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A Mafalda Santos foi uma adição extra ao nosso desafio de autores para 2025, já janeiro ia na sua 22.ª semana. Quando ambas aproveitámos a promoção da Bertrand para comprar o novo livro, Aquilo Que o Sono Esconde, e receber de oferta o primeiro livro da autora, não me pareceu descabido sugerir que a adicionássemos à lista. Felizmente, a Andreia adere às minhas ideias loucas sem pensar muito no assunto.

Aquilo Que o Sono Esconde tem como protagonista Jaime, um analista de seguros especializado em processos de acidentes de viação. Um desses processos é de uma mulher que teve um acidente, ficou tetraplégica e o tribunal determinou que deve receber largos milhares de euros. Confrontado com a decisão do tribunal, Jaime decide que quer rever todo o processo. Perdido nas horas, sai tarde do trabalho e, deixando as chaves de casa lá, vagueia pela cidade até dar por si num baile de máscaras para o qual não foi convidado — embora pareça o convidado de honra. O problema é que, depois deste baile, percebe que perdeu a capacidade de dormir.

Não sei como dizer isto de outra forma: Mafalda, adoro estas histórias loucas que tens para nos contar! Gosto destas narrativas aparentemente simples, com personagens bem construídas, que depois partem para algo meio sobrenatural de forma estranhamente natural. A escrita da Mafalda é tão boa e apelativa, que se torna impossível não devorar o que escreve.

Neste caso gosto particularmente da forma como, num livro não muito extenso, a Mafalda nos apresenta uma personagem tão bem construída como o Jaime, que, não fosse a componente sobrenatural da história, podia perfeitamente desenvolver um distúrbio de sono só pela sua história de vida. Claro que a componente sobrenatural dá um extra interessante à narrativa, ligando as personagens, mas o mais fascinante acaba por ser a maneira como a Mafalda aborda os distúrbios do sono e até envolver alguma crítica social numa história que, à primeira vista, podia não ter tantas camadas.

Enquanto escrevia sobre o livro, saiu uma entrevista da Mafalda à Fnac em que ela explica que fez uma grande pesquisa sobre teorias ancestrais do sono, incluindo mitologias associadas ao sono. Acho o sono muito curioso — desde sonhos a distúrbios — porque também é algo sobre o qual ainda falta descobrir muito e, por isso, gostei especialmente de ver um distúrbio de sono retratado de forma tão real e ao mesmo tempo tão sobrenatural.