- Quando: 20 de janeiro a 8 de fevereiro de 2024
Estou aqui a olhar para esta página e a pensar em como vou falar sobre este livro e acho que vou mesmo ter de falar da minha relação com a poesia desde os primórdios. Tive uma fase na adolescência em que escrevia poemas (que já não existem), mas o meu contacto na leitura de poesia era feito unicamente nas aulas de Português e tenho a dizer que não gostava particularmente dessas partes do programa. Sentia-me sempre incapaz de compreender as entrelinhas e descobrir os significados ocultos que os poetas queriam afinal partilhar. Questionava-me constantemente sobre se haveria realmente tanto significado ou se era tanga dos professores. Não li poesia durante anos depois de sair do secundário. A certa altura dei uma oportunidade à Rupi Kaur e não gostei. Aquela poesia parecia gira no Instagram, mas fora dele não me fazia sentido. Comprei Love Poems, do Pablo Neruda, no início de 2019, mas não lhe peguei durante dois anos. Mas talvez tenha sido aí que se deu uma abertura.
No outono de 2019 assinalei o centenário do nascimento de Sophia de Mello Breyner Andresen com um artigo para o blog da Bertrand. Na altura li a biografia da autora e a recordação do quanto sempre tinha sentido uma ligação com a obra dela na escola fez-me pensar que, se calhar, até era interessante experimentar ler a poesia dela. Comecei pelo Geografia e uns meses depois fui ao Poesia. No ano seguinte fui ao Dia do Mar e decidi que chegava de livros individuais. Decidi que me aventuraria na Obra Poética assim que fosse possível. Em novembro decidi que ia ser a minha prenda de anos, de mim para mim.
Aprende
A não esperar por ti pois não te encontrarásNo instante de dizer sim ao destino
Incerta paraste emudecida
E os oceanos depois devagar te rodearam
Obra Poética reune, como o nome indica, toda a obra poética de Sophia num livro enorme, de 992 páginas. O livro começa com o prefácio escrito por Maria Andresen Sousa Tavares, filha da escritora, e uma introdução de Carlos Mendes de Sousa, responsável pela edição. Curiosamente, estas partes iniciais foram as que mais me custaram ler. O resto do livro dividi-se entre todos os livros de poesia que Sophia publicou e, no final, poemas inéditos.
Embarcar em Obra Poética é começar uma maratona que tem de ser encarada com tranquilidade. Para mim foram 20 dias, porque mais para o final decidi ler tudo de enfiada, já que estava prestes a terminar. Mas, durante o resto da leitura, li outras coisas ao mesmo tempo e reservava para a Sophia um bocadinho do meu dia. Todos os dias lia pelo menos um ou dois poemas.
Aos poucos tenho deixado a poesia entrar na minha vida sem a pressão de ter de a saber analisar ou compreender na totalidade. Aqui, por exemplo, senti que a carga mitológica de alguns poemas me impediu de os compreender totalmente. No entanto aquilo que quero da poesia é que ela me enriqueça o mundo e me encha a alma, não é que ela me traga questões de leitura e compreensão do exame nacional de Português.
Não me vou, por isso, atrever a fingir que tenho competências literárias para falar de poesia e vou resumir esta leitura em duas palavras: obrigada, Sophia! Encontrar-te-ei em Prosa assim que for possível.
Título original: Obra Poética
Autora: Sophia de Mello Breyner Andresen
Ano: 2010 (li a edição de 2015)
Tenho uma relação com a poesia um pouco semelhante. Mas é giro perceber que Sophia esteve sempre presente, mesmo quando eu não era tão regular a abraçar este género.
Que viagem maravilhosa *-*
Já me devo ter cruzado com este livro, mas nunca li.