idiotas úteis e inúteis [ricardo araújo pereira]

Sinto que escrever sobre os livros de crónicas do Ricardo Araújo Pereira se torna um pouco repetitivo porque, gostando mais ou menos do conjunto, acabamos por ter sempre as mesmas coisas a dizer sobre o autor. Idiotas Úteis e Inúteis não altera por completo essa condição. Tinha comprado este livro no natal de 2021 e era o único livro de crónicas dele, à exceção do livro de crónicas futebolísticas, que me faltava ler pelo que achei que juntava o útil ao agradável ao começar o ano a lê-lo, ainda por cima sendo ele dos autores escolhidos para o Alma Lusitana de janeiro.

Desde que começou a publicar na Tinta-da-China, tenho lido as crónicas do RAP em formato livro mais do que em formato jornal. Claro que, como ele escreve para A Folha de São Paulo havia sempre um conjunto de crónicas que só leria se viessem em livro. Gosto muito das crónicas dele, mas confesso que os livros que incluem as crónicas escritas para A Folha são aqueles de que mais gosto. Neste caso, são crónicas escritas entre setembro de 2018 e agosto de 2020.

Todos os anos eu faço as minhas resoluções. No novo ano é que eu vou ser melhor pessoa. Desta vez não falha. Vou comer melhor, fazer exercício, beber menos. Quinze dias depois, estou de volta ao velho eu. O esforço para ser melhor dura duas semanas, no máximo. Fazer um contrato comigo mesmo é nisso que dá. Bem feito, para eu aprender a não firmar acordar com gente que não é de confiança.

Acho que, aqui, as crónicas dele vivem menos de atualidade, com acontecimentos datados, e, em vez disso, têm muito mais de observação, algo em que acho que o RAP é exímio. Mesmo as crónicas mais de atualidade, sobre Bolsonaro, Trump, Jorge Jesus ou o Especial de Natal da Porta dos Fundos, acabam por funcionar bem e não exigem grande esforço de contextualização.

Como em qualquer bom cronista, sabemos sempre que podemos contar com o RAP para pegar na mais pequena — e quase insignificante — questão do dia-a-dia e dar-lhe contornos nos quais nunca pensámos ou com os quais nos identificamos de imediato, sempre com a dose habitual de humor. Nunca se perde quando se lê uma crónica dele. Pode não se ganhar, mas também não se perde.

O RAP tem um livro novo, Coisa Que Não Edifica Nem Destrói, aliado ao podcast com o mesmo nome. Como tenho acompanhado o podcast vou aguardar para comprar e ler.

Título original: Idiotas Úteis e Inúteis
Autor: Ricardo Araújo Pereira
Ano: 2020

Este livro interessa-te?

2 Replies to “idiotas úteis e inúteis [ricardo araújo pereira]”

  1. Sinto a mesma dificuldade, porque não vamos estar a desenvolver a fundo os temas das crónicas, correndo o risco de partilhar em demasia, mas também parece que, centrado só no autor, dizemos sempre o mesmo. Vida difícil ahahah
    As crónicas para a Folha de S. Paulo são mesmo uma preciosidade!

    Obrigada por leres para o Alma <3

partilha a tua teoria...