- Quando: 29 de janeiro a 3 de fevereiro de 2024
- Gatilhos: saúde mental; abuso de substâncias
Sabia que era sobre um professor, mas só fui ver a sinopse de Stoner quando anunciaram os livros de fevereiro do Clube do Livra-te. Pareceu-me uma boa escolha e, como estava incluído no Kobo Plus, decidi partir à descoberta deste livro de John Williams. Não sabia o que esperar, mas fui surpreendida com um livro do qual acabei a gostar muito.
Stoner é a história de William Stoner, filho único de um casal de agricultores, nos Estados Unidos do fim do século XIX, início do século XX. O pai sugere que Stoner vá para a Universidade do Missouri estudar agricultura. Uma das aulas obrigatórias do curso é literatura e Stoner acaba por se apaixonar pela área, trocando de curso no final. O livro vai-nos contando este percurso de William Stoner. Depois da licenciatura, há o mestrado e enquanto se prepara para o doutoramento começa a dar aulas na universidade. Depois, conhece Edith, com quem casa… mas vive um casamento diferente do que esperava. Isto tudo enquanto há uma guerra mundial, a crise de 1929, outra guerra mundial…
A história de Stoner é a vida da sua personagem principal, uma personagem que nos vai conquistando aos poucos, mas que promete ficar connosco durante muito tempo. Aquilo que achei que me afastaria acabou por ser aquilo que mais me aproximou do livro: a escrita. É uma escrita muito factual, quase académica, que só me fazia lembrar verbetes, mas mais detalhados. Como John Williams era, ele próprio, professor universitário na Universidade do Missouri, talvez haja aqui uma explicação simples para aquela escrita e até para a história que ele quis contar.
— Ainda não percebeu, Sr. Stoner? — perguntou Sloane. — Ainda não descobriu essa verdade sobre si próprio, sobre a sua natureza? O senhor vai ser professor.
De repente, Sloane pareceu-lhe muito distante e as paredes do gabinete recuaram. Stoner sentiu-se suspenso na vastidão do ar e ouviu a sua própria voz perguntar:
— Tem a certeza?
— Tenho — respondeu Sloane baixinho.
— Como é que sabe? Como é que pode ter a certeza?
— É amor, Sr. Stoner — disse Sloane alegremente. — 0 senhor está enamorado. É tão simples quanto isso.
Li algures que o John Williams afirmava que este era um livro sobre trabalho e percebo o que ele queria dizer. Embora a vida pessoal de Stoner surja, a verdade é que o foco é sempre o seu amor pela literatura e, por conseguinte, pelo ensino. Há um grande sentimento de trabalho em Stoner, algo perfeitamente marcado quando Stoner opta por ficar na Universidade em vez de se voluntariar para a I Guerra, por exemplo. Nessa altura, o professor Sloane diz-lhe que aquela escolha influenciará tudo na sua vida — e acaba mesmo por o fazer.
Há, também, outro ponto curioso sobre este livro. No início da história é dado a entender que Stoner, apesar de tudo, acabou por ser um professor esquecido. Curiosamente, o livro, na realidade, também foi um livro meio esquecido. Foi lançado em 1965, mas recebeu pouca atenção na altura. Só posteriormente, com novas edições, acabou a ganhar reconhecimento. Sinto que, na verdade, a história de Stoner seria um bocadinho assim.
Stoner é um livro de camadas, sim, mas em todas elas se sente que esta personagem não nos largará mais. A sua vida, a sua história, talvez, mas Stoner é mais do que a sua história. Uma boa surpresa, num livro que leva o seu tempo a contar a sua história, numa escrita quase sem sentimentos que nos deixa sentimentais. Uma proeza que só alguns conseguem.
Este livro 💙
Não conheço, mas aprece interessante 🙂