munique: um pocinho de caos para guardar para sempre

Não sabia se iria escrever sobre Munique. Claro que queria deixar bem marcada a minha primeira grande viagem internacional para lá da The Eras Tour, mas primeiro demorei uns dias a processá-la e depois comecei a adiar a escrita porque não sabia bem o que dizer ou como dizer. Também não fiz apontamentos sobre a cidade, algo que costumo fazer quando acho que vou querer escrever sobre algum lugar. Com o ano a chegar ao fim decidi que tinha mesmo de escrever sobre a ida à Alemanha, apesar de terem passado quatro meses. Mais vale tarde do que nunca, certo? Vamos então ao fim-de-semana na capital da Baviera.

Nunca nos meus sonhos mais loucos teria imaginado que a minha primeira viagem internacional a sério seria a Munique, mas estou muito contente por assim ter sido. Por aqueles dias, enviei pela newsletter uma reflexão onde falava sobre o privilégio de viajar e o que significava para mim estar em Munique e a verdade é que ainda considero um privilégio ter estado ali, apesar de (ou principalmente por) ter sido um pocinho de caos.

Planear (ou não planear) Munique

Correndo o risco de soar esotérica, sinto que Munique nos escolheu. Conseguir códigos para bilhetes da The Eras Tour exigiu golpes de sorte e Munique foi um deles. A Inn disse que tinha código e eu disse que se ela arriscasse eu arriscava com ela. A 12 de julho de 2023 ficou decidido que acabaríamos julho de 2024 em Munique. Até lá logo se veria o que nos reservava o futuro.

No início do ano, eu e a Inn reservámos hotel, completamente descansadas da vida, para podermos garantir a parte mais importante do resto da viagem: alojamento. Se tudo tivesse corrido como era suposto, eu teria chegado a Munique na sexta-feira ao início da tarde e a Inn chegava à noite. Sábado aproveitámos alguma coisa da cidade de manhã, tínhamos o concerto, domingo aproveitávamos mais qualquer coisa da cidade. Maaaaaaaaaaas…

Havia uma série de questões do meu lado que me fizeram adiar a compra do bilhete de avião. Não sei se cheguei a comentar com a Inn, mas houve ali uma altura em que pensei que não ia conseguir ir porque não sabia se ia conseguir ter margem financeira para pagar hotel e avião. Depois consegui, claro, mas continuava sem certezas sobre horários laborais de julho e, na semana em que me preparava para comprar o bilhete de avião, soube que ia começar um novo trabalho no dia 15… por isso lá se ia o plano de seguir para Munique na sexta-feira de manhã.

Se tivesse comprado os bilhetes meses antes talvez tivesse conseguido um bocadinho mais barato, mas também teria tido problemas de horários portanto foi o que foi. A Inn foi na sexta-feira à noite e eu no sábado de manhã. Não ia ser uma mudança de planos logísticos a mexer com o espírito do fim-de-semana.

A nível de voos, do Porto para Munique há dois voos por dia (o mesmo para o regresso). No caso da ida, ambos são de manhã, por isso optei pelo primeiro, às 6h15. Era o único que me dava uma boa margem de manobra. No regresso vim no último, às 21h20, visto que a outra opção era às 8 da manhã. Todas as opções são operadas pela Lufthansa.

Foi a minha primeira vez a andar sozinha de avião e a ter mais cuidados de logística de viagem, mas aí correu tudo bem e achei tranquilo todo o processo. Check-in online, passagem rápida pela segurança, espera tranquila (embora a morrer de sono). Calhou que dormi cerca de duas horas e pouco nessa noite, por isso estava arrasada. Consegui lugar à janela, sem ninguém imediatamente ao lado. Dormi uma hora e tal. Ainda assim, acho que só quando aterrei senti que tinha conseguido e estava ali, tudo havia de correr pelo melhor. Mal imaginava eu o caos que me esperava.

Assim que aterro, ligo os dados móveis e recebo uma mensagem da Inn a dar-me a morada de um hotel diferente daquele que tínhamos reservado. Só me disse que me explicava tudo assim que chegasse lá. Passou-me muita coisa pela cabeça: enganaram-se na marcação, o hotel é uma merda, fizeram overbooking. Não me passou pela cabeça aquilo que realmente aconteceu. Por isso lá desci eu ao metro, onde tive o meu primeiro impacto com o traço de personalidade alemã que mais me cativou: a falta de empatia.

Tenho de dizer que achei o sistema de compra de bilhetes de transportes uma confusão. As máquinas eram todas diferentes umas das outras, nem em inglês se percebia ao certo que tipo de bilhete comprar. Enfim… chego à máquina, começo a escrever o nome da estação para onde queria ir e surgem-me quatro opções. Como não queria ser a típica turista que faz asneira logo nos primeiros minutos, viro-me para um alemão ao meu lado e pergunto, em inglês, se me pode ajudar. Sei que estou mal habituada: aqui, quando alguém pede ajuda para comprar um bilhete de metro há sempre alguém disponível a ajudar. Em Munique não foi esse o caso, por isso ao meu “can you tell me which station is the right one?” ouvi um “I’m sorry, I have to think of myself now”.

Podes rir, porque não há outra reação possível. Não sei se lhe estava a pedir para me ajudar a comprar um bilhete de metro ou para não acabar comigo.

Acabei por escolher uma hipótese aleatória e como o preço era o mesmo que a Inn disse que tinha dado torci para estar tudo tranquilo e lá fui eu rumo ao centro e à aventura que ainda não sabia que a Inn tinha tido. A Inn entretanto esteve no podcast da Marta e do Ricardo, nossos companheiros de concerto, e falou um bocadinho sobre este fim-de-semana, mas, no fundo, o voo da Inn atrasou e ela deu por si na noite de Munique sem que o hotel lhe abrisse a porta e sem ter para onde ir. Posso rir de nervoso, mas ainda não sei bem como ela conseguiu a sorte de lhe darem guarida por uma noite e ainda conseguir outro quarto para nós.

