- Quando: 26 a 29 de fevereiro de 2024
- Gatilhos: guerra; discriminação.
Ao longo dos anos, a Alexandra Lucas Coelho (ALC, daqui em diante) tornou-se um exemplo de jornalismo de excelência na minha vida. Lembro-me tão bem do entusiasmo com que o Paulo Moura falava do trabalho dela nas aulas de Jornalismo de Imprensa ou de Jornalismo Literário. Estando habituada aos trabalhos jornalísticos dela, há dois anos acabei por ler Caderno Afegão e fiz um ensaio sobre Vai, Brasil para uma cadeira de mestrado. Há algum tempo que queria ler o primeiro livro da autora e esta reedição, desta vez pela Caminho, chegou na hora certa — para mim e para a atualidade.
Oriente Próximo foi publicado originalmente em 2007, resultado das várias viagens que a ALC fez para Israel e a Palestina entre 20005 e 2007. Não deixa de ser curioso como um livro do início do século parece assentar em 2024 de uma forma tão perfeita. Há reportagens escritas de propósito para o livro, crónicas e, acima de tudo, um testemunho muito rico daqueles territórios no início dos anos 2000 e de como já aí se podiam anunciar muitas questões que foram surgindo ao longo dos últimos anos, incluindo (principalmente) o ataque do Hamas no sul de Israel.
Como qualquer trabalho de bom jornalismo, Oriente Próximo traz perspetivas diversas mesmo que saibamos perfeitamente qual é a opinião da ALC sobre a situação — opinião com a qual concordo. Ter depoimentos israelitas e palestinianos, de judeus e de muçulmanos, de homens e de mulheres, de sionistas e de não-sionistas… esta pluralidade de vozes é essencial, mesmo que sejam pessoas que não estão do lado que consideramos certo. Diz-se muitas vezes que a História se conta de forma diferente de acordo com o resultado: a História dos Vencedores é diferente da História dos Vencidos. É por isso é que importante ter visões mais alargadas, que não se contagiem pelos vencedores e que não desvalorizem os vencidos.
Mas ao ganhar esmagando os palestinianos, Israel abrirá o seu próprio túmulo, a sua própria derrota. Porque o poder não pode fazer Israel sobreviver para sempre. Só a paz e a justiça podem fazer Israel sobreviver. O poder da América ainda vai desaparecer, e depois disso ainda haverá palestinianos. Os judeus foram esmagados muitas vezes e no fim estabeleceram um Estado com a ajuda do mundo porque o mundo se sentia culpado».
O caso da Palestina foi algo que só compreendi por investigação e informação própria. Lembro-me de ler Segunda Guerra Mundial, um calhamaço do Martin Gilbert, e de ficar com muitas questões. Prometi que leria o da Primeira Guerra e voltaria a este para compreender melhor, mas já passaram mais de dez anos. Lembro-me de não perceber qual era o sentido de os países se sentirem tão culpados que iam dar terra a judeus sem pensar em quem já estava lá. E, claro, tinha logo de ser terra num local de adoração de tantas religiões. Sempre a religião.
A questão palestiniana não se esgota em resumos curtos e pouco contextualizados, mas a verdade é que quanto mais contexto temos mais compreendemos o que se passa. Oriente Próximo é um livro denso — pelo tema e pelas informações que traz. Li-o no Kobo (está disponível no Kobo Plus), mas não sei se no futuro não irei comprar um exemplar físico. A ALC é uma jornalista exímia e este livro traz também testemunhos israelo-palestinianos muito importantes e pertinentes. Acima de tudo, é um livro que continua a explicar-nos o passado que tanto influencia o presente. Voltarei à autora ainda este ano.
Título original: Oriente Próximo
Autora: Alexandra Lucas Coelho
Ano: 2007 (reedição 2024)
Não conhecia 🙂