpo como uma folha muito limpa onde pudesse escrever uma frase mais digna e disse, um dia essa saudade vai ser benigna. a lembrança da sua esposa vai trazer-lhe um sorriso aos lábios porque é isso que a saudade faz, constrói uma memória que nós nos orgulhamos de guardar, como um troféu de vida.
Não me lembrei de que o Valter Hugo Mãe tem por costume escrever em minúsculas, pelo que foi uma surpresa agradável. Acredito que a escrita dele não entre à primeira em toda a gente, porque além das minúsculas não usa marcas de diálogo na maior parte do livro, mas foi algo de que gostei, senti que era uma história muito voltada para a oralidade. Também gostei de este ser um livro com algum humor (como a história o esteves da tabacaria, por exemplo) e de ter uma personagem com quem conseguimos ter alguma empatia mesmo que nem sempre compreendamos as suas atitudes.
Título original: A Máquina de Fazer Espanhóis
Autor: Valter Hugo Mãe
Ano: 2010 (li a edição de 2016)
💙💙💙