- Quando: 5 a 7 de janeiro de 2024
Não contava receber prendas no Natal, mas O Hóspede de Job acabou por chegar lá a casa. Apesar de já ter lido Cardoso Pires há alguns anos, não era um autor que tivesse na lista de prioridades pelo que acabou por ser uma boa desculpa para explorar fora da minha estante. O Hóspede de Job foi escrito na década de 1950, na época feudal alentejana. Claro que o Alentejo que ali vemos, em plena ditadura, é cheio de disparidades sociais e pobreza, muita pobreza.
O Hóspede de Job é um livro curto, de capítulos curtos, mas que se lê com calma, aproveitando cada relato e tentando transpor cada personagem para a realidade. Apesar de haver uma grande mestria na escrita de Cardoso Pires, senti-a simples de acompanhar e bem representativa daquela região, mas também de cada personagem.
A vida é barata e tranquila, e os portugueses, embora tristes, são acolhedores. Acredita, darling, que começo a estudar seriamente essa possibilidade…
Há uma coisa muito curiosa em ler histórias passadas em meios rurais: todas me parecem soar próximas, mesmo que não sejam do meio rural de onde eu venho. Mais curioso ainda é quando não são contemporâneas e, ainda assim, não deixam de soar próximas, reconhecidas. O Hóspede de Job está cheio de crítica social e política, como não podia deixar de ser pela época em que foi escrito e pela pessoa que o escreveu.
Confesso que fiquei com vontade de reler A Balada da Praia dos Cães. Li-o há muitos anos e sinto que na altura se calhar não o consegui analisar e aproveitar na sua totalidade, precisamente porque a escrita de Cardoso Pires tem uma força disfarçada de subtileza que pode facilmente escapar.
Título original: O Hóspede de Job
Autor: José Cardoso Pires
Ano: 1963 (reedição: 2021)
Nunca li o autor, mas estou tentada a arriscar!