- Quando: 6 a 10 de fevereiro de 2024
Acho que este livro representou muito bem a minha relação com o trabalho do Bruno Nogueira: de umas coisas gostei, de outras nem por isso. Isto acontece-me regularmente com o trabalho do Bruno. Há coisas de que gosto e há outras que não fazem o meu estilo. Não preciso de dizer que não sou uma fã regular, pois não? Às vezes ouço o podcast, mas nem sempre. Às vezes leio as crónicas, mas nem sempre. Esta foi, aliás, a primeira vez que li um livro do Bruno Nogueira e, por isso, também foi a primeira vez em que li tantas crónicas dele juntas.
Aqui Dentro Faz Muito Barulho não é um livro de crónicas essencialmente humorísticas, embora possam ter humor, e gostei particularmente disso. O livro reune crónicas com os mais variados temas — dos abusos sexuais na Igreja à laranjeira da casa da avó —, com abordagens que variam em tamanho e em sentimento. Há até uma crónica que começa com o Bruno a dizer que acha que escreve mais crónicas tristes do que alegres e a sensação com que fiquei é semelhante.
Não é fácil aceitarmos que há amigos que não são para sempre, são para um período da nossa vida em que sermos amigos era a mesma coisa para um e para outro. Depois muda a idade, muda a vida, o trabalho mete-se pelo caminho, aparecem filhos, os gostos mudam. O divórcio numa amizade nem sempre é de comum acordo, ninguém quer perder o que acha que é dela. Mas no fim, nenhuma amizade se aguenta sem ter onde se agarrar.
Não sei se diria que são crónicas tristes, mas são muito melancólicas e, por vezes, vulneráveis. Se é o estado de espírito que se espera de um humorista? Talvez não, mas é algo comum no Bruno Nogueira e atrevo-me a dizer que gostei dessa ideia de melancolia e vulnerabilidade. Além de tudo isto, não podemos esquecer as ilustrações belíssimas do Juan Cavia.
Aqui Dentro Faz Muito Barulho é uma leitura tranquila e curta que dá acesso ao ruído que habita dentro da mente de Bruno Nogueira. Não acho que vá ser um livro de crónicas marcante para o resto da minha vida, mas destaco as crónicas “Elogio à dúvida” e “A solidão escolhida”.
Tenho alguma curiosidade em ler.