- Quando: 7 e 8 de dezembro de 2023
- Gatilhos: violação
Andava para comprar O Lugar das Árvores Tristes há uma eternidade, mas parecia que ou o livro ficava para trás nas wishlists ou não me aparecia à frente nas livrarias. Estive para o comprar para a leitura conjunta do Livra-te, em abril, mas não era uma boa altura. Adiei novamente. Em setembro, na Feira do Livro, ainda o procurei, mas nada. Quando fiz anos a Andreia decidiu que chegava desta brincadeira e ofereceu-me um exemplar. Já não havia desculpas para acabar mais um ano sem finalmente conhecer a Lénia em versão escrita de livro.
Tinha muito bom feedback, mas na verdade não sabia realmente de que tratava o livro pelo que fui levada para estas aldeias alentejanas sem saber muito bem o que me ia acontecer. O Lugar das Árvores Tristes começa em 1992. Isabel gosta de passear pelo cemitério da aldeia e conhece a história de todos os que ali se encontram enterrados… excepto da dona Eulália. Quando tenta perceber o que aconteceu à senhora toda a gente dá respostas fugidias e Isabel fica intrigada. Tenta perguntar à mãe, Lurdes, mas a mãe também não lhe dá respostas. Quando descobre que a mãe não nasceu naquela aldeia e se mudou para lá na adolescência, Isabel encontra os diários da mãe e é transportada para 1968 onde, numa aldeia ao lado, Lurdes crescia despreocupada até que algo horrível lhe acontece.
porque nas aldeias tudo se sabe, mesmo aquilo que ninguém diz.
Sei que dizer que algo horrível acontece a Lurdes explica muito pouco, mas realmente revelar muito mais do que isto parece tirar alguma da magia de ficar preso à história de Lurdes — e há uma grande possibilidade de se ficar preso a esta história. A escrita da Lénia prende e conta de uma forma simples uma história que em si tem zero de simplicidade.
Em primeiro lugar temos um relato de aldeia que, embora seja no Alentejo, se aproxima das aldeias da beira que eu conheço. E, como tal, indicia à partida muito daquilo que vamos ver das personagens. São aldeias do fim dos anos 60, mas sinceramente há coisas que não mudam.
Em segundo lugar as personagens dão a vida a esta história de uma forma muito específica. Num ambiente muito marcado pela ligação à Igreja e pelo temor a Deus, há um padre com más intenções e ainda assim intocável. Numa época ainda mais machista, há uma personagem que não se deixa vergar apesar de tudo. Numa família com segredos, Isabel não desiste de tentar compreender melhor de onde vem e, acima de tudo, de onde vem a mãe.
Li a primeira parte tranquilamente, mas devorei o resto do livro numa tarde. A escrita a Lénia consegue de facto representar a história que conta e não esquece a maneira como as suas personagens se expressariam. Gostei particularmente do facto de a história deixar interesse em saber mais, mas sem ficar aquela sensação de que faltou algo. O que falta, isso sim, é ter mais livros da Lénia para ler.
Foi um gosto mostrar que o livro da Lénia não é como Leiria 😀
Fico mesmo feliz por teres gostado! Esta história escalou para a lista das minhas favoritas e mal posso esperar por ler mais coisas da Lénia
Não conhecia, admito.