- Quando: 1 de janeiro de 2024
Não sou propriamente supersticiosa com o primeiro livro do ano. Gosto da ideia de começar um livro em vez de trazer algo começado do ano anterior, mas não me obrigo a terminar algo a 31 de dezembro. Se acontece tudo bem, se não acontece está tudo bem também. Este ano, por acaso, aconteceu que ia começar um novo ano com a possibilidade de começar um novo livro e, por isso, podia escolher o primeiro livro do ano da forma que quisesse. Escolhi A Religião dos Livros — Alfarrabistas, Livrarias e Livreiros, o ensaio que o alfarrabista Carlos Maria Bobone publicou na coleção da Fundação Francisco Manuel dos Santos.
Este ensaio interessava-me particularmente porque o funcionamento do universo dos alfarrabistas me é desconhecido e gosto desta ideia de conhecer várias vertentes do mundo literário, principalmente na vertente do livro enquanto objeto de coleção e, também, enquanto produto.
A livraria ideal, na verdade, não tem livros. É impossível fugir ao paradoxo pouco interessante, mas a livraria ideal é realmente a livraria que acabou. Isto porque os livros só estão nas estantes se ainda ninguém os quis. A livraria não é, como a biblioteca, um depósito com aspirações à engorda perpétua. O ideal da livraria é a circulação, o permanente desaparecimento dos livros que vegetam como órfãos nas suas estantes.
O livro foca-se maioritariamente nos alfarrabistas, ou não fosse essa a experiência do autor, e foi interessante ler sobre coisas como leilões de livros ou compras de bibliotecas particulares, situações que tinha uma vaga ideia de existirem, mas sobre as quais nunca tinha lido. Apesar de tocar nos casos das livrarias independentes e dos livreiros para lá dos alfarrabistas, sinto que é um livro muito mais para estes últimos.
Gostei particularmente da nota positiva com que termina. O livro foi publicado em 2022, com o processo de escrita ainda a apanhar o início da pandemia, logo há alguns dados posteriores que não estão aqui, por isso é interessante chegar ao final do livro e perceber que há, de facto, algum positivismo na forma como o autor vê o mercado livreiro apesar das críticas que possa ter.
O ensaio é curto, com menos de 100 páginas de texto, mas lê-se muito bem e é mesmo uma leitura interessante para quem se interessa por livros.
Título original: A Religião dos Livros — Alfarrabistas, Livrarias e Livreiros
Autor: Carlos Maria Bobone
Ano: 2022
O mundo dos alfarrabistas também não é o que conheço melhor, por isso, acho interessante que aborde esse tema/essa experiência. Já está na lista 🙂