Porto nos recantos do passado Germano Silva

Aqui há dias, em conversa com a minha mãe, falávamos sobre as raízes familiares que temos aqui no Porto. De forma muito resumida, os Costa Lima têm ascendência nortenha, com ligação ao Porto, e foi precisamente sobre isso que falámos — como não só em forma de ser, mas também em forma de estar sempre nos sentimos muito próximas destas origens familiares que não conhecemos. Dizia-lhe eu que devia ser por isso que sempre tinha sentido necessidade de vir para aqui. A necessidade era tanta que acho que usei Porto: Nos Recantos do Passado como arma de manifestação.

Comprei-o em janeiro de 2021, semanas antes de me candidatar ao mestrado na Faculdade de Letras. Tinha começado aquele ano a pedir ao universo que me trouxesse para aqui, já chegava de brincar às casinhas, era preciso trazer-me a casa. Devia estar muito confiante porque comprei o livro, mas fui deixando de lado. Tinha de o ler quando já estivesse no Porto, quando esta já fosse a minha casa. Não é que o código-postal fosse obrigatório, mas o 4200 tem sido a minha morada há uns meses e finalmente fui descobrir as histórias que o Germano Silva tem para contar neste livro. Não, aparentemente nem Gaia nem a Maia serviam para poder ler.

A coleção de livros do Germano Silva sobre o Porto é um dos meus desejos de consumo/sonho de estante, visto que Germano Silva é um novo indissociável da História da cidade. Neste livro, inicialmente publicado em 2012, temos crónicas que permitem viajar ao passado do Porto, descobrindo nos locais de hoje os pormenores que ainda restam de outros tempos.

Logo na introdução, o autor diz que o livro foi «escrito para os que amam o Porto» e acho que só por essa condição, a de amar o Porto, este livro é obrigatório. Só para amarmos um pouco mais.

A verdade é que o Porto é aquela cidade que nos acolhe tal e qual como somos e nos abraça em toda a nossa essência, passado e presente, pronto a dar-nos futuro. Só me parece justo que façamos o mesmo por ele e, por isso, além de o descobrir no presente, acho fascinante descobri-lo no passado, conhecer as histórias que os lugares familiares ainda têm para nos contar, saber os pormenores que fizeram destes lugares aquilo que são hoje, desde a origem da Cantareira à formação das ruas junto ao Bolhão e à rua de Santa Catarina.

Desde que li o livro que soube que iria falar dele por estes dias, principalmente com a crónica Da Lapa fui ao Bonfim… a deixar-me tão maravilhada com a descrição desta parte tão bonita da alma portuense. Talvez este não seja aquele livro que corremos a recomendar a toda a gente.

Em vez disso, será o livro que guardamos como um segredo apenas revelado a quem se mostrar digno de confiança. É como os nossos lugares preferidos: só os mostramos a quem vale a pena, a quem se mostra merecedor das histórias que temos guardado. É para os que têm no foda-se um advérbio de intensidade, não resistem a uma francesinha, gostam de trocar vês por bês, encontram beleza no nevoeiro, e chegam à noite de 23 de junho certos de que não há noite mais bonita. Afinal, o «S. João do Porto é único. É o cheiro a gente e a manjerico; uma alegria irreprimível que se expande do coração das pessoas e sobe ao ar como um fogo de artifício.» É, definitivamente este livro é para os que amam o Porto.

Título original: Porto: Nos Recantos do Passado
Autor: Germano Silva
Ano: 2012
Lido entre 7 e 8 de junho de 2025

No responses yet

partilha a tua teoria...