- Quando: 15 a 19 de março de 2024
- Gatilhos: violência, racismo, machismo.
A Cor Púrpura é um daqueles livros que fui adiando e não sei ao certo porquê. Primeiro adiei a compra. Depois decidi oferecer-mo na minha já habitual compra literária de aniversário, em 2020. Mas continuei a adiar lê-lo. Três anos e tal. E não sei ao certo porquê. Agora que finalmente estou investida em limpar a lista de livros por ler posso dizer que não precisava de ter adiado, mas também estou contente por o ter lido agora, principalmente porque veio depois de alguns livros que me desiludiram e este trouxe a sua beleza para melhorar as leituras.
A Cor Púrpura é narrado através de cartas, as cartas que Celie, de 14 anos, escreve a Deus para tentar compreender e relatar aquilo que se passa na sua vida. A mãe morreu e é vítima de abuso por parte do homem que acha ser seu pai. Alienada da irmã, Nettie, e dos dois filhos, é oferecida para casar com um homem que a maltrata. Tudo isto parece receita para desastre, mas é então que ela conhece Shug Avery, a amante do marido, que a vai ajudar não só a descobrir onde está a irmã, mas também a descobrir muitas outras coisas belas da vida.
Além das cartas de Celie temos, a partir de certo ponto, as cartas que Nettie ia enviando à irmã, alternando então a narração entre a vida de Celie e a vida de Nettie, muitas vezes opostas, mas com uma particularidade muito interessante na forma marcante como as suas vozes são díspares.
Me sento nesta casarão, sozinha, a tentar costurar mas de que serve costurar? De que serve seja o que for? Tar viva começa parecer um esforço horrivel.
Na edição que li, há uma nota da Tânia Ganho, a tradutora da obra, a explicar como escolheu traduzir o livro. Se as cartas da Nettie são escritas numa língua muito correta, as de Celie são escritas por alguém sem estudos, que escreve como fala. Não imagino o desafio que terá sido encontrar em português formas de traduzir corretamente um inglês errado, mas acho que o trabalho foi bem conseguido. Não digo que nos adaptamos facilmente à forma de escrita das cartas da Celie, porque isso não acontece. A escrita causa estranheza por ser propositadamente com erros, mas quando nos habituamos são capítulos que passam a voar.
A Cor Púrpura é, sobretudo, um livro sobre ser mulher e, particularmente, sobre ser mulher negra numa época particularmente difícil para ser mulher e, principalmente, mulher negra. É sobre a violência e a busca por algo superior, que nestas personagens acaba por ser a busca por Deus. É racismo, machismo, violência, colonialismo.
Fascinou-me sobretudo assistir ao crescimento da Celie, de menina sujeita a uma violência tremenda a mulher que procura o seu próprio prazer e que, por fim, se torna uma mulher independente, com um crescimento psicológico notório e admirável. Tive mesmo vontade de a abraçar. Agora quero assistir às duas adaptações cinematográficas (a de 1985 e a de 2023).
Título original: The Color Purple
Título em português: A Cor Púrpura
Autora: Alice Walker
Ano: 1982 (PT: li a edição de 2018)