- Quando: 13 a 15 de janeiro de 2024
- Gatilhos: violência; luto; saúde mental; guerra
Primeiro foi o Jack Edwards a dizer que este se tinha tornado um novo favorito. Depois foi a Rita da Nova a dar a entender que este livro era realmente especial. Por fim fui eu a comprá-lo e a esperar o momento de descobrir A Ilha das Árvores Desaparecidas, uma ficção histórica com algum realismo mágico, da Elif Shafak.
A Ilha das Árvores Desaparecidas é uma história que começa no Chipre, em 1974. Numa ilha dividida entre gregos e turcos, Kostas e Defne encontram n’A Figueira Feliz, uma taverna única, o refúgio para o amor proibido que vivem. Nesta taverna, bem no centro da divisão, cresce uma figueira no interior. Gregos e turcos não se misturam e estão prestes a entrar em guerra, com uma forte presença britânica em todo o conflito. Não fazia ideia desta componente histórica do país, por isso todo o livro acaba por contar a história de Kostas e Defne, mas também de uma ilha dividida por aquilo que todos ainda conhecemos tão bem: religiões e crenças diferentes.
Seguimos do Chipre para Londres, na década de 2010, onde Ada, uma adolescente, se depara com o facto de nunca ter conhecido a ilha onde nasceram os pais e onde viveram os seus ascendentes. A única ligação que tem ao Chipre é a figueira que cresce no seu jardim. Ada sente-se ainda mais isolada, sem saber de onde vem, onde pertence.
Ninguém se apaixona em plena guerra civil, quando se vive no meio da carnificina e rodeado de ódio por todos os lados. Foge-se, tão depressa quanto as pernas conseguem carregar os medos, em busca da sobrevivência básica e nada mais. […] Não se abraça a esperança quando a morte e a destruição reinam. Não se põe o melhor vestido e uma flor no cabelo quando se está rodeada de ruínas e estilhaços. Não se entrega o coração numa altura em que os corações devem permanecer selados para os que não têm a mesma religião, a mesma língua, o mesmo sangue.
A Ilha das Árvores Desaparecidas conquistou-me em vários aspectos. Primeiro pela forma como nos leva, devagarinho, para o Chipre e nos apresenta a ilha pelas suas paisagens, comida e pessoas. Depois pelas narrações feitas pela figueira, porque aqui a figueira também é personagem. Por fim pela escrita, muito simples, muito bonita e, ainda assim, tão rica em conhecimento.
Este livro é, essencialmente, uma história sobre pertença e achei muito bonita a forma como a figueira e as suas raízes serviram até para fazer essa ligação entre as raízes das árvores e as raízes das pessoas, sobre como não podemos fugir às nossas raízes, mas podemos transplantar-nos. A figueira torna-nos, de facto, conhecedores de uma série de detalhes da história de Chipre e também da história de Kostas e Defne.
Não conhecia mesmo nada da história cipriota e tenho gostado cada vez mais de ler ficção histórica do século XX, principalmente do pós-Segunda Guerra. Sinto que ainda são conflitos que marcam a atualidade (gregos vs. turcos, católicos vs. muçulmanos), num mundo onde os efeitos do colonialismo ainda estão à flor da pele, e onde percebemos cada vez mais que nem todas as feridas saram ao mesmo tempo e que há dores que ultrapassam gerações. Acima de tudo, lembra-nos de que somos feitos também da matéria que fez os nossos ascendentes, mesmo quando eles preferem não revelar as suas raízes.
Título original: The Island of Missing Trees
Título em português: A Ilha das Árvores Desaparecidas
Autora: Elif Shafak
Ano: 2021 (PT: 2022)
Há-de chegar o meu momento de também ir descobrir este livro. Estou mesmo curiosa *-*
Não conhecia, mas gostei da capa 🙂