os melhores anos [kiley reid]

Tenho uma história curiosa com este livro. Comprei-o quando saiu, em fevereiro de 2022, e comecei a ler as primeiras páginas num dia que acabou por definir todo o meu ano. Fiquei-me pelas primeiras páginas e nunca mais lhe peguei. Queria lê-lo, mas parecia que ele fazia questão de me lembrar aquele dia e isso irritava-me. Felizmente, a memória foi esmorecendo e a irritação também. Acabei por lhe pegar num dia de junho em que tinha muito tempo entre viagens longas de metro e esperas para reuniões, já sem grandes ideias em relação àquilo que me interessou no livro na altura.

Os Melhores Anos traz duas personagens femininas interessantes: Emira Tucker, uma jovem negra, que é acusada por um segurança de supermercado de ter raptado uma criança, a bebé Briar, da qual é baby-sitter; e Alix Chamberlain, a mãe de Briar, uma blogger feminista, que, para tentar compensar Emira, quer aproximar-se dela, mas a aproximação cria algum receio em Emira. A história ganha densidade quando surge uma ligação diferente entre as duas mulheres, algo que as vai fazer projetar uma na outra uma série de ideias do que pensam sobre elas próprias e sobre a outra, mas também sobre o mundo em que vivem.

— Mira? Como é que… como é que… como é que se sabe quando se gosta? Quem é que diz que a gente gosta?
Emira tinha a certeza de que a resposta correta de uma cuidadora de crianças certificada seria:
Tu vais descobrir, ou vai fazer sentido quando fores mais crescida. Mas Emira limpou o queijo da criança e disse-lhe:
— Essa é uma ótima questão. Devíamos perguntar isso à tua mamã.
Estava a ser sincera. Emira desejou que alguém lhe dissesse aquilo de que ela mais gostava. O número de coisas que ela podia perguntar à sua própria mãe diminuía a um ritmo alarmante.

Estava a correr tão bem até parecer um daqueles filmes de domingo da Fox Life… a escrita estava a ser interessante e meio engraçada, a história a desenvolver-se rápido, e depois não concretizou as impressões iniciais.

Em primeiro lugar, a Briar não parece ter dois anos. Tive de ir verificar a idade enquanto escrevia porque ela fala e age como uma criança um bocadinho mais velha. Pode ser maturidade, mas quanta maturidade consegue um bebé de dois anos?

Em segundo lugar, com tantos tópicos interessantes em que o livro toca, como é que consegue não resolver realmente nenhum deles, não criar conclusões, não fazer com que façam sentido ali? As versões de Alix e de Kelley nunca chocam diretamente, Alix nunca percebe as questões de privilégio racial, Emira basicamente admite que é uma falhada por aos 25 não ter a vida definida e a forma como resolve as questões com Alix é mesmo à moda de filme da Fox Life (aliás, a Alix criar aquela situação já indica isso mesmo).

A sensação que me fica é a de que o livro não fica bem resolvida. Assume-se, enquanto leitor, alguma parte, mas o resto parece que fica ali meio deixado ao acaso. Gostei de uma boa parte do livro, até ao jantar de Thanksgiving, depois acho que o livro me perdeu.

Título original: Such a Fun Age
Título em português: Os Melhores Anos
Autora: Kiley Reid
Ano: 2019 (PT: 2022)

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