- Quando: 11 a 13 de janeiro de 2024
- Gatilhos: saúde mental; conteúdo sexual
Apesar de ser leitora das crónicas do Miguel Esteves Cardoso, tinha uma falha para com ele: só tinha lido um livro dele que não fosse de crónicas (O Amor é Fodido). No início da pandemia achei que precisava de mudar isso e comprei A Vida Inteira. Nunca lhe cheguei a pegar, mas agora, investida em limpar a estante e com saudades de o ler (está bem que o leio no Público, mas não é a mesma coisa), decidi que ia lê-lo logo no início do ano. Antes de prosseguir, queria só deixar uma mensagem à Sofia de 2020: olha, devias ter comprado outro. Má escolha, amiga, má escolha.
Em A Vida Inteira temos uma história narrada por uma alma. Até aqui tudo bem. É uma alma antiga, que deambula pelo mundo entre objetos e corpos. Tudo certo. Até que se apaixona por Eva, uma rapariga que não consegue esquecer o passado e que lida com uma mente difícil. Com recurso aos versos de Camões, o livro fala muito sobre desejo, vários tipos de desejo.
É ansioso. Até aqui, tudo bem. Mas a ansiedade também não é assim tão grande que chegue para amar alguém. Gosta muito dela. Isso sim. As pessoas têm a mania de denegrir o gostar, porque não adivinham a sua raridade.
Vou ser sincera: em poucas páginas percebi que não ia gostar do livro. Apesar de também haver uma certa esquizofrenia em O Amor é Fodido, senti que A Vida Inteira foi escrito numa espécie de alucinação e gostava de saber o que é que o MEC fumava naquela altura. Pronto, estou a brincar nesta última parte, mas de facto não consegui gostar da história nem da escrita. Senti que estava a navegar em algo só para perceber até onde chegava, sem qualquer forma de aproveitar a viagem ou de gostar dela. Tenho pena, porque gosto muito das crónicas dele e O Amor é Fodido continua a ter um lugar especial no meu coração, mas não fiquei com vontade de explorar mais da obra de ficção do autor. Voltarei sempre às crónicas (aliás, quero lá voltar este ano), mas se calhar ficamos por aí.
Um livro alucinado, sem dúvida. Na altura em que o li, até gostei da experiência, se calhar andávamos a fumar o mesmo 😂 brincadeira à parte, continuo a preferir o MEC das crónicas, porque acho que é aí que ele brilha (O Amor é Fodido é a exceção)
Não conhecia este também. Obrigada pela partilha 🙂