Quando penso em como a maior parte dos meus amigos vieram do online não deixo de me sentir fascinada: tive muita sorte. Nem todas as relações platónicas do digital conseguem concretizar-se fora dos ecrãs — ou não são reais, ou são pessoas mal intencionadas, ou simplesmente não é para acontecer. Claro que sinto que a sorte não foi só por os meus amigos serem bons; também tive sorte porque nunca tive casos como os de alguns miúdos de hoje em dia, presos no digital, nos likes, em pessoas cuja cara nunca viram.
Em O Amigo Pedro é um desses miúdos. Louco com o seu estatuto de criador de conteúdos literários, Pedro podia ser um adolescente como os outros: o ambiente em casa é cada vez mais complicado, na escola é vítima de bullying e sente-se afastado de todas as pessoas que o rodeiam, algo que acha acontecer por ser homossexual. Cada vez mais solitário, conhece, online, Gonçalo, um novo amigo que finalmente é compreensivo, presente, atento. O amigo necessário para quando tudo parece estar em ponto de rutura… ou não?
A premissa, para mim, é fascinante: é um tema atual e é impossível não nos perguntarmos se, um dia, a inteligência artificial poderá substituir os humanos e, podendo, até que ponto o consegue fazer. No entanto, a concretização deixou alguns pontos a desejar. Um desenlace apressado seria suficiente para me fazer dizer que há situações que não resultam tão bem, mas não é só o desenlace e algumas questões não me parecem bem desenvolvidas — o sentimento de culpa perante o divórcio dos pais, a relação com o pai e até o constante ruminar sobre ser criador de conteúdo literário. Infelizmente, a revisão também falha em vários momentos, pelo que fica a sensação de que o potencial era muito, mas não se conseguiu concretizar por completo. Talvez com mais tempo para amadurecer ideias e explicar melhor certas motivações.
Título original: O Amigo
Autor: Diogo Simões
Ano: 2024
Lido em: 14 de dezembro de 2024
Gatilhos: bullying, violência, linguagem explícita, saúde mental