Não leio muitos thrillers e policiais, mas, dentro do género, aqueles de que mais gosto são os que pertencem ao subgénero dos capítulos curtos e ritmo frenético. Se a isso juntarem o professor-universitário-vira-assistente-de-investigação e temas-religiosos-políticos-atuais então eu estou lá. Que é como quem diz: ainda tenciono terminar a saga do Dan Brown e li vários do José Rodrigues dos Santos. O suficiente para andar de olho no Nuno Nepomuceno há vários anos. Quando a Andreia o escolheu como autor de novembro do Alma Lusitana decidi que esperaria por essa altura para o ler e aproveitei o facto de vários livros estarem disponíveis no Kobo Plus. Escolhi começar a série Afonso Catalão e parti para A Célula Adormecida.
Este livro segue a receita supra-citada: Afonso Catalão é um professor universitário solitário da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Especialista em Política, é chamado a falar sobre os acontecimentos mais recentes de Lisboa: um miúdo fez-se explodir num autocarro no Marquês de Pombal e o autoproclamado Estado Islâmico assumiu autoria dos ataques. Passado durante o mês do Ramadão, a história liga Afonso Catalão a Diana, jornalista destemida que o entrevista e que pretende investigar o alegado suicídio do homem que tinha acabado de vencer as eleições legislativas, inclui a família de refugiados que fugiu da Síria e perdeu a mãe no Mediterrâneo e não deixa de lado o imã da mesquita lisboeta.
No início estava a gostar do livro e da escrita, mas o livro acabou por não funcionar totalmente para mim. A estrutura é exatamente como eu gosto de ler neste tipo de livros e achei positivo não haver tantos comentários machistas como muitas vezes acontece neste género, no entanto em certos momentos senti que a escrita precisava de ser mais limada em vários pontos. Por um lado, gostei do contexto político e gosto mesmo de livros com este tipo de estrutura. Também é fácil criar empatia com as personagens e a atualidade dos temas cativa logo. Por outro lado, acho que faltava uma edição melhor, houve várias cenas que não funcionaram para mim e que acho que podiam estar mais bem escritas — ou não acrescentam qualquer relevância à história ou criam estereótipos ou fazem cair por terra alguns detalhes da personalidade das personagens. Sinto que passei as últimas 150 páginas irritada com as escolhas do autor e acho que só depois de me esquecer dessa sensação poderei pensar em voltar a ler algo dele. Não fui tudo mau, mas aquelas cenas conseguiram estragar aquilo de que tinha gostado.
Título original: A Célula Adormecida
Autor: Nuno Nepomuceno
Ano: 2016 (edição Cultura: 2020)
Lido entre: 1 e 6 de novembro de 2024
Gatilhos: racismo e discriminação, saúde mental, luto, violência, violação, guerra, machismo, autoflagelação, discriminação religiosa, terrorismo