eu não venho fazer um discurso [gabriel garcía márquez]

Tenho encarado a incursão na obra de Gabriel García Márquez com muita tranquilidade: é para ir lendo, com calma. Li-o pela primeira vez aos 17 anos, quando recebi Crónica de Uma Morte Anunciada, mas só voltei a ele quase três anos depois, na primavera de 2014. Dez anos depois, terminei o 11.º livro do Nobel colombiano e tenho uma certeza a partilhar: não sei quanto tempo vou demorar, mas é mesmo para ir a todos os livros publicados em Portugal. Todos.

Eu Não Venho Fazer Um Discurso é, como o título deixa antever, um livro que reune vinte e um discursos que García Márquez escreveu ao longo da vida, desde o primeiro, aos 17 anos, na escola secundária, ao último (um dos últimos?), aos 80 anos, que leu nas Academias da Língua, perante os reis de Espanha, em 2007.

a grande premonição de um continente ainda por descobrir, no qual a morte há de ser derrotada pela felicidade, e haverá mais paz para sempre, mais tempo e melhor saúde, mais comida quente, mais rumbas saborosas, mais de tudo o que é bom para todos. Em duas palavras: mais amor.

A prova de que se leria qualquer coisa escrita por García Márquez está também neste livro de discursos. Lê-se tranquilamente, nota-se como o escritor ganhou à-vontade como orador e torce-se para que ainda exista, por aí, muita escrita de García Márquez para descobrir. Os discursos abordam a escrita, a literatura e o jornalismo, muitas vezes lembrando amigos, como Julio Cortázar e Álvaro Mutis.

São discursos simples, mas que acabam, muitas vezes, por levantar pontos interessantes sobre os quais pensar. Gostei particularmente do discurso dedicado ao Jornalismo — o jornalismo aprende-se fazendo-o — porque acho que, curiosamente, ainda poderia ser proferido hoje e não ficaria assim tão desatualizado.

À medida que vou lendo mais de García Márquez sinto que entro numa sala privada, destinada àqueles que estão disponíveis para tentar compreender um bocadinho mais sobre a forma como este escritor via o mundo. É um privilégio, claro, mas também é um gosto. É sempre uma viagem que não sabemos como terminará, mas sabemos que nos deixará alguma marca.

Título original: Yo no vengo a decir un discurso
Título em português: Eu Não Venho Fazer um Discurso
Autor: Gabriel García Márquez
Ano: 2010 (PT: 2015)

eu não venho fazer um discurso Gabriel García Márquez

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