- Quando: 10 a 13 de abril de 2024
- Gatilhos: luto; saúde mental
Quando o livro chegou a Portugal interessou-me logo, mas esperei pela Feira do Livro do Porto para trazer Todos os Amanhãs para casa. A Inn disse-me que seria um bom livro para a primavera e, sem questionar, decidi acatar a sugestão dela e deixá-lo para a primavera. Não sabia que, ao deixá-lo para abril, ia terminá-lo no dia 13, um dia especial na história. Uma daquelas bonitas coincidências que surgem por aí.
Todos os Amanhãs é uma história de luto. Amande Luzin perde o marido e a filha e decide refugiar-se numa casa de campo, longe de tudo, sem abrir portadas. Amande só quer viver no escuro e ultrapassar aquele que devia ser um verão feliz. A casa que arrenda pertencia a uma viúva, a senhora Hugues, que morreu entretanto, e um dia, depois da visita da filha da dona da casa, Amande descobre os diários e calendários da senhora Hugues. Estes diários estão cheios de instruções para tratar do jardim, preparar receitas e até dicas caseiras, tornando-se também uma espécie de guia para Amande. Aos poucos, enquanto tenta recuperar o jardim, ela tenta também recuperar-se a si própria, sem saber como o pode fazer.
Já não há horas. Já não há datas. A partir daquele momento, existem tão-só os em breve e os mais tarde. Acabaram-se os dias, bem como as noites. Apenas eu e a minha dor nesta casa silenciosa.
Gostei do livro, mas não tanto quanto esperava. A escrita é apelativa e bonita e cria-se facilmente alguma empatia com as personagens, sentindo quase o luto delas como se fosse nosso. No entanto, em alguns momentos sinto que me desliguei da história, em particular quando começa a haver alguma prevalência da ideia de espiritualidade. Sei que, em luto, nos agarramos ao que for preciso para nos mantermos à tona, mas como espiritualidade não é algo que me faça sentido acho que essa resistência me fez só revirar os olhos e torcer para ela se deixar dessas coisas.
Percebi, ainda assim, os motivos pelo quais a Inn me disse que era um bom livro de primavera: em primeiro lugar, acho que tudo o que envolve jardins chama a primavera; em segundo lugar, a primavera acaba por ter algum peso na narrativa; em terceiro lugar, o processo de luto parece surgir com as estações do ano como analogia. Será que renascemos do luto como um jardim pode renascer na primavera? Esta ideia de um jardim poder ser fundamental neste luto foi algo de que gostei e que deu beleza à história, sem dúvida.
Título original: Les Lendemains
Título em português: Todos os Amanhãs
Autora: Mélissa da Costa
Ano: 2020 (PT: 2023)