Munique, dia 1: Mercados de rua, um calor abrasador, tour rápida pela cidade, The Eras Tour

Munique surpreendeu-me logo pelas cores. Primeiro, a viagem do aeroporto até ao centro da cidade faz-se com uma vista bonita, numa mistura entre indústria e campo. Depois, há a parte positiva de ficar em zonas antigas da cidade: a arquitetura é fenomenal, as cores dos edifícios são completamente diferentes e ao virar da esquina podemos perfeitamente cruzar-nos com algum pedaço de História.

Munique é uma cidade particularmente importante na História da Alemanha e da Europa e isso nota-se nas suas ruas. Como pessoa que devorou documentários e um ou outro livro sobre a II Guerra Mundial, a parte histórica mais recente é aquela que me diz mais, mas foi muito bom para mim poder, num só fim-de-semana, perceber o impacto real desta cidade noutros períodos históricos.

Foi em Munique que nasceu o partido nacional socialista alemão e foi lá que Hitler conduziu um golpe de estado falhado em 1929. O golpe falhou, ele esteve preso, mas sabemos o que se seguiu. Durante o tempo na prisão, Hitler escreveu Mein Kampf, saiu com ainda mais força e em poucos anos a Alemanha vivia em opressão. Apesar de encontrarmos constantemente locais ligados à história, a verdade é que, como sabemos, hoje em dia os símbolos ligados à ditadura são expressamente proibidos na Alemanha e depois da Guerra removeram todos os marcos, símbolos e projetos relacionados com aquela ideologia.

Ainda assim, caminhas por Munique e tens história por todo o lado, do Rathaus-Glockenspiel da Marienplatz aos leões da Odeonplatz. Como é óbvio, um fim-de-semana não dá para explorar a cidade por completo, no entanto sinto que conseguimos um bom equilíbrio.

Como cheguei perto da hora de almoço de sábado, depois de deixar as coisas no hotel, seguimos para o Viktualienmarkt, um mercado gigante onde se vende de tudo um pouco — pão, queijo, flores. É também um ótimo sítio para encontrar refeições rápidas e, por isso, foi a nossa escolha. No caminho para o hotel demos uma volta pequena por algumas das partes mais marcantes da cidade, às quais voltaríamos no dia seguinte, e passámos pelo Lidl para comprar um lanchinho para quando voltássemos do concerto e para termos algo para petiscar de manhã. Comprei um belo rolo de canela, nada a ver com os que encontro por cá. Este era de uma massa alta e fofa, tão, mas tão bom que ainda me sinto ofendida por o Lidl não os vender cá.

Depois foi entrar em modo swiftie e seguir para o Olympiapark.

Munique, dia 2: de manhã inverno, à tarde verão

Se no sábado estava um calor terrível, domingo começou com chuva e trovoada… ou não tivéssemos nós tido um rain show! A chuva manteve-se durante toda a manhã, mas nós tínhamos uma free walking tour marcada e não ia ser uma chuvinha que nos ia demover.

Por termos tempo limitado na cidade, este tipo de tour fez-me todo o sentido. Íamos conseguir ver a cidade, ter a experiência de ter um guia a dar-nos contexto e, com sorte, ainda descobríamos uma ou outra pérola da cidade.

A tour começou na Marienplatz, levou-nos de novo ao mercado, apresentou-nos a catedral, fez-nos caminhar pela cidade velha até Odeonplatz e terminou no Hofgarten, onde voltámos depois de almoço.

 

Como tudo fecha ao domingo, as opções podem ser reduzidas. Para podermos ter uma experiência mais completa concordámos que seria interessante almoçar comida típica da Baviera e escolhemos o Nuernberger Bratwurst Gloeckl am Dom, junto à catedral.

O menu incluiu uma bela salsicha da Baviera com smashed potatoes para mim e almôndegas com batatas assadas para a Inn, com doses muito bem servidas. Além da comida, algo que me despertava curiosidade era a cerveja, ou não fosse Munique a cidade do Oktoberfest. Há seis cervejas marcantes em Munique, sendo que cada restaurante (ou biergarten) serve uma marca específica. A preferida dos locais é a Augustiner e foi aquela que provei. Não querendo ferir suscetibilidades (desculpa, Super Bock!), mas gostei muito do sabor e sou capaz de ter dito que era a minha nova cerveja preferida.

Domingo à tarde no Englischer garten

Depois do almoço, Munique voltou ao sol e ao quentinho, mesmo a pedir para irmos aproveitar domingo como os alemães: em jardins. Voltámos do Hofgarten, mas apenas para o atravessarmos e chegarmos ao Englisher garten, um dos maiores parques do mundo.

Praticamente tudo está fechado ao domingo, mas isso não significa que não vejamos pessoas. Os jardins estão cheios de famílias a passear, pessoas a fazer piqueniques junto ao rio ou a passear os cães e ainda há quem aproveite para fazer surf (não estou a brincar, não). Há muita vida ali e é muito bonito de ver.

O melhor de Munique

Munique foi um bocadinho caótico do início ao fim, mas gostei da cidade e gostei muito da experiência da The Eras Tour ali… excepto do momento em que achei que ia cair para o lado e não ia ver o concerto. Mas, para mim, o melhor foi poder dividir esta experiência com a Inn, alguém que acompanho há anos a falar de viagens. Se há companheiro de viagem que vale a pena é aquele que vai sempre recheado de curiosidades e de ideias para partilhar.

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