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Comprei Vista Chinesa numa tarde de domingo de setembro. Estava farta de estar fechada em casa e, por isso, fui fechar-me num centro comercial, numa das zonas dos livros. Este livro da Tatiana Salem Levy, baseado numa história real, era uma das escolhas daquele mês no Clube do Livra-te e ainda pensei que iria participar, mas admito que, apesar de ser um livro curto, o tema me demoveu.

Vista Chinesa conta a história de Júlia. Antes de uma reunião importante, Júlia decide sair para correr, de tarde, subindo para a Vista Chinesa, um miradouro no parque da Tijuca, no Rio de Janeiro. Completamente desligada daquilo que acontece à sua volta, Júlia é interpelada por um homem que lhe aponta uma arma e a arrasta para o meio da mata. Agora, anos depois, Júlia decide escrever aos filhos para lhes contar aquilo que viveu.

Agora, ao contar essa história para vocês, me dou conta de que o luto é assim: a gente enterra na floresta, enterra na análise, enterra no trabalho, enterra na vida que segue, mas há sempre uma parte que volta.

Foi a minha estreia na escrita da Tatiana Salem Levy e gostei muito — já quero ler Melhor Não Contar. Há uma certa objetividade na escrita dela que me agradou, mesmo não sendo algo que funcione sempre bem em ficção literária.

Aquilo que mais me salta à vista neste livro é o facto de parecer haver um distanciamento entre a narradora e aquilo que conta. Este distanciamento podia denunciar um livro superficial, mas não é o que acontece. Interpretei o distanciamento como uma forma de a narradora pensar mais logicamente sobre o que lhe aconteceu, juntamente com uma espécie de filtro porque, como a própria diz, há coisas que não contamos a ninguém.

Título original: Vista Chinesa
Autora: Tatiana Salem Levy
Ano: 2021
Lido entre 12 e 13 de abril de 2025

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