assim, mas sem ser assim Afonso Cruz

Depois de terminar Assim, Mas Sem Ser Assim tive curiosidade e fui ver quantos livros do Afonso Cruz já li. Tenho sempre ideia de que li pouco e, se calhar, considerando a vastidão da obra dele, até li, mas, ainda assim, acho que este ser o sexto livro que leio é um feito. Embora já esteja a pensar no próximo (O Vício dos Livros II, que sai no fim de maio) e ainda tenha outro pendente, escolhi este livro na minha primeira tarde de férias. Queria ler algo curto e tranquilo, só para começar a desligar do trabalho.

Assim, Mas Sem Ser Assim é um dos livros juvenis do Afonso Cruz que começa com uma questão simples do narrador: «O meu pai diz que passo muito tempo em casa, diz que devo comunicar com as pessoas, e eu, claro, obedeço porque o meu pai costuma dar bons conselhos e usa barba. Muito bem, disse-lhe eu, mas o que significa misantropo?» Decidido a comunicar mais com as pessoas, o narrador vai descobrindo as personagens que compõe o seu prédio, com uma série de reflexões interessantes sobre comunicação, mas também sobre as particularidades de cada um de nós.

A comunicação com a pessoa do 7A foi muito mais difícil, já que ele passa a vida sozinho e não abre a porta a ninguém, exceto à pessoa que entrega as cartas. Julgo que ele deveria sair mais de casa e comunicar. Deve ser misantorto. A pessoa do 7A abriu a porta e mandou-me tirar o dedo da campainha, o que foi um alívio, pois já estava naquela posição há, segundo o meu relógio, quatro minutos e vinte e três segundos. Sentei-me no sofá da sala desta pessoa, que é poeta, e ela comunicou-me o seguinte:
A minha inspiração não gosta de ter pessoas à volta.
Quando alguém chega, ela desaparece.
(Compreendo, pensei, uma vez vi a felicidade a esconder-se atrás de um bolo.)

Aquilo que mais aprecio na escrita do Afonso Cruz é o facto de ser uma simplicidade fascinante, mesmo que traga muitas camadas implícitas. Neste livro, a simplicidade pode confundir-se com adaptação da linguagem para o público-alvo a que se destina, mas as suas interpretações permitem que qualquer pessoa o leia e tenha uma interpretação que não anula as outras interpretações.

O facto de nos desafiar a estar mais atento aos outros torna este livro uma boa recomendação para qualquer idade. No fundo, todos somos um bocadinho misantortos.

Título original: Assim, Mas Sem Ser Assim
Autor: Afonso Cruz
Ano: 2013
Lido em: 17 de abril de 2025

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