- Quando: 16 a 20 de outubro de 2023
- Gatilhos: violência; racismo e discriminação
Já sabes que eu sofro de uma condição que me leva a acumular livros por ler, certo? Também já sabes que, de vez em quando, dou por mim a ver ebooks no kindle que foram comprados há meia eternidade, certo? Pronto, foi o que aconteceu com o The Hate U Give. Queria muito lê-lo e comprei-o numa promoção no verão de 2021, mas estava sempre a deixá-lo de parte — como acontece regularmente. Acontece que, em outubro, durante o desafio de Halloween da Elga (@quemmelera) houve hipótese de fazer leituras conjuntas e acabei por me juntar a um grupo que ia ler este livro.
The Hate U Give é um livro muito atual, narrado por Starr. Starr é negra e movimenta-se entre dois mundos aparentemente sem ligação: o bairro pobre (e negro) e a escola super chique em que estuda (rodeada de brancos). O equilíbrio aparente entre estes dois mundos começa a desaparecer quando Starr vai a uma festa e as coisas começam a dar para o torto. Starr decide regressar a casa de boleia com Khalil, amigo de infância. Só que Khalil é mandado parar pela polícia e é brutalmente assassinado. Assim mesmo, sem estar armado. Onde é que já vimos isto, não é? Estes acontecimentos não só chamam a atenção dos meios de comunicação, mas também provocam o início de uma série de protestos no bairro e fora dele.
That’s the problem. We let people say stuff, and they say it so much that it becomes okay to them and normal for us. What’s the point of having a voice if you’re gonna be silent in those moments you shouldn’t be?
Ler este livro transporta-nos automaticamente para a realidade. Por muito que seja uma história de ficção já vimos isto acontecer tantas vezes que é impossível não ler The Hate U Give com um qualquer momento americano recente em mente. Esta ligação à atualidade foi a parte de que mais gostei. Já tinha visto partes da adaptação cinematográfica, mas não tinha muito da história presente pelo que não sabia que, no livro, há ainda muito tempo em que Starr não fala com ninguém sobre o facto de ter estado presente quando Khalil foi morto.
Enquanto livro para um público jovem-adulto, acho que toda a questão da raça e da identidade é um ponto fundamental. Percebemos que a Starr nunca mostra a sua identidade em nenhum dos seus múltiplos contextos e acaba apenas por criar versões polidas daquilo que acha que deve ser em cada ambiente. Quando há um período de aceitação há um choque, mas também sinto que há finalmente uma abertura identitária muito importante naquela fase da vida.
Título original: The Hate U Give
Título em português: O Ódio que Semeias
Autora: Angie Thomas
Ano: 2017
Ando há uma eternidade para ler este livro, tenho mesmo de arriscar!