Uma das coisas mais fascinantes do branding é perceber como ele funciona na perfeição, há anos, e marcas que mal precisaram de conhecer este termo inglês para implementar os seus ensinamentos. São aquelas marcas que resistiram aos desafios do tempo, se reinventaram e já são mais do que uma empresa de qualquer coisa. No fundo são o sonho de qualquer empresa: uma referência não só na área em que atuam, mas em qualquer outra área.
O branding tem sido um tema que me tem interessado de forma crescente, principalmente porque, a nível de trabalho, noto cada vez mais a necessidade de o marketing pensar o branding como um ponto fundamental separado, mas com uma necessidade de visão estratégia holística.
A nível nacional acho que a Delta é uma das empresas com branding mais trabalhado, mas, em Marcas que Fazem Portugal, Margarida Vaqueiro Lopes não se fica fica pela branding e escolhe, neste pequeno ensaio publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, destacar algumas marcas nacionais que são mais do que marcas. A Delta é uma delas, mas também há um capítulo dedicado à Renova, ao Mateus Rosé, às Sanjo, à Vista Alegre e até às pastas dentífricas Couto.
Na introdução a autora dá uma visão mais teórica e alargada do conceito de marca e do seu impacto a nível publicitário, mas também como uma marca passa a ser algo que usamos para dizer aquilo que somos — ou que queremos mostrar. Nesta economia global, no entanto, a valorização das marcas nacionais tem sido, também ela, uma posição que os consumidores querem marcar. Aqui, Margarida Vaqueiro Lopes afirma ter tentado escolher marcas de maior diversidade de setores possível, seguindo critérios como: falarem de Portugal, terem antiguidade, terem algum tipo de protagonismo Internacional de exemplos de inovação e consistência, além de terem saúde financeira.
Ao longo dos meus anos como jornalista, tive o privilégio de conhecer e acompanhar muitas em- presas, gestores e negócios, e de aprender como todos eles carregam consigo um pouco da História, passada e futura, de Portugal. Este território é feito de perfis, gentes e produtos tão diferentes que devem ser valorizados pela sua capacidade de reinvenção, resiliência e adaptação a um mundo que teima em andar cada vez mais rápido, alterando paradigmas a uma velocidade estonteante. É por isso que contar a história destas marcas se torna tão importante: porque são elas, afinal, que nos dão o conforto da certeza, mesmo quando o mundo teima em baralhar-nos. Além disso, este exercício de olhar para o que de melhor se faz no nosso país há tantos anos séculos, em alguns casos pode ajudar-nos a relativizar o período mais conturbado que atravessamos. Afinal, temos muito de que nos orgulhar.
Um ponto de que gostei do livro foi, de facto, haver diversidade de marcas, embora nem todas fossem uma referência para mim. Talvez por nem todas serem minhas conhecidas e/ou não me dizeren tanto, houve capítulos que não me interessaram muito.
Acho que este é um bom livro para quem se interessa por marketing, publicidade, branding ou negócios, principalmente a nível nacional, mas não te esqueças de que este é quase um resumo de cada marca escolhida. Não pretende ser um relato detalhado, mas sim um compêndio, um traço geral.
Fora isso, é, sem dúvida, uma perspetiva interessante para perceber a variedade de marcas de sucesso em Portugal e a forma como se foram sustentando ao longo dos anos para manter novidade e até tentar chegar a outros mercados. Há uma certa tendência portuguesa de desvalorizar o que é nacional, mas estas marcas não só contrariam a tendência como parecem ultrapassá-la e testar a resistência portuguesa. Pensando até numa outra tendência, que é a das pessoas que querem ter um negócio próprio, talvez perceber o desafio que outros negócios tiveram seja um bom ponto de partida para estudo de mercado.
Título original: Marcas Que Fazem Portugal
Autora: Margarida Vaqueiro Lopes
Ano: 2024
Lido em: 31 de dezembro de 2024